Algumas das evidências de que os apóstolos possuíam muitas fundamentações em sua defesa do messianismo de Jesus, tanto entre seguidores seus como entre outros seguimentos do Judaísmo, é a reação de muitos dos judeus diante das reivindicações bíblicas para tal. Os bereianos, por exemplo, que tinham razão em observar as Escrituras, assim como Jesus bem disse: “vós examinais as Escrituras porque nelas julgais encontrar a Vida Eterna, mas são elas que testificam de mim” (Jo 5: 39), chegam a conclusões bem favoráveis perante a ideia de Cristo como Messias. São as Escrituras que dão testemunho de que Jesus é o Messias prometido a Israel e isso ficou muito claro entre eles quando se colocaram na posição de analisar os argumentos e reivindicações do apóstolo Paulo: “Muitos deles creram” (v. 12). O ponto é que mesmo ao tratar das controvérsias, Jesus tinha precedentes interpretativos do seu lado. Ele tinha os comentários sobre os livros dos profetas feitos por judeus antigos e a interpretação deles do seu lado ao tratar da Bíblia. Por que então eles o mataram? A parábola dos vinhanteiros é clara: por inveja. Eles não queriam perder o poder e seu lugar.
Outro ponto importante foi a forte adesão das ideias de Cristo por parte da população da época, que o recebia como um rei e colocava ramos de palmeira em seu caminho, fazendo fila para tocar-lhe as vestes. Isso aconteceu com pessoas influentes também, como José de Arimateia e Nicodemos. A bíblia é muito clara ao mostrar que muitos dos chefes de Israel creram nele, mas não admitiram nem manifestaram porque temeram, não querendo ser “expulsos da sinagoga” (Jo 12: 42-43). O próprio elder Gamaliel defende a legitimidade dos apóstolos, demonstrando temor diante da possibilidade de seu ministério ser verdadeiramente guiado por Deus. Então diz a célebre frase: “Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará; se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus”. Ora, este é um grande mestre em Israel, neto de Hillel o Elder, pai da ESCOLA RABÍNICA de HILLEL, que se opunha à escola de Shamai e tinha grandes seguidores e constituía uma das maiores influências em Israel. Hillel é tão famoso entre o povo judeu que um ditado seu muito popular no judaísmo é citado na série internacionalmente famosa The Chosen, mencionado pela Virgem Maria quando ela convence seu Filho Jesus a realizar o milagre de transformar água em vinho no casamento de Caná na Galileia. Ela usa um provérbio de Hillel: Se não agora, quando? (Pirkei Avot – Ética dos Pais, um tratado da Mishná), e este é avô de Gamaliel, que defendeu os apóstolos no meio do Sinédrio em Atos 5:34-39:
33 Quando os membros do tribunal ouviram isto, ficaram tão furiosos que resolveram mandá-los matar. 34Mas um deles, um fariseu chamado Gamaliel, doutor da lei e pessoa muito respeitada por todo o povo, levantou-se, mandou levar os apóstolos para fora da sala por uns momentos, 35e disse ao tribunal: «Israelitas, tenham cuidado com o que pensam fazer a estes homens! 36Há tempos apareceu um certo Teudas que se dizia pessoa muito importante e com isso conseguiu que uns quatrocentos homens se juntassem a ele. Por fim ele foi morto, os que andavam com ele espalharam-se e ficou tudo em nada. 37Mais tarde apareceu Judas, o Galileu, na altura do recenseamento. Também conseguiu arrastar consigo muita gente, mas foi morto e os que andavam com ele desapareceram. 38Agora neste caso, sou de opinião que não façam nada contra estes homens. Mandem-nos embora, porque se este plano e este movimento são apenas ideias de homens acabam por falhar; 39mas se vêm de Deus não conseguirão destruí-los e correm o risco de estar a lutar contra Deus!» Eles aceitaram a opinião de Gamaliel.
Atos 5
Isso ocorria porque a doutrina de Cristo era muito convincente, até mesmo diante dos argumentos de seus adversários. É possível vermos isso claramente quando os judeus chegam a Jesus e dizem: “temos ouvido da Torá que o Cristo permanece para sempre” (João 12: 34). Eles tinham esse precedente pela tradição oral, que indicava que o Messias seria um Rei Eterno e que não cessaria de dominar sobre Israel. E quando Jesus falou-lhes de sua morte, que seria levantado da terra, eles questionaram: “como podes afirmar: ‘o Filho do homem precisa ser levantado’?” Isso era uma tradição em vigor na época. Então eles sabiam que o Messias deveria permanecer de alguma forma, sendo perpétuo (todavia não perceberam que isso não necessariamente negava que ele deveria morrer, o que indica a necessidade da ressurreição):
³⁰ Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós.³¹ Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.³² E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.³³ E dizia isto, significando de que morte havia de morrer.³⁴ Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? (João 12:30-34)
Ou seja, a doutrina de Cristo não estava só de acordo com a Escritura, mas com aquilo que era comumente aceito acerca do Messias pelo povo e pelo Sinédrio. É óbvio que Ele esclareceu certas profecias, dando-lhes uma maior compreensão de antigas verdades, mas Ele não trouxe uma doutrina NOVA E SEM FUNDAMENTO NA TRADIÇÃO. Os Targumin, por exemplo, estão repletos de descrições e comentários que trazem a ideia de uma manifestação divina do Pai que emana dele e se comunica com a criação. Isso ocorre quando Ele enviava sua Palavra aos homens, isto é, o Seu Logos. Cristo inclusive menciona isso ao citar o salmo 82: 6 e isso é registrado pelo apóstolo no evangelho em João 10: 34, quando o Pai diz: “vós sois deuses”. E Jesus rebate os judeus dizendo: “Vocês então chamam de demônio o que veio da parte do Pai e foi santificado e mandado ao mundo”, sendo que a Escritura chama aqueles a quem a Palavra é enviada de deuses. Ele tratava da Tradição judaica do Memra (Logos), que era algo que era conhedido entre os judeus. Podemos ver muitos argumentos dessa natureza no Diálogo entre Justino de Roma com o judeu Trífão.
Porei inimizade entre você e a mulher e entre seus filhos e os filhos dela … Para ela filhos, entretanto, haverá um remédio, mas para você, ó serpente, não haverá remédio, visto que eles farão apaziguamento no final, no dia do Rei Messias. (Targum Neofiti sobre Gênesis 3:15)
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