Algumas pessoas parecem perplexas quando um católico cita a sucessão de papas na cátedra de Roma desde Pedro, como se fosse tal dado uma coisa de credibilidade duvidosa ou como um mito ou historieta qualquer, que surgiu muitos séculos depois como uma forma de justificar o poder político de uma instituição. Pois bem… Decidi, em razão disso, apresentar alguns textemunhos – não muitos – de cristãos piedosos ou de historiadores do passado, afirmando a sucessão petrina de Roma como uma verdade amplamente difundida e bem aceita pelos cristãos desde o princípio. O primeiro exemplo que citaremos é Santo Irineu de Lyon:
SANTO IRINEU DE LYON
Ícone de Irineu de Lyon por Χρήστος Ν. Λιόνδας
Fonte: Aristotle Papanikolaou
(Licença Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication)
Santo Irineu, escrevendo entre os anos 175 e 190, pouco tempo após sua estadia em Roma, apresenta uma série de nomes de bispos que ocuparam a cátedra de Roma, começando por São Pedro até o pontificado de Papa Eleutério em sua obra Contra as Heresias 3. Lembrem-se que Irineu viveu num período bem próximo ao dos apóstolos, chegando a citá-los, além de fazer menção de pessoas que viram os apóstolos cara a cara e foram ensinados por eles. Não devemos esquecer também que Irineu trata de apresentar Roma como tendo uma situação de proeminência e honra, além de citar acontecimentos daquele período, como a dissensão entre os coríntios:
Mateus também divulgou entre os hebreus um Evangelho escrito em sua própria língua, enquanto Pedro e Paulo evangelizaram Roma e lançaram os fundamentos da Igreja.
Contra as Heresias III, 3:1:1, ano 180-189 d. C.
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A sucessão de Bispos da maior e mais antiga Igreja conhecida de todos, fundada e estruturada em Roma pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo – aquela Igreja que tem a tradição e a fé que chega a nós após ter sido anunciada aos homens pelos apóstolos. Pois é uma questão de necessidade que todas as igrejas devam CONCORDAR COM ESTA IGREJA, por causa de sua autoridade preeminente [potiorem principalitatem].
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Os abençoados apóstolos [Pedro e Paulo], TENDO FUNDADO E EDIFICADO A IGREJA, entregaram o ofício do episcopado a Lino. Deste Lino, Paulo faz menção nas Epístolas a Timóteo. A ele sucedeu Anacleto; e depois dele, em terceiro lugar dos apóstolos, Clemente foi designado para o bispado. Pode-se dizer acerca desse homem, que pelo fato de ele ter visto os abençoados apóstolos e conversado com eles, ele possuía a pregação dos apóstolos ainda ecoando [em seus ouvidos] e suas tradições diante de seus olhos. Ele também não estava sozinho com respeito a isso, pois ainda restavam muitos que haviam recebido instruções dos apóstolos. No seu tempo, houve uma não pequena dissensão entre os irmãos de Corinto, e então a Igreja em Roma enviou uma carta muito poderosa aos coríntios, exortando-os à paz, renovando sua fé e declarando a tradição que havia recebido há pouco tempo dos apóstolos […] proclamando o único Deus, onipotente, o Criador do céu e da terra, o Criador do homem, que trouxe o dilúvio e chamou Abraão, que conduziu o povo da terra do Egito, falou com Moisés, o Deus que estabeleceu a lei, enviou os profetas, e que preparou um fogo para o diabo e para seus anjos. Quem assim o desejar, poderá aprender com esse documento [a epístola de Clemente] que Ele, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, foi pregado pelas Igrejas, e assim tal homem poderá também compreender a tradição apostólica da Igreja, visto que esta Epístola é mais antiga do que estes homens que agora propagam a falsidade e que conjuram a existência de outro deus além do Fundador e Criador de todas as coisas existentes. A este Clemente sucedeu Evaristo… seguiu a este Alexandre… então, o sexto após os apóstolos, Sisto foi nomeado… depois dele Telésforo, o qual foi martirizado de forma gloriosa… em seguida Higino… Depois dele Pio… Aniceto… Sotero sucedeu Aniceto…[e] Eleutério que agora retém a herança do episcopado, como décimo segundo na linha de sucessão desde os apóstolos. Nesta ordem, e por esta sucessão, a tradição eclesiástica dos apóstolos, bem como a pregação da verdade chegaram até nós. Esta é a prova mais abundante de que existe uma única fé vivificante, que foi preservada na Igreja desde os apóstolos até agora e transmitida em verdade.
Contra as Heresias III, 3:3:2-3, ano 180-189 d. C.
