Como entender o Dogma da Imaculada Conceição?

Kertelen Ribeiro

Kertelen Ribeiro

A MISSÃO ESPECIAL DE MARIA

 

Maria nasceu para dar à luz a Cristo. Deus a criou para esse propósito e a preparou para essa missão antes de seu chamado. Essa é a primeira coisa que devemos compreender com respeito ao tema. O dogma da Imaculada Conceição foi promulgado em 8 de dezembro de 1854 pelo Papa São Pio X, que emitiu a encíclica Ineffabilis Deis (Deus Inefável). Mas por que há tanta dificuldade com relação a essa questão? A resposta depende bastante. Porque por exemplo, para um protestante, o motivo de sua rejeição se deve à interpretação de textos como “todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Para eles, isso colocaria Maria como uma exceção à regra, e a Escritura só permite tal concessão em relação a Cristo. Pelo menos é o que acham. Quanto aos ortodoxos, a dificuldade não está na doutrina da impecabilidade de Maria, a qual eles aceitam, mas sim na maneira como a doutrina de Santo Agostinho acerca do pecado original se aplica a Maria. Então pelo menos nas formulações acerca do modo como esse pecado é transmitido, e sua relação com a condição especial de Maria, os ortodoxos vão apresentar resistência, e inclusive atacar tal dogma em alguns casos. Esse texto não vai focar em questões intrincadas acerca do pecado original e da divergência entre gregos e latinos.

 

MARIA: UMA MULHER QUALQUER?

 

As decisões eternas de Deus – e isso engloba a salvação do gênero humano -, exigem os meios pelos quais os fins serão alcançados de maneira completa. Assim sendo, as criaturas que tomam parte no grande plano da redenção respondem ao chamado de Deus em conformidade com a medida de graça que receberam. Por isso mesmo que cremos que Deus não poderia simplesmente ter dito um dia daquela que geraria Deus: “chamarei aquela ali, porque me parece razoável”. Ou se Ele dissesse, quando se sentisse disposto: “Aquela jovem parece ser capaz de cumprir a missão, vou chamá-la”. Não… Maria fora criada para gerar Cristo. De maneira semelhante, Jesus falou certa vez: “não tomarei o cálice que meu Pai me dá de beber? (João 18:11), ou “que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora (João 12:27,28). Ele havia nascido para a missão que o Pai lhe dera. E a Virgem Maria também.

 

A SANTIDADE DE DEUS

 

Sabendo que foi para isso que ela nasceu, para dar à luz a Ele, devemos agora considerar a natureza da missão de Maria. Se alguém pensa que não foi nada o mistério da encarnação, e o fato de Deus ter unido Sua natureza à natureza humana no ventre da Virgem Maria, vamos observar a própria Escritura. O que ela nos diz? Em diversos momentos, Deus no decorrer da história, se manifestou aos homens. Afinal, foi assim que o povo semita ficou sabendo que um Messias viria salvá-los, pois os profetas falaram. Agora, como esses homens que traziam as profecias viram além do véu que cobre os mistérios ocultos dos mortais? Como foram eles capazes de receber mensagens e vislumbrar as orlas dos caminhos da divindade? Deus falou com eles. Mas como se deu esse contato? Em muitos casos por anjos, mas toda vez que Deus de fato se fez manifesto a algum deles de forma que o destinatário possuía ciência de que estava diante da divindade, em tais momentos foi por mistério encoberta a face de Deus. Eram as chamadas Teofanias.

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TEOFANIA:

 

Do Latim theophania; do grego theophaneia: Theo-, Deus + phainein, mostrar.

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A teofania mais famosa na Bíblia é aquela na qual Deus desceu e apareceu ao povo de Israel no Monte Sinai.

 

E estejam prontos para o terceiro dia; porquanto no terceiro dia o Senhor descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai. E marcarás limites ao povo em redor, dizendo: Guardai-vos, não subais ao monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte, certamente morrerá.

 

Êxodo 19:11,12

 

E aconteceu que, ao terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial. E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o sonido da buzina ia crescendo cada vez mais; Moisés falava, e Deus lhe respondia em voz alta. E, descendo o Senhor sobre o monte Sinai, sobre o cume do monte, chamou o Senhor a Moisés ao cume do monte; e Moisés subiu.

