As liturgias pomposas são um testemunho de desobediência a Jesus?

joanadarc

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Não. Mas vamos considerar algumas coisas:

 

Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque a circuncisão e a incircuncisão de nada valem, mas sim a nova criatura. A todos que seguirem esta regra, a paz e a misericórdia, assim como ao Israel de Deus. De ora em diante ninguém me moleste, porque trago em meu corpo as marcas de Jesus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vosso espírito, irmãos. Amém.

Gálatas 6,14-18

 

Nestes versos, S. Paulo aponta para o perigo de a Igreja colocar sua fé e esperança em banalidades sem valor espiritual algum. A ordem é expressa: Glorie-se no Senhor. Você pode imaginar o quanto foi difícil para S. Paulo chegar a essa posição e a esta compreensão sublime? Pode ter sido difícil para o antigo Saulo, que perseguia a Igreja e se gloriava de ser um  fariseu de linhagem puríssima, um fiel seguidor da Lei judaica. Orgulhoso como era, seria uma obra impossível que ele desprezasse suas riquezas e títulos. Como tal homem  se tornaria um devoto e humilde seguidor do Galileu, sendo por isso perseguido e se tornando um estranho rejeitado entre seus irmãos? A graça fez essa obra. Pois depois que vislumbrou a Glória do Senhor, seu orgulho caiu por terra e o antigo Adão em Saulo percebeu que não importava ser um homem destituído da glória deste mundo, contanto que sua única glória fosse Deus. Verdadeiramente, ele mesmo admitia que tinha razão para se gloriar em dons dessa terra, pois poderia fazer isso, tinha renome, títulos e grande erudição entre seus compatriotas:

 

“Se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu!

[Filipenses 3,4]

 

O apóstolo Paulo não era como muitos de nós, que mal temos um entendimento superficial de filosofia e teologia. Ele era doutor nas Leis de seu país, tinha um conhecimento vasto da cultura grega e uma argumentação poderosa em termos de oratória. E, no entanto, o que ele fez quanto a isto?

Ele responde:

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“MAS CONSIDEREI ISTO TUDO COMO LIXO E ESTERCO

PARA GANHAR A CRISTO”

[Filipenses 3, 8]

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Ele despreza seus dotes antigos, sacode o pó, meneia a cabeça e, depois de considerar, chega à conclusão: Muitos pensam que são sábios, mas não compreendem absolutamente nada. Estão cheios de inveja, porfia, orgulho próprio, e dissensão. “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” [Rm 1, 22-24]. Veja o poder transformador do encontro com Jesus. É verdade que Paulo via todo o seu progresso como inútil, mas Deus não. E aqui chegamos ao ponto principal: o próprio Apóstolo viu seus bens como nada, todavia, foi com eles que Deus operou, após reorientá-los para a direção correta. Esta é precisamente a compreensão católica. É verdade que não devemos confiar em nossos talentos de maneira a esquecermos do poder de Deus como fonte de todo bem que temos e do que podemos fazer e ser, mas fazer uso deles de forma zelosa não irrita Deus, tampouco O ofende. Quando o apóstolo faz uso de palavras tão fortes, ele não está nos proibindo de usar ou desenvolver nossa inteligência ou dons artísticos, arquitetônicos, literários, mas sim enfatizando sua própria cegueira passada, que o levava a olhar para a obra de Deus no meio do povo judeu e não ver Deus. Além disso, quando argumenta que considerou tudo como esterco para ganhar a Cristo, se referia ao seu lugar na sinagoga e aos títulos que perdeu quando decidiu se juntar aos cristãos. 

 

Deus despreza o Zelo, a Beleza e a Ordem? 

 

Não, pois Deus exalta a beleza na criação, como um testemunho de Sua própria sabedoria. Se a exuberância de coisas criadas e sem racionalidade, a linguagem delas, estrutura e  forma mostram o poder divino e Sua sempiterna sabedoria, qual é o problema de fazermos uso de tais coisas em nossas reuniões solenes e serviço litúrgico a Deus?

 

Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete. Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se espalha o seu ruído, e até os confins do mundo a sua voz; aí armou Deus para o sol uma tenda. E este, qual esposo que sai do seu tálamo, exulta, como um gigante, a percorrer seu caminho. Sai de um extremo do céu, e no outro termina o seu curso; nada se furta ao seu calor. A Lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma; a ordem do Senhor é segura, instrui o simples.Os preceitos do Senhor são retos, deleitam o coração; o mandamento do Senhor é luminoso, esclarece os olhos – Sl 18 [19], 1-9.

 

A Bíblia confirma que a beleza é útil para demonstrar o caráter divino, e é por causa dessa realidade que a Igreja professa:

 

      1. A beleza do Universo: A ordem e a harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos seres e das relações existentes entre si. O homem descobre-as progressivamente como leis da natureza. Elas suscitam a admiração dos sábios. A beleza da criação reflete a beleza infinita do Criador, a qual deve inspirar o respeito e a submissão da inteligência e da vontade humanas.

Catecismo da Igreja Católica

 

Deus condena o coração soberbo, mas não o coração zeloso em amor. Quem ama é diligente, sem deixar o mandamento de lado: “Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” [1 Coríntios 1:31]. Não se trata de dois caminhos autoexcludentes, podemos fazer os dois.

 

 

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Sta Joana d’Arc nasceu através de um compromisso e do desejo de publicar obras notáveis de autores nacionais e estrangeiros, tanto de cunho filosófico e teológico, quanto de matéria infantil, fantástica e ficcional. Além de fazer renascer o espírito de tradições e valores antigos à sociedade como um todo, a publicação de obras que revelem a riqueza de nossa história é a melhor maneira de servir a humanidade.

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