DIABÓLICA PARA UNS, DIVINA PARA OUTROS
O Credo Apostólico nos orienta a dizermos juntos: “Creio na Santa Igreja Católica”. E eu, como muitas pessoas, já me perguntei que Igreja Católica é essa, e já tive problemas com a resposta. Definir sua identidade é o ponto principal aqui, já que o título se encontra ligado a todo tipo de ofensas, tais como “heresia”, “idolatria”, “intolerância” e “fanatismo”, mesmo em um país considerado de fundação católica como o Brasil. A parcela da população que com desdém e desprezo ouve o nome “catolicismo” o faz por ele estar – segundo elas – atrelado a uma velha instituição milenar ultrapassada, supersticiosa e totalmente maligna, a qual nem deveria existir mais no mundo moderno. A outra parcela de pessoas, por outro lado, trata com a maior devoção possível tal título, considerando a instituição que o carrega simplesmente o protótipo do Reino dos céus na terra. Para os últimos, ela é divina; para os primeiros, é diabólica.
A HOSTILIDADE CONTRA O CATOLICISMO
Os grupos hostis à Igreja Católica são inúmeros, e seus opositores, os mais variados possíveis. Há quem acredite que qualquer pessoa que a defenda o faz simplesmente movido pelo mais terrível fanatismo ou pela ignorância. Geralmente dois fatores depõem contra ela: 1) a inflexibilidade dogmática diante de temas como aborto, divórcio, etc., fazendo com que a instituição seja considerada retrógrada por partidários de ideias modernistas; e 2) fatos históricos negativos, como abusos cometidos por membros do clero e autoridades, que são maximizados de tal forma a demonizar toda a instituição e condená-la por completo e sem direito a defesa. Quanto a outros grupos, os segmentos religiosos contrários a ela, normalmente a hostilidade se deve à não aceitação da identidade proposta pelos que defendem a origem divina da instituição, já que estes alegam ser ela a Verdadeira Igreja de Jesus Cristo e aqueles discordam. Os opositores no Brasil variam entre ateus, agnósticos, membros de religiões de origem africana, muçulmanos, espíritas, judeus e protestantes. Sem dúvida, o de maior destaque e expressão atualmente no Brasil é o último, compondo 31,8% da população em 2020 [1]. O preconceito contra o catolicismo não é novo, contudo, convém destacar que ele tem se acentuado com o declínio da influência da instituição. Soma-se a isso o fato de que, uma vez que no primeiro século, a comunidade católica era a que detinha o testemunho apostólico [cartas, livros e documentos repassados e preservados nas comunidades fundadas pelos seguidores do Senhor Jesus] e com certa centralização, ele [preconceito] não procedia com facillidade de pessoas que confessavam a fé em Jesus. Ainda mais num contexto de perseguição. À medida que alguns grupos passaram a questionar as doutrinas católicas e, em casos mais sérios, decidiram se separar dela, entretanto, começou a desenvolver-se hostilidade nas comunidades dissidentes.
O QUE É HERESIA?
Em geral, as pessoas pertencentes aos grupos contrários à Igreja Católica ficavam conhecidas pelo nome de “hereges”, sofrendo certa rejeição social. Há também outra terminologia com variações: “cismáticos”. A primeira palavra é de origem grega háiresis, que significa “escolha”, por seus adeptos escolherem [segundo os católicos] o partido ou a interpretação pessoal de um líder popular reconhecido do povo, em detrimento do corpo de doutrinas cristãs considerado oficial e ortodoxo, sustentada pelo colegiado de bispos e pelos concílios em sucessão apostólica. “Heresia” é, portanto, considerada um desvio da reta fé, a pregação de um evangelho diferente daquele confiado às comunidades apostólicas. Muito importante dizer que, em geral, os fundadores desses grupos eram na maioria das vezes sacerdotes da própria instituição oficial, cuja interpretação das escrituras fora condenada em algum concílio ou sínodo pelas autoridades da Igreja de sua época, isso pelo fato de seus ensinos terem sido considerados, no processo, como um rompimento da fé “de sempre”, ou da doutrina tradicional (em conformidade com a tradição ou com o costume antigo). As pessoas das comunidades formadas por eles ficavam então conhecidas por seu nome, e, segundo S. Atanásio, arcebispo de Alexandria e Doutor da Igreja entre os anos 328 e 373 d. C., esse costume se deve ao fato de que, seguindo algum homem popular, eles decidiam se separar/cortar da comunidade original fundada por Cristo, consiedada verdadeiramente católica, por manter a sucessão de bispos legítima, juntamente com a doutrina sem mistura em continuidade com os apóstolos.