 

Êxodo 19:16-20

 

A Enciclopédia Judaica destaca o seguinte:

 

A manifestação é acompanhada por trovões e relâmpagos; há uma chama ardente, chegando até o céu; as notas altas de uma trombeta são ouvidas; e toda a montanha fumega e treme. Do meio da chama e da nuvem, uma voz revela os Dez Mandamentos. O relato em Deut. 4. 11, 12, 33, 36 e v. 4, 19 é praticamente o mesmo; e em sua linguagem cautelosa enfatiza fortemente a incorporeidade de Deus.

 

Veja a conclusão a que chega a Enciclopédia Judaica: a imagem assombrosa enfatica a incorporeidade de Deus. Como poderia Deus ter um corpo? Quem poderia carregá-lo em seu ventre? Outras aparições são descritas na Escritura, todavia, muitas mediadas por anjos ou mesmo em caráter profético, como sendo visões do céu, ou seja, de uma aparência de teofania, uma imagem da divindade. É o caso da visão descrita por Isaías (cap. 6) e por Ezequiel (cap. 1 e 10). Ainda assim, não raras vezes temos a noção do temor e do assombro que tais visões proporcionavam nos seus destinatários. Isaías por exemplo foi levado a exclamar aterrorizado que morreria: “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos (Isaías 6:5). Isso reforça uma compreenão reiterada na Bíblia, de que as pessoas poderiam MORRER diante de uma aparição de Deus, tamanha a sua santidade em contraste com a pecaminosidade humana.

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Juízes 13:22:

“Ah! Certamente morreremos!” Exclamou Manoá à sua mulher. “Porquanto vimos a Deus!”

 

 Êxodo 33:20:

“Não poderás ver a minha face, porque o ser humano não pode ver-me e permanecer vivo!”

 

Gênesis 32:30:

Então denominou Jacó àquele lugar Peniel, “face de Deus”, porquanto afirmou: “Vi a Deus face a face e, contudo, minha vida foi poupada”. 

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Se o mero vislumbre de Deus ou de uma imagem (visão) de Deus já era considerado assustador em razão da santidade divina, e se as pessoas por causa de seus pecados temiam morrer quando a presença do Altíssimo se manifestasse, é apropriado considerarmos que antes que o Espírito do Senhor viesse sobre Maria e a sombra do Altíssimo a cobrisse, Ele mesmo providenciaria os meios pelos quais a glória de Seu nome se tornaria manifesto, preparando um tabernáculo apropriado e digno para habitar Aquele Deus que da maneira extraordinária que lemos nos Evangelhos encarnou-se (assumiu a carne). Isto é, assumiu não só a carne, mas a humanidade inteira e teve para si um corpo, coisa que a Enciclopédia Judaica diz ser impossível por causa da grandeza de Deus. O que isso tudo quer dizer? Significa que a circunstância de Maria com relação aos demais seres humanos não poderia ser comum devido àquilo que a sua missão requereria: Ela deveria gerar Deus em seu ventre.

 

MARIA: A NOVA ARCA

 

Creio que isso ajuda um pouco a clarear a questão do porquê se entende ser Maria a Nova Arca da Aliança. Muitos ficam perplexos com tal ideia, mesmo quando descobrem que tanto Lutero como alguns reformadores como Henrich Bullinger acreditavam que Maria é a Nova Arca. Em geral, isso tem a ver com questões proféticas, uma vez que os cristãos começaram a criar conclusões lógicas acerca da revelação do evangelho. Havia o discernimento de que o cumprimento profético de cada verso da antiga aliança se cumpria no Senhor Jesus. Daí a associação do Velho Testamento com o Novo, sendo este último o aperfeiçoamento e o cumprimento pleno do primeiro, que é uma sombra e uma tipologia a apontar para o último. Alguns dirão: “Como pode Maria ser a Arca? Ela não é digna de ser comparada ao objeto sacro utilizado por Moisés e por Israel no qual a Presença de Deus se manifestava”. Mas que loucura! Veja bem! A Arca era um objeto! E o que havia em seu interior? Também objetos! Sim, eu entendo serem objetos veneráveis, mas ainda assim objetos. O maná, as Tábuas dos Dez Mandamentos e o Cajado de Aarão. Por isso a presença de Deus aparecia ali, sendo ela (a Arca) pura e intocada pelo homem pecador (Leia Êxodo 25:10 e seguintes; Números 4: 15; 2 Samuel 6:1-9; Hebreus 9:4).

