Porque Jesus lhes deu tal autoridade. Foi Jesus quem deu o sacramento da Confissão (também chamado Reconciliação) ao soprar sobre os Apóstolos dizendo: “Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, eles serão perdoados; se retiverem os pecados de tal pessoa, eles serão retidos” (Jo 20,22-23). Trata-se de uma instituição perpétua, pois Jesus tratava ali de uma promessa para o povo que estava criando, a Igreja, assim como Deus fez com Israel no passado, dando instruções e mandamentos. De fato, a Igreja não duraria somente até a morte dos apóstolos, E essa autoridade foi passada para os sucessores por meio do sacramento das Ordens Sagradas. Santo Hipólito, um dos teólogos mais importantes do século III, argumenta que a autoridade que os padres da Igreja cristã primitiva possuíam para perdoar pecados era um comando divino vindo do próprio Jesus, como advindo da sua autoridade de sumo sacerdote:
HIPÓLITO DE ROMA
[O bispo que conduz a ordenação do novo bispo deve orar:] “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo… derrama agora o poder que vem de Ti, do teu Espírito Real,… e concede a este teu servo, que escolheste para o episcopado… o sumo sacerdócio de modo a TER AUTORIDADE PARA PERDOAR PECADOS, de acordo com seu comando.
– Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, ano 215 d.C.
Mas por qual motivo Deus fez assim a Sua Igreja, dando aos apóstolos tal mandamento e autoridade, de ir ao mundo receber a confissão dos pecados alheios, perdoando-os ou retendo-os? Santo Tomás diz diz:
Ora, no primeiro sentido da necessidade, três sacramentos são necessários. Dois a cada pessoa em particular: o batismo, simples e absolutamente falando; e a penitência, suposto o pecado mortal depois do batismo. Quanto ao sacramento da ordem, ele é necessário à Igreja, porque, no dizer da Escritura, onde não há quem governe perecerá o povo. — Mas, no segundo sentido, os outros sacramentos são necessários. Assim, a confirmação (Crisma) de certo modo aperfeiçoa o batismo; a extrema unção, a penitência; e o matrimônio enfim conserva, pela propagação, o povo fiel.
Segundo St. Tomás de Aquino, citando Provérbios 11, para que o povo não pereça foi instuída a autoriade eclesiástica. E a razão do perdão de pecados é evidente no texto: “E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” [Lc 24, 46-47]. O papel da Igreja não era só BATIZAR e ENSINAR, conforme Mt 28, 19, que diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Era conveniente que a Igreja fosse o instrumento permanente e visível da Misericórdia Divina no mundo, ao perdoar seus pecados. Cristo fornece à Igreja que ela assuma o papel de ser dispenseira dos mistérios de Deus para os homens, e tais dons são fornecidos por meio da comunhão e do relacionamento interpessoal, pois, como está escrito, somos Um Corpo [1 Co 12, 12-27]. E seguindo a símile, os membros do Corpo possuem papéis distintos. O primeiro sacramento é a Ordem Sagrada, o fundamento da Missão e Autoridade, como está escrito “assim como o Pai me enviou, Eu vos envio”. Este diz respeito ao Sacerdócio, por meio do qual os outros Sacramentos são ministrados de um indivíduo separado dentre o povo para o serviço sagrado. Como Jesus disse a Simão Pedro “Tu me amas? Apascenta minhas ovelhas” [Jo 21, 15-22]. Haveria, portanto, as ovelhas e aqueles que, mesmo sendo do povo, serviriam como pastores das ovelhas, apascentando-as.
OS APÓSTOLOS SENDO ALIMENTADOS POR CRISTO PARA IR ALIMENTAR O POVO
A Comunhão dos Apóstolos de Luca Giordano [Domínio Público]
Isso mostra primeiramente que a Igreja é necessária como instituição. Sem ela não há profeta, oráculo, testemunho fiel, e, assim sendo, os homens, desconhecendo a Verdade por meio da qual abandonariam o erro, pereceriam, destruindo a si mesmos e os outros. E em segundo lugar, nos ensina também que Deus quer usar a própria humanidade para salvar o mundo e redimi-lo, e isso é demonstrado na tarefa fundamental de todo padre, que é perdoar os pecados dos confessantes.
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