Hoje em dia, circulam pelo mundo inúmeras teorias acerca da interpretação dos evangelhos. Uma delas, bastante interessante, é de que “Jesus não ressuscitou de fato, mas o que se deu foi um renascimento espiritual”.
UMA LEITURA NOVA
A negação da ressurreição corporal de Jesus faz parte de uma releitura das Escrituras, feita com lentes modernas. Ninguém nega que há textos difíceis nas escrituras (2 Pe 3: 16), ou mesmo metafóricos e simbológicos. É o caso de Apocalipse, Cantares de Salomão e outros. Mas ao mesmo tempo em que a Bíblia possui tal gênero, ela possui outros, que não se enquadram nesse modelo. E cabe à Igreja reconhecê-los e identificar os casos, para que ela exerça a função que lhe foi conferida de apontar o caminho. Coisa que ela fez: chama-se interpretação tradicional. Por milênios, milhares de pessoas leram as Escrituras e o consenso dos fiéis sempre foi invariavelmente o mesmo quanto a esses textos. Sabemos que há uma tendência de buscar novas interpretações, e às vezes até com parâmetros modernos demais para a época em que o texto analisado foi escrito, mas isso nada mais é do que desconstrucionismo. O fato é que na época de Jesus, já havia uma corrente dentro do Judaísmo que realmente negava a possibilidade de uma ressurreição corporal, todavia, quando eles foram testar Jesus e mencionaram a história de Tobias e Sara, Jesus os refutou e provou que eles estavam enganados em razão de não conhecerem as Escrituras e o poder de Deus, o que fazia com que eles negassem a ressurreição:
Naquele mesmo dia, os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele [Jesus] com a seguinte questão: “Mestre, Moisés disse que, se um homem morrer sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência. Entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não teve filhos, deixou a mulher para seu irmão. A mesma coisa aconteceu com o segundo, com o terceiro, até o sétimo. Finalmente, depois de todos, morreu a mulher. Pois bem, na ressurreição, de qual dos sete ela será esposa, visto que todos foram casados com ela?” Jesus respondeu: “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus! Na ressurreição, as pessoas não se casam nem são dadas em casamento; mas são como os anjos no céu.
Mateus 22:23-30
O Senhor também disse:
Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.
João 5:28-29
SERÁ QUE NINGUÉM ENTENDEU JESUS?
Um problema com essa noção da ressurreição metafórica é que ela implica que Jesus foi absolutamente incompreendido. A grande maioria de ouvintes, comentaristas e estudiosos do evangelho chegaram à mesma conclusão ao ouvir as palavras de Cristo. Será que todas as pessoas que ouviram Jesus fazendo aqueles discursos entenderam de forma errada? E se o fizeram, como Jesus poderia ser um bom mestre (professor), se sua mensagem não pôde ser e nem foi entendida por ninguém que o ouviu? Pense por um instante: as pessoas que o ouviram e se converteram deram suas vidas em martírio pelo Evangelho, porque confessavam crer na ressurreição de Cristo e na promessa de sua própria ressurreição no futuro. Se Jesus induziu tais pessoas, inclusive seus próprios apóstolos, a uma atitude suicida, não explicando com clareza que a ressurreição de que falava era um esclarecimento místico, como poderia Ele ser um bom mestre (professor) moral? Ora, mesmo os opositores de Jesus se escandalizaram ao ouvir a mensagem da ressurreição (1 Co 1: 18-25; At 17: 32-34; 23: 6-10), e isso é demonstrado na Escritura. Mas se a mensagem não era essa, por que o choque? Ninguém se escandaliza quando ouve que algum famoso passou por um renascimento espiritual pela 20ª vez na vida. E não somente os apóstolos e os primeiros cristãos leram dessa forma os evangelhos, adotando o sentido tradicional das palavras, mas a grande massa de cristãos atuais que humildemente abrem suas bíblias hoje, e conforme a norma culta de sua língua, leem, entendem as palavras e creem nelas.
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Jesus disse com clareza que ressuscitaria:
Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse.
Marcos 8:31
Enquanto estava subindo para Jerusalém, Jesus chamou em particular os doze discípulos e lhes disse: “Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para que zombem dele, o açoitem e o crucifiquem. No terceiro dia ele ressuscitará”.
Mateus 20:17-19

Foto de Anuja Tilj na Unsplash
Esta era a pregação dos Apóstolos:
“Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E disso nós somos testemunhas”.