Atanásio de Alexandria
[…] mas aqueles que seguiram Marcião não foram mais chamados de cristãos, mas dali em diante eram marcionitas. Assim também ocorreu com Valentino, Basilides, Maniqueu e Simão Mago, que deram seu próprio nome a seus seguidores; e alguns são abordados como valentinianos, ou como basilidianos , ou como maniqueus, ou como simonianos; e outros, catafrígios da Frígia, e de Novatus, vieram os novacianos. Assim também Melécio, quando foi expulso por Pedro, o bispo e mártir, não chamou mais seu partido de cristãos, mas de melecianos, e assim, em consequência, quando Alexandre de abençoada memória expulsou Ário, aqueles que permaneceram com Alexandre continuaram sendo chamados de cristãos; mas aqueles que saíram com Ário, deixaram o Nome do Salvador para nós, os que estávamos ao lado de Alexandre, sendo dali em diante denominados arianos. Veja então, depois da morte de Alexandre também, aqueles que têm comunhão com seu sucessor Atanásio, e aqueles com quem o dito Atanásio mantém a comunhão, são instâncias da mesma regra; nenhum deles leva seu nome, tampouco é nomeado por eles, mas todos, da mesma maneira, e como é usual, são chamados pelo nome de cristãos. Pois embora tenhamos uma sucessão de mestres e nos tornemos seus discípulos, ainda assim, pelo fato de que somos ensinados por eles as coisas de Cristo, ambos somos chamados de cristãos da mesma forma. Mas aqueles que seguem os hereges, embora tenham inúmeros sucessores a seguir sua heresia, ainda assim carregam o nome daquele que a idealizou.
Discurso 1 de Contra os Arianos, cap. I, 3
Ário, por exemplo, foi um dácono de Alexandria que deu origem ao termo “ariano”, que era aquela pessoa que abandonava a Igreja Católica para seguir a doutrina de Ário. Os montanistas seguiram Montano quando este se separou. E os Pelagianos, a Pelágio. Nem todos eram chamados pelo nome do pai fundador daquela corrente doutrinária, conforme S. Atanásio disse, mas alguns recebiam seu título em razão de uma característica específica que servia como distintivo oficial do grupo, em geral de caráter doutrinário. Os docetistas, por exemplo, foram intitulados assim em razão do termo [dokeō], que significa “parecer” ou “aparência”, porque ensinavam que Jesus apenas aparentava ser humano, mas não era. Havia uma forte rigidez com respeito ao caráter maligno dos cismas e das divisões, como podemos ver nos escritos de S. Inácio, o terceiro bispo da Igreja de Antioquia, entre 68 e 107 d.C., sendo considerado pela Tradição como um direto sucessor dos apóstolos e constituído por eles:
Inácio de Antioquia
Porque todos os que são de Deus e de Jesus Cristo também estão com o Bispo. E todos os que, no exercício do arrependimento, retornarem à unidade da Igreja, estes também pertencerão a Deus, de modo que possam viver de acordo com Jesus Cristo. Não erreis, meus irmãos. Se alguém seguir o homem que cria um CISMA (causa divisão) na Igreja, o tal não herdará o reino de Deus. Se alguém andar segundo uma opinião estranha, o tal não está em comunhão com a paixão [de Cristo].
Veja como a Igreja Primitiva desprezava o comportamento daqueles que se desligavam da comunhão do Bispo e da Mesa Eucarística. Eles eram tidos como verdadeiros assassinos, sendo a vítima o próprio Cristo, cujo Corpo eles rompiam, partindo-o ao meio através do Cisma. Santo Agostinho chega a declarar que é melhor alguém ter sido sempre pagão do que, tendo sido alguma vez católico, abandone a comunhão da Igreja [o aprisco do Pastor], seguindo um estranho [Jo 10,5]. Mas e quanto a hoje em dia? Por acaso a Igreja Católica mudou seu pensamento com respeito à unidade, à malignidade da heresia e do cisma? A resposta é não. Todavia, como tudo na vida, explicar isso é mais complexo do que se pensa. Mas tentemos!