A DUPLA HONRA DE ROMA
Alguém pode dizer: mas Irineu cita tanto Paulo quanto Pedro. Ora, isso era comum em documentos assim, sobretudo quando se delineava o claro intuito do santo de validar a autoridade de Roma a partir de suas origens apostólicas. O desejo dele era enfatizar que não somente Pedro fundou aquela Igreja, mas além dele, o próprio Paulo. Isso, longe de diminuir o testemunho em favor de Roma, apenas o reforça. Demonstra que os primeiros cristãos entendiam a Sé Apostólica (como chamavam) como DUPLAMENTE honrada, já que já era motivo de excelência uma igreja ter seu alicerce e fundação lançado por um apóstolo, agora imagine dois!
EUSÉBIO DE CESAREIA
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Eusébio, em História Eclesiástica, traz mais de uma descrição da linha de sucessão desde Pedro. E vejam que, assim como Irineu, Eusébio não trata a questão como sendo ambígua ou passível de suspeita. Pelo contrário, fala do caso como uma questão indubitável e que não era objeto de controvérsia entre seus contemporâneos. Tratava-se de um fato que Pedro foi o primeiro Bispo de Roma:
EUSÉBIO DE CESAREIA, HISTORIADOR:
CAP. 2. Após o martírio de Paulo e de Pedro, Lino foi o primeiro a obter o episcopado da igreja em Roma. Paulo o menciona, ao escrever a Timóteo de Roma, na saudação no final da epístola.
CAP. 3: 3. Mas, no curso de minha história, terei o cuidado de mostrar, além da sucessão oficial, quais escritores eclesiásticos de tempos em tempos fizeram uso de qualquer uma das obras disputadas e o que disseram com relação aos escritos canônics e aceitos, bem como em referência aos que não são desta classe.
CAP. 4: 9-10. Quanto ao resto de seus seguidores, Paulo testifica que Crescens foi enviado à Gália; mas Lino, a quem ele menciona na Segunda Epístola a Timóteo 2 Timóteo 4:21 como seu companheiro em Roma, foi o sucessor de Pedro no episcopado da igreja ali, como já foi demonstrado. Clemente também, que foi nomeado 3º bispo da igreja em Roma, foi, como Paulo testifica, seu colaborador e companheiro de batalha.
CAP. 13. Depois que Vespasiano reinou dez anos, e Tito, seu filho, o sucedeu. No segundo ano de seu reinado, Lino, que havia sido bispo da igreja de Roma por doze anos, entregou seu cargo a Anacleto.
CAP. 15. No décimo segundo ano do mesmo reinado, Clemente sucedeu Anacleto depois de este último ter sido bispo da igreja de Roma por doze anos. O apóstolo em sua Epístola aos Filipenses nos informa que este Clemente era seu colega de trabalho. Suas palavras são as seguintes: “Com Clemente e com o restante de meus companheiros de trabalho cujos nomes estão escritos no livro da vida” (Filipenses 4: 3).
CAP. 21: 2-3. Naquela época, Clemente ainda governava a igreja de Roma, sendo também o terceiro que ocupou o episcopado depois de Paulo e Pedro. Lino foi o primeiro, e depois dele veio Anacleto.
CAP. 34. No terceiro ano do reinado do imperador mencionado acima [Trajano], Clemente confiou o governo episcopal da igreja de Roma a Evaristo, e partiu desta vida depois de ter supervisionado o ensino da palavra divina por nove anos ao todo.
História Eclesiástica, Livro III, ano 340 d. C.
DOIS FUNDADORES
Perceba que no capítulo 21 Eusébio diz:
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“Clemente ainda governava a igreja de Roma, sendo também o terceiro que ocupou o episcopado depois de Paulo e Pedro.”
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Eusébio usa a mesma argumentação que Irineu para tratar das origens de Roma, dizendo que Clemente fora o terceiro a ocupar o episcopado depois de Paulo e Pedro. Se você ler com pressa, parece esse capítulo sugerir que ambos, Pedro e Paulo, foram bispos de onde descende a autoridade da Igreja em Roma, todavia, antes disso, Eusébio havia declarado no capítulo 4: masLino […] foi o sucessor de Pedro no episcopado da igreja ali, como já foi demonstrado. E prossegue:
Clemente também, que foi nomeado 3º bispo da igreja em Roma…
Logo, Eusébio falava da fundação apostólica quando disse “ocupou o episcopado depois de Paulo e Pedro”, isto é, depois que ambos, os apóstolos, fundaram a Igreja. Mas de onde decorre a autoridade de seus sucessores? Fica muito claro quando ele chama Lino de sucessor de Pedro. Ele ficou demonstrado claramente ao dizer que o Bispo em Roma foi São Pedro, a quem Lino sucedeu, e isso num momento em que ele citava o fato de Lino ter sido companheiro de Paulo, ou seja, se ele fosse sucessor de Paulo, Eusébio teria dito. Mas não, o que ele disse foi: “[…] foi sucessor de Pedro” (cap. 4: 9). Leia novamente o trecho do capítulo 21 acrescentando a informação contida no capítulo 4: Lino [o sucessor de Pedro] foi o primeiro, e depois dele veio Anacleto.