Atos dos Apóstolos 3:15
Então, Jesus não foi entendido por nenhum dos seus amigos mais próximos, nem pelas pessoas que o escutavam em sua própria época, cultura e língua? Tal ideia já ocorreu a alguns no passado, e tal como soou a C. S. Lewis, alguém que também topou com algumas dessas mentes iluminadas que acreditam terem entendido a verdade divina da real interpretação dos evangelhos, quando ela não foi confiada a mais ninguém, para quem as escuta atualmente, a ideia continua a soar absurda. Mas talvez por ela vir envolta em roupagem intelectual, muitas pessoas não percebam isso com facilidade. Fizeram o mesmo com o diabo. Sobre isso, Lewis escreve, não se deixando iludir:
Agora, o meu segundo balido. Toda teologia da categoria liberal envolve, em algum ponto — e, por muitas vezes, do começo ao fim —, a reivindicação que o real comportamento e o propósito dos ensinamentos de Cristo quase imediatamente vieram a ser mal compreendidos e distorcidos por Seus seguidores, e que somente os eruditos modernos puderam exumá-los ou recuperá-los. Ora, muito antes que me interessasse pelas questões teológicas, eu já havia encontrado esse tipo de teoria em outros lugares. A tradição de Jowett ainda dominava os estudos sobre a filosofia antiga quando comecei a ler as obras de Greats. Então, os leitores eram convidados a acreditar que o sentido real dos escritos de Platão havia sido mal entendido por Aristóteles, e loucamente travestido pelos filósofos neoplatônicos, e que tal sentido só foi redescoberto pelos pensadores modernos. E uma vez refeito esse significado, descobriu-se (mui afortunadamente) que Platão o tempo todo havia pensado como um Hegel inglês, ou melhor, como I. H. Green. E, em meus estudos profissionais. encontrei essa idéia pela terceira vez. A cada nova semana algum esperto quartanista, a cada quinze dias algum embotado perito norte-americano, vem descobrir, pela primeira vez na história do mundo qual o sentido real de alguma peça de Shakespeare. Nessa terceira instância, entretanto, já sou uma pessoa privilegiada. A revolução que tem havido na maneira de pensar e sentir, ocorrida durante o curto período de minha vida, é tão grande que, mentalmente falando, pertenço mais ao mundo de Shakespeare do que ao mundo desses intérpretes recentes. Percebo-o, sinto-o nos meus próprios ossos, estou convicto, acima de qualquer argumento, de que a maioria das interpretações desses modernos pensadores é praticamente impossível. Tais interpretaçes envolvem uma maneira de considerar as coisas que era desconhecida em 1914, e, mais ainda, no período jacobeano. Isso confirma diariamente a minha suspeita quanto à abordagem dos críticos no tocante aos escritos de Platão ou do Novo Testamento. Essa noção de que qualquer homem ou escritor deveria ser opaco e imcompreensível para aqueles que viviam na mesma época, na mesma cultura. que falavam o mesmo idioma, que compartilhavam das mesmas habituais imagens mentais e pressupostos inconscientes, e que, no entanto, torna-se perfeitamente claro e transparente para aqueles que não dispõem de nenhuma dessa óbvias vantagens, em minha opinião, não passa de um imenso absurdo.
Ensaio A Teologia Moderna e a Crítica da Bíblia, C. S. Lewis.
Dizer que os textos evangelísticos nos quais a ressurreição é citada são de natureza simbológica também é criticado por Lewis em outro trecho desse ensaio, pois, nas palavras dele, é o equivalente a apostar que “algum escritor desconhecido, no século 2 a. C., sem quaisquer antecessores ou sucessores conhecidos, de súbito antecipou a técnica inteira da narrativa moderna, novelesca, realista”. Tal como ocorre com os intérpretes de Shakespeare, “tais interpretaçes envolvem uma maneira de considerar as coisas que era desconhecida” na época em que o texto analisado foi escrito. Que razões nós temos para acreditar que uma pessoa que alega isso tem capacidade para interpretar textos?No que tange à identificação das características próprias e distintivas de gêneros textuais, ou mesmo à crítica textual, há sérias falhas! Mas além disso, temos de lidar com a absoluta e unânime posição dos ouvintes e amigos próximos de Cristo e no decorrer da história, que mantiveram a interpretação tradicional. Será que as palavras de Jesus não puderam ser compreendidas pelos seus contemporâneos e amigos que ouviram da sua boca, nem pelos cristãos que viveram posteriormente e se converteram, passando o ensino adiante e no decorrer dos séculos, e nem ainda pela vasta maioria de atuais crentes que vivem hoje no mundo e são seus seguidores, mas foi um ensino apenas compreendido por um punhado de intelectuais de uma determinada corrente ideológica moderna que surgiu depois de centenas de anos e gerações?
Pense nisso: “É coisa incrível que Deus ressuscite os mortos?!” (Atos 26: 8)
Toda a esperança cristã se fundamenta na ressurreição:
¹² Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
¹³ E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.
¹⁴ E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
¹⁵ E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
¹⁶ Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
¹⁷ E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
¹⁸ E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
¹⁹ Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
²⁰ Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.
²¹ Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.
1 Coríntios 15:12-21
Espero que você seja contado entre aqueles que creem firmemente que “Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará”. (1 Coríntios 6:14)




