FALA EDITADA SEM CONTEXTO
O Núncio Apostólico Christophe Pierre é um diplomata e arcebispo católico francês. Em comunicado oficial acerca do posicionamento do Papa Francisco com respeito às uniões civis homossexuais, ele mencionou diversos aspectos considerados importantes na compreensão das palavras do Santo Padres, bem como para se perceber a real complexibilidade da questão envolvendo os homossexuais. Ao iniciar sua síntese do que ocorreu, ele começa citando a tendência de alguns jornais de editarem as falas do Papa quando se tratam de temas polêmicos:
Há algum tempo, no documentário Francesco, do diretor Evgeny Afineevesky, o Papa Francisco respondeu a duas perguntas distintas em momentos diferentes mas que no referido documentário, foram editadas como uma única resposta sem contexto, o que gerou uma infinidade de ataques e incompreensão. O Papa referiu-se pastoralmente à necessidade, dentro da família, de um filho ou filha com orientação homossexual jamais sofrer discriminação, não sendo alvo de violência ou perseguição:
>> Las personas homossexuais tienen derecho a estar en familia; son hijos de Dios, tienen derecho a una familia. No se puede echar de la familia a nadie ni hacerle la vida imposible por eso”.
>> “As pessoas homossexuais têm o direito de estar na família; São filhos de Deus, têm direito a uma família. Ninguém pode ser expulso da família por isso ou ver sua vida transformada em uma existência miserável.”
AMORIS LAETITIA E O RESPEITO À DIGNIDADE DA PESSOA HOMOSSEXUAL
O núncio prossegue seu esclarecimento destacando o compromisso da Igreja de Cristo com a Verdade bíblica do Evangelho, contudo, sem abandonar seu amor pela vida humana e pelas almas, cuja nobreza se fundamenta na própria Divindade. Sendo assim, a fala do Papa apenas revelou o intuito de proteger de qualquer forma de violência as pessoas homossexuais, as quais, mesmo seguindo um caminho diverso do proposto pela Igreja para o sacramento do matrimônio, ainda gozam de valor em sua dignidade humana. A Exortação Apostólica sobre o amor na família, Amoris laetitia (2016), mostra claramente a posição central da Igreja, de proteção à dignidade da pessoa com orientação homossexual:
250. “Durante o Sínodo, discutimos a situação das famílias cujos membros incluem pessoas com tendência homossexual, experiência não fácil nem para os pais nem para os filhos. Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar «qualquer sinal de discriminação injusta» e particularmente toda a forma de agressão e violência. Às famílias, por sua vez, deve-se assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a tendência homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida.
A TUTELA ESTATAL E A DOUTRINA DA IGREJA
Além do ponto em questão, que é a situação social e familiar do homossexual, que deve ser resguardado em sua integridade, não devendo sofrer abusos ou violências no seio familiar, que, sobretudo se for de tradição cristã, deve exercitar a paciência, o núncio apontou também para a cautela do Santo Padre com respeito à esfera política, ao gozo de direitos do homossexual frente ao Estado, que deve legislar para todos. Ele argumenta que quanto às suas prerrogativas como pastor das ovelhas e chefe da Igreja Católica, o posicionamento do Papa permanece fiel à doutrina imutável de Cristo.
Defender a vida do indivíduo homossexual não envolve o abandono da fé e da moral da Igreja, de maneira que o Papa em ocasiões diversas apresentou sua posição. Sobre uma lei local de mais de dez anos atrás na Argentina, envolvendo “matrimonios igualitarios de parejas del mismo sexo” (Casamentos Irregulares de Casais do Mesmo Sexo), Papa Francisco, que era o então Arcebispo de Buenos Aires Bergoglio, se opôs a tal lei. Segundo ele, “es una incongruencia hablar de matrimonio homossexual”, traduzido como “é incongruente falar de casamento homossexual”, acrescentando que, em um contexto tão preciso, ele havia se referido ao direito dessas pessoas à cobertura legal: “lo que tenemos que hacer es una ley de convivencia civil: tienen derecho a estar cubiertos legalmente. Yo defendi eso.” (Devemos promulgar uma lei de convivência civil: eles têm o direito de serem protegidos legalmente. Eu defendi isso). Durante uma entrevista de 2014, o Santo Padre se expressou da seguinte forma: “O casamento é entre um homem e uma mulher. Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regularizar as diversas situações de coabitação, movidos pela necessidade de regularizar as questões econômicas entre as pessoas, como a garantia de cuidados de saúde, por exemplo. Tratam-se de várias formas de acordo de coabitação, que eu não saberia enumerar. As diversas situações devem ser examinadas e avaliadas, consoante as suas circunstâncias.” Portanto, é evidente que o Papa Francisco se referia a disposições particulares do Estado, e não certamente à doutrina da Igreja, que foi reiterada em inúmeras ocasiões ao longo dos anos.
CONCLUSÃO
A partir do comunicado, o núncio deixou clara a tendência reiterada da mídia a elaborar formas criativas de alterar as palavras do Papa acerca de temas polêmicos. Isso ocorre para se conseguir uma manchete favorável à tendência do momento e gerar busburinho entre os católicos. O arcebispo Pierre foi muito prudente ao demonstrar as preocupações da Igreja e mesmo do Papa Francisco com respeito à manutenção da doutrina da Igreja ao mesmo tempo em que se pretende proteger e resguardar a integridade dos homossexuais.
Leia mais sobre o tema aqui: DISTORCERAM A FALA DO PAPA FRANCISCO SOBRE UNIÕES CIVIS HOMOSSEXUAIS