MAIS DO HISTORIADOR EUSÉBIO:
Capítulo VI: Catálogo dos Bispos de Roma.
1. Os abençoados apóstolos tendo fundado e estabelecido a igreja, confiaram o ofício do episcopado a Lino. Paulo fala deste Lino em suas epístolas a Timóteo. [2 Timóteo 4:21]
2. Anencleto o sucedeu e, depois de Anencleto, em terceiro lugar a partir dos apóstolos, Clemente recebeu o episcopado. Ele havia visto e conversado com os abençoados apóstolos, e sua pregação ainda soava em seus ouvidos, bem como a sua tradição que ainda estava diante de seus olhos. Ele também não estava sozinho nisso, pois muitos que haviam sido ensinados pelos apóstolos ainda sobreviveram.
3. Nos tempos de Clemente, uma séria dissensão surgiu entre os irmãos em Corinto, a igreja de Roma enviou uma carta muito apropriada aos coríntios, reconciliando-os em paz, renovando sua fé e proclamando a doutrina há pouco tempo recebida dos apóstolos.
4. Um pouco mais adiante ele declara:
Evaristo sucedeu Clemente e Alexandre, a Evaristo. Então Xisto, o sexto a partir dos apóstolos, foi nomeado. Depois dele Telésforo, que sofreu gloriosamente o martírio; depois Higino; depois Pio; e então posterior a ele Aniceto; Sotero sucedeu a Aniceto; e agora, no décimo segundo lugar [contando a partir] dos apóstolos, Eleutero ocupa o cargo de bispo.
5. Na mesma ordem e sucessão, a tradição na Igreja e a pregação da verdade descenderam dos apóstolos até nós.
História Eclesiástica, Livro V, ano 340 d. C.
TERTULIANO

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É importante mostrar Tertuliano porque ele está bem próximo de Irineu em sua época, e muitos podem ver a data de História Eclesiástica, por volta do ano 340, e concluir que Eusébio adulterou os dados da sucessão oficial de bispos da Igreja de Roma a mando do Imperador Constantino (Para ver que isso não faz sentido, leia A Igreja Antes de Constantino). Então, quando tais pessoas encontram um autor tão antigo dizer a mesma coisa que Irineu e Eusébio, sem a desculpinha esfarrapada de que Constantino adulterou a fé da Igreja, tal dado ganha ainda maior peso. Acerca da descrição de Tertuliano, podemos notar, no entanto, que conforme ele, São Pedro consagrou o Papa Clemente, e não Lino. Aparentemente, Eusébio parece apresentar um detalhamento mais confiável, embora Tertuliano continue a linha de sucessão da maneira conhecida, isto é, a partir de Pedro. Ele, no entanto, pode ter se enganado acerca do próximo na linha de sucessão (já que Clemente é o 3º, como podemos constatar tanto na lista de Irineu quanto na de Eusébio). Ainda assim, no entanto, mesmo demonstrando certa imprecisão, ele sustenta a origem petrina:
Cap. 32. Que exibam as origens de suas igrejas, que desenrolem a lista de seus bispos, descendendo desde o início por sucessão, de tal maneira que seu primeiro bispo teve como originador e predecessor um dos apóstolos ou homens apostólicos; ao menos um, quero dizer, que tenha dado continuidade aos apóstolos. Pois é assim que as igrejas apostólicas registram suas origens. A igreja de Esmirna, por exemplo, relata que Policarpo foi colocado ali por João, a igreja de Roma que Clemente foi ordenado por Pedro. Da mesma forma, as demais igrejas levantaram homens que foram nomeados para o cargo de bispo pelos apóstolos e assim transmitiram a semente apostólica a eles. Deixe os hereges inventarem algo do tipo para si mesmos. Já são blasfemadores, não terão escrúpulos. Mas mesmo se eles inventarem alguma coisa, será inútil para eles. Se o seu ensino for comparado com o ensino dos apóstolos, as diferenças e contradições entre eles gritarão que sua obra não pertence à de nenhum apóstolo ou homem apostólico.