 

Igor Rodrigues via Unsplash

 

Contudo, Maria não é um objeto, tampouco carregou ela objetos em seu interior, como a Arca; mas ela foi a humana que carregou Deus em seu ventre. Isso não é superior? Além de carregá-lo, forneceu a matéria para a formação de Seu corpo. No corpo de Maria, miraculosamente, o sangue da Divindade (Leia Atos 20: 28) foi produzido. Ela foi o instrumento de Deus para haver a encarnação do Verbo. Houve nela a união da humanidade com a divindade. Toda a herança humana de Jesus vem de Maria, sendo a herança divina do Pai. José não teve participação na composição adâmica de Cristo. Por isso não faz sentido ficar ofendido com a comparação entre a Arca do Concerto e a Mãe do Salvador, como se não houvesse equivalência de valor julgando ser Maria inferior à Arca, que era um objeto e uma sombra do que aconteceria no futuro. Na verdade, não é a Arca que é mais santa, e sim Maria! A primeira levou utensílios espirituais em seu interior, a segunda levou em seu ventre o Verbo Divino, o Alfa e o Ômega. Alguns até dirão que a Arca é Cristo. Contudo, o fato de que a ênfase no papel da Arca é justamente a sua matéria ter sido instrumentalizada por Deus para que a infinidade e a incorporeidade de Sua pessoa se manifestasse ao povo depõe contra. Se a Arca era o meio material pelo qual Deus vinha e falava com Israel, como argumentar que a Encarnação, que foi Deus se fazendo matéria/carne, e sendo tal matéria/carne proveniente de Maria somente, não fez dessa Virgem Bendita o instrumento que garantiu que Deus habitasse conosco para sempre?

De fato, podemos dizer:

 

CIC 487. O que a fé católica crê, a respeito de Maria, funda-se no que crê a respeito de Cristo. Mas o que a mesma fé ensina sobre Maria esclarece, por sua vez, a sua fé em Cristo.

 

A verdade é que está em conformidade com a dignidade e excelência da Divindade formar para si um tabernáculo apropriado, com o fim de que descesse sobre ele, e cobrindo-o, Deus nele habitasse. É por isso que entendemos que a santidade de Maria está atrelada à santidade do Senhor, assim como a Arca e os utensílios do Templo eram santos por causa do Senhor, que é santo. Assim sendo, é por causa da glória de Deus, que em Sua grandiosidade providenciou os meios para glorificar Seu nome no mundo, que Maria foi preservada santa. É assim que a Igreja crê em decorrência também de todo o testemunho das Escrituras e dos Pais. Pois se Deus não permitiu que materiais inanimados que foram separados para serem usado para louvor da Sua glória no Antigo Testamento fossem tidos como comuns, sendo que ali tratava-se apenas de uma sombra, quanto mais o instrumento pelo qual a revelação da Nova Aliança foi introduzida, isto é, a humana e Virgem, que concebeu do Espírito Santo o Verbo Divino. Leia:

 

Êxodo 3:4-6 – E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.

 

Êxodo 19: 18 – E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo;

 

Eclesiastes 5:1 – Cuida dos teus passos e sê reverente quando adentrares o Santuário, a Casa de Deus.

 

Josué 5:15 –  O chefe do exército de Yahweh respondeu a Josué: “Descalça as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que pisas é santo!”

 

2 Samuel 6:6,7 – E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à Arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à Arca de Deus.

 

Lucas 1: 35 – Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. 