COMO TRATAR OS QUE SE SEPARAM?
Muitas doutrinas da Igreja passaram por um desenvolvimento doutrinário no decorrer dos anos. Isso significa que a revelação foi sendo compreendida em sua complexidade a partir de um longo processo de reflexão racional e filosófica que, muitas vezes, durou séculos, envolvendo, na maioria dos casos, debates e discussões acaloradas entre os membros da comunidade da fé e, às vezes, a instauração de concílios. Ocasionalmente, alguns desses embates teológicos para a consolidação de doutrinas levaram a cisões na Igreja, algo condenável, uma vez que a Escritura ordena a unidade dos seguidores de Cristo. Muitos momentos como estes causaram feridas e escândalos. Por séculos, a Igreja tratou aqueles que perseveravam na comunhão como verdadeiros cristãos, considerando os separatistas como herdeiros do inferno. Mas algo mudou.
O DESENVOLVIMENTO DOUTRINÁRIO
Hoje, assim como antes, a Igreja considera um pecado grave o ato de separar-se. Está escrito: “Busca seu próprio desejo aquele que se separa” [Pv 18,1]. Bem como também: “Não abandonemos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas admoestemo-nos mutuamente, e tanto mais quando vedes aproximar-se o Grande Dia” [Hb 10, 25]. E mais: “Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isso se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos”. [1 Jo 2,19] A Bíblia está sempre condenando o denominacionalismo e a cisão dos crentes em Cristo, de capa a capa. Todavia, graças a um amadurecimento doutrinário com respeito à doutrina do pecado e da responsabilidade humana, a Igreja teve mais um desenvolvimento nac compreensão do quesito “culpabilidade do pecador”. Isso afetou a maneira como ela via os chamados “hereges”. Você já deve ter ouvido a seguinte assertiva do Venerável Dom Fulton Sheen:
“Não existem sequer cem pessoas nos Estados Unidos que odeiam a Igreja Católica. Mas existem milhões que odeiam o que elas acham que a Igreja Católica é”

Harris & Ewing, Fotógrafos
[Domínio Público]
Muito bem! Fulton Sheen, ao dizer isso, está apenas reproduzindo uma noção de culpabilidade material que se desenvolveu no seio do Cristianismo em período bastante longo, tendo seu ápice nos escritos de grandes mentes de teólogos da Escolástica, mas positivada de forma definitiva nos documentos oficiais da Igreja apenas no século XIX. Se você deseja saber mais sobre Desenvolvimento da Doutrina, veja aqui. Ele admite que há pessoas com ódio da Igreja Católica, também confirmando que esta é uma atitude má e pecaminosa, mas ele também considera que a maioria dessas pessoas não está mal intencionada ao fazê-lo. Pelo menos não conscientemente e não plenamente. Elas estão enganadas. Elas foram levadas, por um conjunto de fatores diversos, tais como propaganda anti-católica, distorções de informações históricas, ignorância e até preconceito, a desprezarem a Igreja como maligna. Há alguma responsabilidade nelas, mas não uma responsabilidade completa. Pelo menos não todos.

Catholic Press Photo [Domínio Público]
É por isso que o documento do Concílio do Vaticano II, Lumen Gentium 67, chama os indivíduos componentes de alguns destes grupos com o afetivo termo “irmãos”. A Igreja não ignora a malignidade daquilo que os cortou da comunhão, que é, em sua raiz, a heresia, o pecado ou a ignorância, todos elementos malignos, mas ela reconhece a espiritualidade desses indivíduos, admitindo que em seu meio há bênçãos que lhes são ministradas por meio de elementos de santificação e verdade advindos indiretamente da Igreja Católica, de onde se separaram, e os convoca fraternalmente à unidade, com docilidade, respeito e amor. Eles são irmãos, contudo, “irmãos separados”. Se quiser mais sobre isso, sugiro o artigo Ecumenismo Bom.