Prescrição contra os Hereges 32, ano 200 d. C.
Cap. 36. Vinde, vocês que desejam satisfazer uma curiosidade mais excelente, se vocês aplicarem-na à causa da vossa salvação, então percorram as igrejas apostólicas, nas quais os próprios tronos dos apóstolos ainda são preeminentes em seus lugares, nos quais seus escritos autênticos são lidos, proferindo a voz e representando o rosto de cada um deles separadamente. Acaia está muito próxima a vocês, (na qual) encontram Corinto. Como não estão longe da Macedônia, vocês têm Filipos; (e lá também) vocês têm os tessalonicenses. Sendo-vos possível cruzar para a Ásia, vocês obtêm Éfeso.Visto que, além disso, vocês estão próximos à Itália, vocês têm Roma, de onde provém até nossas mãos a própria Autoridade (dos apóstolos). Quão feliz é sua Igreja, na qual os apóstolos derramaram toda a sua doutrina junto com seu sangue! Onde Pedro suporta uma paixão semelhante à do seu Senhor! Onde Paulo é coroado com uma morte semelhante à de João, onde o Apóstolo foi mergulhado pela primeira vez, ileso, em óleo fervente, e daí enviado ao seu exílio na ilha (Patmos)! Veja o que ela (a Igreja de Roma) aprendeu, aquilo que ela ensinou, que comunhão ela teve até mesmo com (nossas) igrejas na África! Ela reconhece um só Senhor Deus, o Criador do universo, e Cristo Jesus (nascido) da Virgem Maria, o Filho de Deus o Criador; e a Ressurreição da carne; a lei e os profetas ela une num volume com os escritos dos evangelistas e apóstolos, dos quais ela bebe em sua fé. Isso ela sela com a água (do batismo), orna com o Espírito Santo, alimenta com a Eucaristia, anima com o martírio, e contra tal disciplina, de tal maneira mantida, ela não admite nenhum contradizente.
Prescrição contra os Hereges 36, ano 200 d. C.
SUCESSÃO APOSTÓLICA E ORIGEM PETRINA
Obs. Alguns fazem uso das imprecisões contidas em listas de papas para atacar o ensino católico. Ora, o que essas listas nos mostram de fato não é objeto de controvérsia: A noção da Sucessão Apostólica e a Origem Petrina da Igreja de Roma. Ou seja, embora haja muitas vezes algum erro quanto à ordem de algum papa, isso não muda as duas principais informações que essas listas nos proporcionam, as quais confirmam a verdade católica. Além do mais, a ênfase que os antigos escritores cristãos davam às origens apostólicas de uma Igreja, de forma a constituir uma prova cabal de validação da Verdadeira Igreja, não é algo discutível. E mesmo nas diferenças com respeito a eventuais trocas na ordem, tal fato ainda continua a evidenciar uma certeza indubitável com respeito aos personagens citados ali, os quais têm sua origem em Pedro, o primeiro Bispo de Roma. Que a ordem seja trocada vez ou outra, e Clemente assuma o lugar de Lino, ou que Anacleto seja citado duas vezes, isso pouco importa: o fato é que eles estão lá, e a origem de sua autoridade, conforme o robusto registro patrístico, é Pedro. Isso é um fato mantido pelas comunidades cristãs primitivas, comprovado a partir de muitos lugares e testemunhas, configurando-se num dado mais que contundente da descendência apostólica romana, com sua origem no apóstolo Pedro.
EPIFÂNIO
6,7 De qualquer forma, a sucessão dos bispos em Roma ocorre nesta ordem: Pedro e Paulo, Lino e Cleto, Clemente, Evaristo, Alexandre , Xysto, Telésforo, Higino, Pio e Aniceto, que mencionei acima, na lista. E ninguém precisa se surpreender com minha listagem de cada um dos itens com tanta exatidão; informações precisas são sempre fornecidas dessa maneira. (8) Então, no tempo de Aniceto, como eu disse, a Marcellina de que falei apareceu em Roma vomitando a corrupção do ensino de Carpócrates, e corrompeu e destruiu muitos lá. E isso deu início aos chamados gnósticos.
Panarion: Remédios contra Todas as Heresias 27:6, ano 375 d.C.
OPTATO DE MILEVE

Arte de Jacques Callot
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Optato foi um bispo no norte da África, que ao formular sua defesa da Igreja Católica contra os donatistas, embasou seu argumento no fato de que a origem do episcopado d Igreja de Cristo flui de Pedro, em Roma. Ao fazer isso, apresentou uma lista de papas desde Pedro até o momento de sua escrita (em meados dos anos 360). Quando ele atualizou seu livro por volta da década de 380, também atualizou a lista de papas. Santo Optato gozava de muita credibilidade, e chegou até mesmo a ser elogiado por Santo Agostinho.