 

A SAUDAÇÃO DO ANJO: A GRATIA PLENA

 

Santo Agostinho disse sobre Maria e o Pecado o seguinte:

 

Devemos excluir a santa Virgem Maria, a respeito de quem não desejo levantar nenhuma questão quando o assunto é pecados, em honra ao Senhor; pois Dele sabemos qual abundância de graça para vencer o pecado em cada detalhe foi conferida a ela que teve o mérito de conceber e dar à luz Aquele que, sem dúvida, não tinha pecado. Bem, então, se, com exceção da Virgem, pudéssemos reunir todos os homens e mulheres santos acima mencionados e perguntar-lhes se eles viveram sem pecado enquanto estiveram nesta vida, qual seria a resposta deles?

– Um Tratado sobre Natureza e Graça, capítulo 42 [XXXVI]; NPNF 1, Vol. V

 

Alguns discutirão coisas absolutamente impossíveis, não entendendo por que são impossíveis. Este é precisamente o exemplo daqueles que afirmam: “Se Maria tivesse dito NÃO, Deus teria escolhido outra, porque absolutamente não há nada de especial em Maria”. Só que não é isso que a saudação do anjo a Maria nos mostra. O anjo Gabriel disse: “Ave, cheia de graça (grifo meu), o Senhor é contigo” (Lucas 1:28). Veja que no verso seguinte, Maria ficou surpresa com a saudação: “Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria seme­lhante saudação.” (v. 29) Por que foi essa a reação dela? Ora, a expressão “cheia de graça” diz respeito a um termo grego kecharitomene (“preenchida de graça”)Esta palavra significa literalmente “aquela que foi agraciada em um sentido pleno e completo. Isso indica sem sombra de dúvida que a graça concedida a Maria é única. Ela estava em estado de graça santificante desde o primeiro momento de sua existência, para cumprir a tarefa que Deus havia lhe destinado. Foi exatamente o mesmo argumento que Santo Agostinho usou acima para demonstrar que Maria deveria ser considerada excluída e isenta de todo pecado: “pois Dele sabemos qual abundância de graça para vencer o pecado em cada detalhe foi conferida a ela”. Ela recebera uma graça superior à de um ser humano normal.

 

CIC 490. Para vir a ser Mãe do Salvador, Maria «foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão» (137). O anjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como «cheia de graça»(138). Efectivamente, para poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação, era necessário que Ela fosse totalmente movida pela graça de Deus.

 

CIC 494. Ao anúncio de que dará à luz «o Filho do Altíssimo», sem conhecer homem, pela virtude do Espírito Santo (144), Maria respondeu pela «obediência da fé» (145), certa de que «a Deus nada é impossível»: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus. E aceitando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da salvação, entregou-se totalmente à pessoa e à obra do seu Filho para servir, na dependência d’Ele e com Ele, pela graça de Deus, o mistério da redenção (146).

 

«Como diz Santo Irineu, “obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o gênero humano” (147). Eis porque não poucos Padres afirmam, tal como ele, nas suas pregações, que “o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé” (148);

 

– Catecismo da Igreja Católica

 

Assim, fica fácil perceber a providência atuando. Em tda a história humana, houve pessoas que disseram NÃO quando Deus chamou. No passado, muitas foram levadas por um sentimento de arrogância e obstinação a seguirem outro caminho, resistindo à graça de Deus. Alguém então pergunta: “e se Maria se recusasse? Iria Deus escolher outra  ou desistiria de nos salvar?” Ora, foi Deus quem dotou Maria de uma graça tal que, como diz o Catecismo, permitiu efetivamente poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação (490) sem que nenhum pecado a retivesse (494). Ele [Deus] estabeleceu todos os meios pelos quais o fim se concretizaria. O fim é a redenção humana e um dos meios é a gratia plena. Por isso que era conveniente uma dispensação de graça a Maria de maneira total e plena. Porque aquilo que define a decisão de qualquer ser humano por Deus é a medida de graça que o Senhor reparte a cada um somada à resposta da pessoa a essa ação da graça.

 

CIC 493. Os Padres da tradição oriental chamam ã Mãe de Deus «a toda santa» («Panaghia»), celebram-na como «imune de toda a mancha de pecado, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura» (143). Pela graça de Deus, Maria manteve-se pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a vida.

