Decidi há poucos dias fazer algo novo aqui no Blog. Postamos geralmente textos e vídeos catequéticos, o que é maravilhoso. Há um esforço aqui para instruir conforme a Escritura, os documentos e preceitos magisteriais cristãos e católicos. Mas estive pensando e, concluí que deveria tratar de um termo muito usado aqui no Brasil cuja origem é desconhecida, mas que, como dizem, “pegou”. Trata-se do católico de IBGE. Isso me lembrou a história de uma personagem de um livro que eu li já faz um tempo: O Peregrino, de John Bunyan. É verdade que é um livro de autor protestante, mas muito da história se baseia na vida e nos desafios de um CRISTÃO comum. Uma das alegorias de Bunyan, para nossa própria edificação, traz uma personagem bastante peculiar, que logo associei ao chamado católico de IBGE. Mas antes de lidarmos com as semelhanças, vamos a uma definição mais acurada:
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“Católicos de IBGE é uma forma de definir aqueles que apenas cumprem, por obrigação ou pudor religioso, a tradição familiar como batizados na fé porém, sem nenhum compromisso com os sacramentos, mandamentos, ensinamentos e ritos da religião e com os serviços pastorais e movimentos católicos. Desafortunadamente são contados apenas como número a engrossar as estatísticas da massa de fiéis pouco comprometidos com as coisas de Deus”. [Fonte: Blog do Hiel Levy]
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O que é então um católico de IBGE, senão um infiel? Um relativista.
Trata-se de um cristão que segue a maré…

Judas fazendo aliança com os Sumos Sacerdotes, por Henry Ossawa Tanner.
[Domínio Público]
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O que Interesse-Próprio nos ensina?
Na narrativa de Bunyan, Cristão (esse é o nome do personagem principal) acabara de escapar da Feira das Vaidades, tendo perdido seu amigo e companheiro de viagem, Fiel, o qual foi morto em testemunho da verdade, e recebera ajuda de certo homem que fora tocado por seu testemunho, Esperançoso. Este creu nas palavras de ambos os peregrinos e decidiu ajudá-lo a fugir de lá. No Caminho, os dois mal se afastam da Feira, e encontram outro homem, que se diz também peregrino, seguindo rumo à Cidade Celestial… Seu nome? Interesse Próprio.
- A 1ª informação que se tem acerca deste no livro é esta: natural da Cidade das Boas Palavras.
Segundo a narrativa, esta cidade é conhecida por ser bastante rica, tendo sido esta informação confirmada pelo próprio Interesse Próprio. Por que será, não? Bom, o nome da cidade já explica tudo: é cidade de um povo Bajulador! O que a Bíblia diz acerca daqueles que afagam com os lábios?
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“O que anda maldizendo descobre o segredo; pelo que, com o que afaga com seus lábios, não te entremetas…”
Pv 20: 19
Comer mel em demasia não é bom: usa de moderação nas palavras elogiosas.
Pv 25: 27
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Acontece que aqueles que fazem muitos elogios, raramente são sinceros, tampouco buscam seu bem. Este mundo é cheio de tentações e isso significa que por mais virtuosa que seja uma pessoa, ela precisará andar com cautela e ter cuidado com os seus lábios, sabedoria com suas ações e com seus caminhos. E quem está sempre a elogiar não instrui, mas anda em busca de aliados. Na maior parte dos casos, são oportunistas, como os fariseus, dos quais Jesus disse:
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“E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens”
Mt 23:5
“Porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.”
Jo 12: 43
“Como podereis crer, vós que recebeis glória uns dos outros
mas não buscais a glória que vem do único Deus? “
João 5: 44
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Leia o trecho:
CRISTÃO – Cavalheiro, fala como grande conhecedor do mundo, e, se não estou mal informado, parece-me que já adivinho quem é. Não se chama o senhor Interesse-Próprio, de Boas-Palavras?
INTERESSE-PRÓPRIO – Não, senhor, não é esse o meu nome, apesar de assim me chamarem algumas pessoas, e, de eu me resignar a aceitá-lo como um insulto, a exemplo do que fizeram, antes de mim, outros homens não menos respeitáveis.
CRISTÃO – E que motivo deu o senhor para lhe porem semelhante alcunha?
INTERESSE-PRÓPRIO – Nenhum, absolutamente; e só posso atribuí-lo ao fato de ter tido a sorte de estar sempre de acordo com as opiniões do tempo presente, quaisquer que elas sejam, ideia com a qual me tenho dado perfeitamente bem. Isso considero eu como uma grande bênção, e não acho justo que meia dúzia de mal intencionados me censurem.
(BUNYAN, p. 150)
O Interesse-Próprio é alguém que sempre anda de acordo com o que for mais cômodo no momento. Veja quem são seus amigos, segundo o relato:
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AMOR-AO-DINHEIRO;
APEGO-AO-MUNDO, e
AVAREZA.
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E que discussão travam entre si, a qual só faz sentido para um homem mundano…
Leia o trecho:
INTERESSE-PRÓPRIO – Amigo, pelo que se vê, todos somos peregrinos, e, para apartarmos-nos das coisas más, permitam-me que eu vos proponha uma questão:
Suponhamos que um pastor de almas, ou um comerciante, a quem se apresentasse a ocasião de possuir as boas coisas dessa vida, mas que não pudesse alcançá-las de modo algum sem que este se fizesse, pelo menos na aparência, extraordinariamente zeloso em algum ponto da religião –com o que até então não se houvesse importado muito –, não lhe será permitido empregar os meios necessários para obter o seu fim, sem por isso deixar de ser um homem honrado?