II. Ele prova pela Cathedra Petri [Cátedra de Pedro] que a Cátedra, a qual é a primeira investidura da Igreja, pertence aos católicos, não aos donatistas.
Assim provamos que a Igreja Católica é a Igreja que está espalhada por todo o mundo. Devemos agora mencionar seus Adornos, e ver onde estão seus cinco Dotes (que você disse serem seis), no meio das quais a CÁTEDRA é a primeira; e, uma vez que a segunda Investidura, a qual é o ‘Angelus’, não pode ser acrescentado a menos que um bispo se assente na Cátedra, devemos ver quem foi o primeiro a se assentar na Cátedra e onde ele se sentou. Se você não sabe disso, aprenda. Se você sabe, envergonhe-se. A ignorância não pode ser atribuída a você – segue-se que você sabe. Para aquele que sabe, errar é pecado. Para aqueles que não sabem às vezes é possível que sejam perdoados. Você não pode então negar que sabe que a Pedro primeiro na cidade de Roma foi concedida a Cátedra Episcopal, na qual se sentou Pedro, o Cabeça de todos os Apóstolos (por isso foi chamado Cefas), que, nesta única Cátedra, a unidade deve ser preservada por todos, para que os outros Apóstolos não possam reivindicar – cada um para si – o direito de separar as Cátedras, de modo que aquele que estabelecesse uma segunda Cátedra contra a única Cátedra já seria assim um cismático e um pecador. Pois bem, em uma Cátedra, que é a primeira das Investiduras, Pedro foi o primeiro a sentar-se.
III. A Sucessão dos Bispos de Roma.
A Pedro sucedeu Lino, a Lino sucedeu Clemente, a Clemente Anacleto, a Anacleto Evaristo, a Evaristo Sixtus, a Sixto Telésforo, a Telésforo Hygino, a Hygino Anaceto, a Anaceto Pio, a Pio Sotero, a Soter Alexander, a Alexander Victor , a Victor Zephyrino, a Zephyrino Calixto, a Calixto Urbano, a Urbano Pontiano, a Pontiano Antero, a Antero Fabiano, a Fabiano Cornelius, a Cornelius Lucius, a Lucius Stephen, a Stephen Sixto, a Sixto Dionísio, a Dionísio Felix, a Felix Marcellinus, a Marcellinus Eusebius, a Eusebius Miltiades, a Miltiades Silvester, a Silvester Marcus, a Marcus Julius, a Julius Liberius, a Liberius Dâmaso, a Dâmaso Sirício*, que hoje é nosso colega, com quem ‘o mundo inteiro,’ através da troca de Cartas de Paz, concorda conosco em um vínculo de comunhão. Agora mostre a origem de sua Cátedra, você que deseja reivindicar a Santa Igreja para si mesmo!
Contra os Donatistas, ano 360-385
*Obs. Na primeira edição de São Optato, escrita por volta de 370 d.C. a lista dos Papas terminava com Dâmaso. O nome de Sirício, que se tornou Papa em 383, foi acrescentado na segunda edição.
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
Pintura de Johann Apakass
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Escrevendo à Igreja em Roma:
Eu não dou mandamentos a vós [romanos] como Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos; Eu sou apenas um homem condenado: eles eram livres, enquanto eu sou, até agora, um servo.
Carta aos Romanos 4:3, ano 110 d.C.
O Catalogus Liberianus (latim) é uma lista de bispos de Roma que termina no Papa Libério (ano 366 d.C.), de quem temos a referência para o nome. O Catálogo é uma obra de alguém que se utilizou de textos mais antigos para compô-lo, sendo parte de um manuscrito conhecido como Cronologia de 354. É possível perceber algumas trocas na ordem dos papas, como ocorreu na lista de Tertuliano. Clemente sucedeu Lino em 67 dC e Anacleto, o verdadeiro sucessor de Lino, aparece duplicado e seguindo Clemente, primeiro como Cleto e depois como Anacleto (os dois nomes indicam o mesmo bispo). Além disso, São Pio é apresentado como sucessor de Aniceto ao invés de seu antecessor. Segundo a Enciclopédia Católica, algumas dessas imprecisões podem ser resultado de erros de copistas. Há quem diga que o documento é fundamentado, em grande medida, numa obra do bispo Santo Hipólito de Roma (ano 235 d. C.), que foi perdida, a denominada “Chronica”.