– Catecismo da Igreja Católica

 

E é a partir dessa compreensão que é possível entender a crença da Igreja acerca de Maria. Ela foi concebida preservada da mácula do pecado original. Este pecado consiste na mancha que herdamos de Adão e Eva (que vem do latim, macula = mancha). Trata-se da privação da graça santificante, a qual permitiria um estado de santidade superior ao que temos agora após a queda. A raça humana nasce com essa mancha, de maneira que não corresponde aos desígnios divinos e à sua vocação como deveria, também não sendo capaz de responder perfeitamente à vontade de Deus. Maria foi feita para dar à luz ao Salvador, sendo ela criada providencialmente para acatar a vocação divina que lhe foi proposta, já que sua negação custaria a salvação de todo o gênero humano, que estaria perdido para sempre. Por isso o Senhor a supriu de toda plenitude de graça, a qual forneceria os sentimentos e disposições que a levariam a dizer: “Creio, Senhor. Faça em mim a Tua vontade”. É como ouvimos do ditado popular: “Deus não dá ponto sem nó”. É verdade! E nós temos total certeza de que Ele preparou todas as coisas de antemão, os meios e os fins, de modo a nos conduzir à comunhão com Ele por Seu Filho nosso Senhor. Acredito que isso tudo esclarece o porquê daquilo que os católicos creem  com respeito a Maria não se tratar de um mero capricho.

 

MARIA PRECISAVA DE UM SALVADOR

 

É importante dizer, contudo, que isso não significa que a Virgem não precisava da salvação. Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; (Lucas 1:46,47). O Catecismo da Igreja Católica ensina claramente que Maria foi salva por Cristo, ainda que de uma maneira diferente.

 

CIC 492. Este esplendor de uma «santidade de todo singular», com que foi «enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição» (141), vem-lhe totalmente de Cristo: foi «remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho» (142). Mais que toda e qualquer outra pessoa criada, o Pai a «encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo» (Ef 1, 3). «NEle a escolheu antes da criação do mundo, para ser, na caridade, santa e irrepreensível na sua presença» (Ef 1, 4).

 

– Catecismo da Igreja Católica

 

CONCLUSÃO

 

Espero que vocês tenham apreciado a leitura e aprofundado seus conhecimentos sobre o tema. Deus opera de uma maneira maravilhosa, além de surpreendente diversas vezes, preparando todas as coisas de antemão para que sirvam ao proprósito de sua vontade boa, perfeita e agradável. Veja o que Isaías diz sobre o bom lavrador, que prepara a sua terra antes de lançar a semente. Ele aprendeu isso com Deus, perfeito em obra e grande mestre em sabedoria:

 

Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície, então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo, ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar? (…) Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é maravilhoso em conselho e grande em obra.

Isaías 18: 25, 29

 

Assim como o lavrador fez com a terra, Deus fez com Maria.

Que Deus abençoe a todos! Salve Maria.

 

Foto de Ruth Gledhill na Unsplash

 

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO CULTURAL MONTFORT

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

ENCICLOPÉDIA CATÓLICA

ENCICLOPÉDIA JUDAICA

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Kertelen Ribeiro

Kertelen Ribeiro é uma ex-protestante convertida ao catolicismo romano. Sendo leiga, faz parte da Legião de Maria. Ama ícones, arte e se arrisca no desenho, mas ainda não sabe fazer sombra direito. Graduada em Letras – Português e pós-graduada em Tradução do Inglês pela Estácio, atua como tradutora freelancer e deseja servir a Cristo, se esforçando para fazer a Sua vontade. Livros sempre foram o caminho.

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Kertelen Ribeiro

Kertelen Ribeiro é uma ex-protestante convertida ao catolicismo romano. Sendo leiga, faz parte da Legião de Maria. Ama ícones, arte e se arrisca no desenho, mas ainda não sabe fazer sombra direito. Graduada em Letras – Português e pós-graduada em Tradução do Inglês pela Estácio, atua como tradutora freelancer e deseja servir a Cristo, se esforçando para fazer a Sua vontade. Livros sempre foram o caminho.

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