A IGREJA ABENÇOA UNIÕES HOMOAFETIVAS?

Kertelen Ribeiro

Kertelen Ribeiro

Não.

 

Embora a mídia e algumas páginas católicas conservadoras façam um estardalhaço, a piedade cristã nos orienta a usarmos de justiça para com o próximo, mesmo em nossas acusações e críticas, e considerando contra quem elas são feitas, isto é, contra uma autoridade cristã divinamente constituída como é o caso do Papa Francisco, é ainda mais urgente esse tipo de trato. Primeiro de tudo, para estar por dentro do cerne da discussão e minimamente equipado para compreender do que se trata o tema da controvérsia de fato, você deve entender a doutrina da Igreja sobre o matrimônio. Matrimônio é uma união indissolúvel na forma de um pacto entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e elevado à dignidade de sacramento, conforme o Catecismo. Isso soluciona metade das controvérsias envolvendo as falas do Papa, já que você começa a entender que ao falar de uniões civis como meros contratos legais entre pessoas, Francisco não se referia a matrimônio conforme instituído por Cristo. Leia mais sobre isso aqui, aqui e aqui.

 

BÊNÇÃO vs SACRAMENTO

 

A Igreja promove a dignidade ímpar de sacramento o matrimônio, todavia as uniões homoafetivas, não sendo MATRIMÔNIO, e tampouco SACRAMENTO, poderiam receber bênçãos, já que estas, diferentemente dos sacramentos, não exigem nenhum critério ou condição? Esse raciocínio é o que fundamenta a resposta do Papa e o documento polêmico que veio em seguida: Fiducia Supplicans. Alguns perguntarão. Explicarei da forma sequinte: eu sou cearense nordestina, e aqui é um costume muito difundido passado de pai para filho (a) a necessidade da bênção dos pais. Então eu, na qualidade de filha, desde pequena, antes de ir para a cama dormir,  vou primeiro ao quarto dos meus pais pedir-lhes a bênção: “A Bênção, pai… A bênção, mãe…” E eles respondem: “Deus te abençoe, filha”. Tal é a natureza da bênção, segundo o documento: incondicional. Logo, ela não tem a mesma natureza de um sacramento, que exige um conjunto de exigências e regras. Sendo assim, nenhum filho, mesmo vivendo uma vida pecaminosa, veria negada uma bênção por parte de sua mãe. Pois qual mãe se negaria a abençoar o filho quando este pede-lhe? E que mãe iria examinar primeiro a vida de seu filho, para conferir se ele anda corretamente conforme seus ensinos, antes de dar-lhe a bênção? Nenhuma. E a Igreja é a Mãe de todos os cristãos. Então essa é a maneira como o Vaticano está tratando o tema: aos padres é permitido dar bênçãos a homossexuais quando estes lhes pedirem, ainda que em par. Qual foi a repercussão que isso teve? Quase apocalíptica! E eu entendo bem os escandalizados. Mas é importante fornecer aqui a posição e o argumento do Magistério. Além disso, a mídia e várias páginas notificaram rapidamente a matéria como se o Papa estivesse convocando os homossexuais a casar na Igreja de véu e grinalda, ignorando completamente a doutrina complexa em torno do tema. Então não é surpresa as pessoas estarem chocadas.

 

A RESPOSTA DO PAPA

 

Na letra A da reposta do Papa nas dubia, é apresentada a natureza imutável do matrimônio conforme a doutrina da Igreja, dizendo que tal realidade é muito clara e não condiz com as uniões civis homoafetivas. Assim ele acrescenta que ela [a bênção] a homossexuais só poderia ser administrada por um sacerdote se ELA NÃO COMUNICAR  ALGUM CONCEITO ERRADO DE MATRIMÔNIO. Veja que segundo esse mesmo raciocínio da natureza incondicional da bênção, que é diferente do sacramento, o qual é condicional, podemos perceber claramente que nem por um momento poderíamos pensar que o Papa estava sendo leviano ou relativista com o preceito, pois uma mãe, amorosa que seja, ao decidir abençoar seu  filho em notório estado de desobediência e pecado, NÃO está por meio de tal ato na verdade abençoando sua desobediência ou pecado, mas sim a pessoa que ele é, isto é, o indivíduo que é seu filho amado e querido. Então, trocando em miúdos, ao dizer que os sacerdotes poderiam abençoar indivíduos, um, dois, ou mesmo três que viessem até eles com humildade, buscando uma direção do seu Pai para viver melhor por meio da Mãe Igreja, mesmo que confessem a opção sexual publicamente… mas contanto que tal bênção NÃO COMUNIQUE  ALGUM CONCEITO ERRADO DE MATRIMÔNIO, o Papa ESTÁ dizendo exatamente que Não, não é possível abençoar as uniões. É verdade que é possível vislubrar alguns problemas com essa atitude pastoral no que tange a prudência, mas ela não fere a ortodoxia. Os padres não têm poder para abençoar as uniões em si, porque estas, inevitavelmente, “comunicariam uma concepção errada de matrimônio”, o que FICOU VEDADO em tais casos. Essas são as palavras exatas do Papa Francisco:

 

 

Você pode ter acesso ao conteúdo completo do documento e uma análise dele aqui.

 

 

E também pode conferir o original aqui.

 

CONCLUSÃO

 

Diante de tudo que foi exposto, podemos concluir que o Papa Francisco não concedeu à Igreja o direito de abençoar uniões homoafetivas, mas apenas salientou aos sacerdotes a possibilidade de abençoar indivíduos homossexuais que vierem até eles, tal como filhos que carecem de consolo, abertura e acompanhamento pastoral. Conforme já reiteradas vezes foi dito, a Igreja não tem poder para abençoar uniões homoafetivas em si porque isso confundiria os fiéis quanto à realidade do conceito de matrimônio, e tal fato não é fundado em preconceito, como disse a CDF, não pretende ser uma forma de discriminação injusta, mas sim um lembrete da verdade do rito litúrgico”.

Leia sobre o Fiducia Supplicans aqui.

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Kertelen Ribeiro

Kertelen Ribeiro é uma ex-protestante convertida ao catolicismo romano. Sendo leiga, faz parte da Legião de Maria. Ama ícones, arte e se arrisca no desenho, mas ainda não sabe fazer sombra direito. Graduada em Letras – Português e pós-graduada em Tradução do Inglês pela Estácio, atua como tradutora freelancer e deseja servir a Cristo, se esforçando para fazer a Sua vontade. Livros sempre foram o caminho.

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Kertelen Ribeiro é uma ex-protestante convertida ao catolicismo romano. Sendo leiga, faz parte da Legião de Maria. Ama ícones, arte e se arrisca no desenho, mas ainda não sabe fazer sombra direito. Graduada em Letras – Português e pós-graduada em Tradução do Inglês pela Estácio, atua como tradutora freelancer e deseja servir a Cristo, se esforçando para fazer a Sua vontade. Livros sempre foram o caminho.

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