Ela apresenta, apesar das imprecisões quanto à ordem exata do episcopado romano, alguns eventos confirmados historicamente por outros documentos. Há, por exemplo, uma tradição histórica forte em apoio à declaração do catálogo de que a administração eclesiástica em Roma foi reorganizada pelo Papa Marcelo após a grande perseguição Diocleciano. Marcelo I, eleito para ocupar o trono de Pedro em maio ou junho de 308, após a abdicação de Diocleciano em 305 e a ascensão em Roma de Maxêncio ao trono dos Césares em outubro do ano seguinte, foi levado a atuar quando num período em que a Igreja saía do fogo da perseguição para desfrutar de relativa paz. Ainda assim, no entanto, quando Marcelo ascendeu ao episcopado, encontrou a Igreja na maior confusão. Os locais de reunião e alguns dos cemitérios dos fiéis tinham sido confiscados, havia dissensões dentro da Igreja e muitos fracos haviam sido readmitidos à comunhão sem se confessarem e realizarem penitência. De acordo com o “Liber Pontificalis” Marcelo então dividiu a administração territorial da Igreja em vinte e cinco distritos (os tituli), nomeando sobre cada um deles um presbítero, que cuidava da preparação dos catecúmenos para o batismo e dirigia o cumprimento das penitências públicas. O presbítero também era responsável pelo enterro dos mortos e pelas comemorações da morte dos mártires.
Confira: Catálogo Liberiano em Português.
“Hic fecit cymiterium Novellae via Salaria et XXV titulos in urbe Roma constituit quasi dioecesis propter baptismum et poenitentiam multorum qui convertebantur ex paganis et propter sepulturas martyrum”.
A tradição seguida pelo catálogo com respeito à morte de Marcelo, no entanto, parece menos confíiável que a relatada nos versos do Papa Dâmaso, a qual é seguida por mais testemunhas e parece muito mais digna de crédito.
JERÔNIMO
Pintura de Tanzio Da Varallo
Em seu livro De Viris Illustribus (Sobre Homens Ilustres), Jerônimo nos mostra vários nomes de piedosos servos de Deus. Como seu intuito não era validar alguma igreja, ao combater os hereges sem sucessão apostólica, sua lista não é propriamente uma lista de papas, mas ainda assim, o vemos citar os nomes de vários deles, o que faz com um detalhamento muito grande de eventos. Começa dizendo que São Pedro ocupou a cátedra sacerdotal de Roma por vinte e cinco anos até sua morte, pelo imperador Nero. Ele informa onde ele está enterrado, no Vaticano, onde é venerado por cristãos de todo o mundo, algo que relata como algo frequente e natural. Assim como Eusébio, Jerônimo afirma que o Papa Clemente é o mesmo que São Paulo menciona em Filipenses 4:3, que este foi bispo de Roma depois de Lino, e que, além de ter sido um dos homens suspeitos de autoria da Epístola aos Hebreus, foi o homem: “que, eles dizem, organizou e adornou as ideias de Paulo em sua própria Língua.” Sobre a encíclica de Clemente aos Coríntios, Jerônimo tem a dizer: Ele [Clemente] escreveu, por parte da igreja de Roma, uma carta especialmente valiosa à igreja dos Coríntios, que em alguns lugares é lida publicamente, e que me parece concordar em estilo com a epístola aos hebreus que passa sob o nome de Paulo, mas difere desta mesma epístola, não apenas em muitas de suas ideias, mas também em relação à ordem das palavras, e sua semelhança em ambos os aspectos não é muito grande. Jerônimo chega a citar o Papa Vítor e a Controvérsia da Páscoa, além de muitas outras coisas. Sem dúvida, novamente percebemos o mesmo padrão, e vemos não um conhecimento total da origem petrina da Sé Romana, mas também seu tratamento como uma verdade evidente e comum a todos.
Sobre Pedro
Cap. 1. Simão Pedro, filho de João, da aldeia de Betsaida, na província da Galiléia, irmão do apóstolo André, e ele mesmo chefe dos apóstolos, depois de ter sido bispo da igreja de Antioquia e ter pregado à dispersão – os crentes em circuncisão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia – impelido a ir para Roma no segundo ano de Cláudio para derrubar Simão, o Mago, ocupou a cátedra sacerdotal lá por vinte e cinco anos até o último, ou seja, o décimo quarto ano de Nero. De suas mãos recebeu a coroa do martírio sendo pregado na cruz com a cabeça voltada para o chão e os pés erguidos ao alto, declarando não ser digno de ser crucificado da mesma forma que o seu Senhor. Ele escreveu duas epístolas que são chamadas pelo nome de católicas, a segunda das quais, por causa de sua diferença de estilo com a primeira, é considerada por muitos como não sendo dele. Dessa forma, também o Evangelho segundo Marcos, que foi seu discípulo e intérprete, é atribuído a ele. Por outro lado, os livros, dos quais um é intitulado Atos de Pedro, outro Evangelho que leva seu nome, uma terceira Pregação sua, uma quarta Revelação, um quinto Julgamento, são rejeitados como apócrifos.