AMOR-AO-DINHEIRO – Vejo o fundo de vossa questão, e, com o amável consentimento destes cavalheiros, vou dar-lhe uma resposta, que considerei primeiro em relação ao pastor. Imaginemos um homem dessa classe, um homem bom, que possui um benefício muito pequeno, e que, na expectativa de outro mais cômodo e mais rendoso, tem ensejo de obter, com a condição de ser mais estudioso, de pregar mais e com maior zelo; apesar das opiniões contrárias, eu não vejo razão alguma para não fazer isso e ainda mais, uma vez que tenha ocasião, e sem deixar de ser honrado.
E por quê?
1º – Desejar um benefício melhor e lícito, sem a menor contradição, posto que seja a Providência que o depara; e assim poder obtê-lo se isso estiver ao seu alcance e não se prender com questões de consciência.
2º – Além do que, o desejo desse benefício torna-o mais estudioso, obriga-o a cultivar mais o seu talento, tudo o que é, sem dúvida, muito em conformidade com a vontade de Deus…
3º – Quanto a acomodar-se ao caráter do seu povo, deponho em suas asas alguns dos seus princípios:
a) ele é dotado de um espírito cheio de abnegação
b) procede de maneira doce e atrativa
c) é mais apto para o ministério pastoral, com certeza.
4º – Deduzo, pois, que um pastor, que troca um benefício por outro maior não deve ser alcunhado de avarento. Antes, pelo contrário, visto que assim melhora as suas faculdades e o seu zelo, deve considerar-se que não faz senão seguir sua vocação e aproveitar-se da oportunidade de fazer o bem que se lhe depara.
(BUNYAN; p. 152- 153)
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Interesse-Próprio, assim como seus amigos, são a própria personificação do Traidor Judas, pois trocam seu talento por moedas de prata. Vendem seu Mestre em função de seu próprio interesse. O que CRISTÃO e ESPERANÇOSO responderam a estes três diante do argumento acima?
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Leia o trecho:
CRISTÃO – Não só eu, mas até qualquer novato em religião poderia facilmente responder a mil perguntas como esta. Porque se é ilícito seguir a Cristo por causa dos pães, como se vê em João 6: 26, quanto mais abominável será servir-se de Cristo e da religião como meio de conseguir e gozar as coisas desse mundo! Somente os gentios, os hipócritas, os demônios e os feiticeiros poderão aceitar semelhante opinião.
1º – Os gentios: Quando Ramor e Siquém quiseram possuir as filhas e o gado de Jacó, e viram que não havia outro meio para conseguir senão deixando-se circuncidar , disseram aos seus companheiros: “Se todos os nossos varões se circuncidarem, como eles fazem, todos os seus gados e toda a sua fazenda serão nossos!” (Gn 34: 20- 24)
2º – Os fariseus hipócritas: também foram estes religiosos desse gosto. Grandes orações eram entre eles o pretexto para devorar a casa das viúvas, e todo o seu dinheiro, e por isso o resultado foi a maior condenação da parte de Deus! (Lc 20: 46- 47)
3º – Demônios: Tal era também a religião de Judas. Este era religioso pela bolsa apenas, e pelo que nela continha (roubava o dinheiro que deveria ser dado aos pobres); mas perdeu-se e foi expulso como filho da perdição.
4º – Feiticeiros: Nesta religião também estava filiado Simão, o Mago, porque queria possuir o Espírito Santo em troca de dinheiro, e para ganhar dinheiro; mas recebeu da boca de Pedro a merecida sentença (At 8: 18- 23).
Também não posso deixar de dizer que todo aquele que toma a religião para possuir o mundo, a deixará, se necessário for, para não abandonar este mesmo. Pois é tão certo que Judas se fez religioso por causa do mundo como é certo que pela mesma causa vendeu sua religião e o seu Senhor. Responder afirmativamente à questão que propusestes, como me parece que vós tendes respondido, e aceitar essa resposta como boa é ser pagão, hipócrita e filho da perdição, e assim a vossa recompensa será de acordo com as suas obras. Ouvindo este discurso, ficaram os falsos peregrinos sem saber o que haviam de replicar. Então CRISTÃO disse a seu companheiro ESPERANÇOSO: Se estes homens não podem sustentar-se ante a sentença do homem, o que será quando se apresentarem no tribunal de Deus? Se os vasos de barro os fazem calar, o que será quando forem repreendidos pelas chamas de um fogo devorador?
(p. 154- 155; BUNYAN)
O Brasil é considerado um país de maioria católica, mas quanto dessa massa de fato confessa a religião que dizem ter? E quantos apenas a utilizam como instrumento de ascensão social? Ou mesmo como forma de seguir os ditames culturais? Percebemos a fidelidade das pessoas quando seguir a Cristo é desafiado pela perseguição, pela chacota e pela cruz. Há no nosso meio muitos falsos? Muitos que seguem a moda da vez, por puro iteresse próprio? Isso não ficará encoberto, pois está escrito que “com muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” [At 14,22]. E esta é uma condição permanente no Cristianismo. A perseguição sempre fará parte de caminho até o céu, o que nos mostra quão facilmente serão derrrubados os testemunhos de areia em nosso meio. Basta dar um breve espaço de tempo e logo se verá a queda de uma casa feita sobre a vaidade. Sejamos fiéis, portanto, em nossa devoção a Deus e sinceros, evitemos qualquer hipocrisia ou falsa religião, sabendo que a prova da nossa fé virá, a qual será muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, e aqueles que permanecerem diante dela receberão elogio, honra, e glória da boca daquele que não pode mentir, na revelação de Jesus Cristo [1 Pe 1, 7]. Deus abençoe a todos.