Sepultado em Roma, no Vaticano, perto da via triunfal, é venerado por todo o mundo.
Sobre Clemente
cap. 15: Clemente, de quem o apóstolo Paulo escrevendo aos filipenses diz Com Clemente e outros de meus companheiros de trabalho cujos nomes estão escritos no livro da vida, o quarto bispo de Roma depois de Pedro, se é que o segundo foi Lino e o terceiro Anacleto, embora a maioria dos latinos pense que Clemente foi o segundo depois do apóstolo. Ele escreveu, por parte da igreja de Roma, uma Carta especialmente valiosa para a igreja dos Coríntios, que em alguns lugares é lida publicamente, e que me parece concordar em estilo com a epístola aos Hebreus que passa sob o título nome de Paulo, mas difere desta mesma epístola, não apenas em muitas de suas idéias, mas também no que diz respeito à ordem das palavras, e sua semelhança em ambos os aspectos não é muito grande. Há também uma segunda Epístola sob seu nome que é rejeitada por escritores anteriores, e uma Disputa entre Pedro e Appion escrita longamente, que Eusébio no terceiro livro de sua história da Igreja rejeita. Ele [Clemente] morreu no terceiro ano de Trajano e uma igreja construída em Roma preserva a memória de seu nome até hoje.
Falando de Higésipo, cita Aniceto e Eleutério
22. Hegésipo, que viveu em um período não muito distante da era apostólica, escrevendo uma História de todos os eventos eclesiásticos desde a paixão de nosso Senhor até seu próprio período, e reunindo muitas coisas úteis para o leitor, compôs cinco volumes em estilo simples, tentando para representar o estilo de falar daqueles cujas vidas ele tratou. Ele diz que foi a Roma na época de Aniceto, o décimo bispo depois de Pedro, e continuou lá até a época de Eleutério, bispo da mesma cidade, que havia sido diácono sob Aniceto.
Sobre Dionísio, menciona Sotero
27. Dionísio, bispo da igreja de Corinto, era de tão grande eloquência e diligência que ensinava não apenas o povo de sua própria cidade e província [sob sua jurisdição], mas também os de outras províncias e cidades por meio de suas cartas. Destas, um é direcionada para os lacedemônios, outra aos atenienses, […] uma sétima para os romanos, dirigida a Sotero [Bispo].
Sobre Víctor
34. Victor, décimo terceiro bispo de Roma, escreveu: Sobre a controvérsia pascal e algumas outras pequenas obras. Ele governou a igreja por dez anos no reinado do imperador Severo.
Sobre Eleutério
35. Irineu, um presbítero sob a jurisdição de Potino, o bispo que governou a igreja de Lyon na Gália, sendo enviado a Roma como legado pelos mártires deste lugar, devido a certas questões eclesiásticas, apresentou ao bispo Eleutherius certas cartas em seu próprio nome que são dignas de honra. Posteriormente, quando Potino, com quase noventa anos de idade, recebeu a coroa do martírio por Cristo, ele foi colocado em seu lugar. É certo também que ele foi discípulo de Policarpo, sacerdote e mártir, de quem falamos acima. Ele escreveu cinco livros Contra as heresias e um pequeno volume, Contra as nações e outro Sobre a disciplina, uma carta a Marciano, seu irmão, Sobre a pregação apostólica, um livro de Vários tratados; também para Blastus, Sobre o Cisma, Para Florino Sobre a Monarquia ou Deus Não é o Autor do Mal, também um excelente Comentário sobre a Ogdoad no final do qual indicando que ele estava perto do período apostólico que ele escreveu “Eu te conjuro quem quer que transcreva isso livro, por nosso Senhor Jesus Cristo e por seu glorioso advento no qual Ele julgará os vivos e os mortos, que você compare diligentemente, depois de transcrevê-lo, e corrija-o de acordo com a cópia da qual você o transcreveu e também que você deve transcrever similarmente esta adjuração como você a encontra em seu padrão”. Outras obras suas estão em circulação, a saber: Carta a Victor, o Bispo Romano Sobre a Controvérsia Pascal, na qual ele o adverte para quebrar a unidade da fraternidade, se de fato Victor acreditava que os muitos bispos da Ásia e do Oriente, que com os judeus celebravam a páscoa, no décimo quarto dia da lua nova, seriam condenados.
Sobre Gaio
Gaio, bispo de Roma, no tempo de Zeferino, isto é, no reinado de Antonino, filho de Severo, apresentou uma disputa muito notável contra Proculo, o seguidor de Montano, condenando-o por temeridade em sua defesa da nova profecia, e no mesmo volume também enumerando apenas treze epístolas de Paulo, diz que a décima quarta, que agora é chamada, Aos Hebreus, não é dele, e não é considerada entre os romanos até os dias atuais como sendo do apóstolo Paulo.
Falando de Dionísio, cita 3 Papas: Xisto, Estêvão e Dionísio
69. Dionísio, bispo de Alexandria, como presbítero, tinha o encargo da escola catequética sob a jurisdição de Heraclas, e foi o aluno mais distinto de Orígenes. Concordando com a doutrina de Cipriano e do sínodo africano, sobre o rebatismo dos hereges, ele enviou muitas cartas a diferentes pessoas, as quais ainda existem; Ele escreveu uma para Fábio, bispo da igreja de Antioquia, intitulada Sobre a Penitência, outra para os romanos, pela mão de Hipólito, Duas Espístolas a Xisto, que sucedeu Estêvão, duas também para Filemom e Dionísio, presbíteros da igreja em Roma, e outro ao mesmo Dionísio, após se tornar bispo de Roma; e a Novaciano, tratando de sua alegação de que Novaciano havia sido ordenado bispo de Roma, contra sua vontade. […]
Citando Dâmaso
Dâmaso, bispo de Roma, tinha um grande talento para fazer versos e publicou muitas obras curtas em métrica heróica. Ele morreu no reinado do imperador Teodósio com quase oitenta anos.
De Viris Illustribus (Sobre Homens Ilustres), ano 392-3 d. C.
AGOSTINHO DE HIPONA

Pintura de Sandro Botticelli
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2. Pois, se a sucessão linear de bispos deve ser levada em conta, com tão grande certeza e benefício para a Igreja consideramos voltarmos até chegarmos ao próprio Pedro, a quem, como que carregando em figura toda a Igreja, o Senhor disse: Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela! (Mateus 16:18) O sucessor de Pedro foi Lino, e seus sucessores em continuidade ininterrupta foram estes: Clemente, Anacleto, Evaristuo, Alexander, Sixto, Telésforo, Igino, Aniceto, Pio, Sotero, Eleutério, Victor, Zefirinus, Calixto, Urbano, Pontiano, Anthero, Fabiano, Cornélio, Lúcio, Stefânio, Xysto, Dionísio, Felix, Eutychianus, Gaio, Marcelino, Marcelo, Euseébio, Miltíades, Silvestre, Marcus, Júlio, Libério, Damasus e Siricius, cujo sucessor é o atual Bispo Anastácio. Nesta ordem de sucessão não se encontra nenhum bispo donatista. Mas, invertendo o curso natural das coisas, os donatistas enviaram a Roma da África um bispo ordenado, que, colocando-se à frente de alguns africanos na grande metrópole, concedeu alguma notoriedade ao nome de homens da montanha, ou os Cutzupits, por quais eram conhecidos.
3. Ora, ainda que algum traditor tivesse no decurso destes séculos, por inadvertência, obtido um lugar naquela ordem de bispos, indo desde o próprio Pedro até Anastácio, que agora ocupa aquela Sé (Roma) – este fato não prejudicaria a Igreja e os cristãos que não tomam parte na culpa de outro; pois o Senhor, prevendo tal caso, diz, com respeito aos oficiais da Igreja que são iníquos: Tudo o que eles ordenam que vocês observes, observem e façais; mas não façais segundo as suas obras; porque dizem e não fazem (Mateus 23:3). Sendo assim, a estabilidade da esperança dos fiéis é assegurada, na medida em que, estando firmada, não no homem, mas no Senhor, nunca pode ser varrida pela fúria do cisma ímpio; considerando que eles mesmos são varridos ao lerem nas Sagradas Escrituras os nomes das igrejas para as quais os apóstolos escreveram e nas quais eles não têm nenhum bispo. Pois o que poderia provar mais claramente sua perversidade e loucura do que dizer ao clero, quando leem essas cartas: A paz esteja convosco, no momento em que eles próprios estão separados da paz daquelas igrejas para as quais as cartas foram originalmente escritas?
Santo Agostinho, Carta 53, ano 400 d. C.
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