O QUE É CATÓLICO?
Para haver diferenciação entre os cristãos que mantinham a fé como um todo (crença ortodoxa) daqueles que enfatizavam apenas alguma característica particular ou parcial da verdade, substituindo o restante pelas opiniões de um líder popular (heterodoxa = mistura), um outro termo nasceu. Como mencionado, toda heresia dizia respeito a uma escolha de parte, uma crença fragmentada da totalidade, ou seja, do todo. Sendo que alguns optavam por separar-se da comunhão do todo, então, como era chamado o grupo que ficava com o Bispo? Eram os católicos. Quando o termo kataholos foi criado, que é de onde vem a palavra “católico”, isso se deu num contexto em que a fé já estava sob ataque, no fim da era apostólica. Sua existência se deu com o objetivo de enfatizar a autoridade do bispo e das decisões conciliares da Igreja como forma segura de se validar a ortodoxia contra julgamentos parciais/particulares/heréticos. O intuito era manter a unidade da fé, representada pela mesa do Senhor (Eucaristia), pela pregação ortodoxa (seguindo a Tradição e a Escritura) e pela autoridade lícita (sucessão apostólica). Dividir a mesa do Senhor era o pecado do cisma, omitir algum termo da Escritura, também, bem como seguir um estranho: tudo isso dividia o próprio Cristo, posto que a Igreja é Seu Corpo. Cada decisão da mesa comunal (o colegiado de bispos) deveria seguir as regras do jogo, jamais sendo arbitrária ou desordeira, uma vez que as palavras de Jesus sobre a sacralidade da Igreja (“as portas do inferno não prevalecerão” ou “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu”) ecoavam a fidelidade do próprio Deus em sua promessa de sustentar a Sua obra até o fim do mundo. Dessa maneira, toda vez que surgia uma controvérsia, havia a análise da tradição (o costume antigo), das Escrituras e a autoridade episcopal era considerada competente para decidir a questão. Foi assim que, pela primeira vez, ficou registrado o título “católica” atribuído à Igreja no ano 110 d. C. por Inácio de Antioquia. Ele havia sido discípulo de São João, o Apóstolo, e fora ordenado bispo por São Pedro.
Certifique-se de que todos sigam o bispo, assim como Jesus Cristo segue o Pai, e o presbitério como seguiriam aos apóstolos; e de reverenciar os diáconos, como sendo instituição de Deus. Que ninguém faça nada relacionado à Igreja sem o bispo. Que seja considerada uma única Eucaristia adequada, que é [administrada] pelo bispo ou por alguém a quem ele a confiou. Onde quer que o bispo apareça, esteja também a multidão [do povo]; assim como, onde quer que Jesus Cristo esteja, aí está a Igreja Católica. Não é lícito sem o bispo batizar ou celebrar uma festa de amor; mas tudo o que ele aprovar, isso também será agradável a Deus, para que tudo o que for feito seja seguro e válido.
Santo Agostinho também aparece enfatizando a diferença entre os católicos e os variados grupos dos hereges:
E assim, finalmente, o próprio nome de católico, que, não sem razão, em meio a tantas heresias, a Igreja assim o manteve; de modo que, embora todos os hereges desejem ser chamados de católicos, quando um estranho lhes pergunta onde a Igreja Católica se reúne, nenhum herege se atreverá a apontar para sua própria capela ou casa.
Santo Agostinho, Contra a Epístola dos Maniqueus 4
O vocábulo que S. Inácio usou para se referir à Igreja de Cristo, tendo sua origem na junção de dois termos, cujo sentido é “de acordo [κατά] com o todo [ὅλος, holos]”, exprime a ideia de uma fé total/universal. Era aquela Igreja que mantinha a prática apostólica sem desvios e por completo, estando em comunhão initerrupta com os apóstolos, simbolizados na pessoa do Bispo em sucessão linear e em unidade com todos os fiéis ao evangelho em todo o tempo e em todo lugar, simbolizada pela comunhão de seu corpo (os santos mistérios: Eucaristia).
A TESE DE ADULTERAÇÃO ROMANA E O SOLA SCRIPTURA
Todas as comunidades antigas hostis à Igreja Católica sem exceção seguiram um caminho considerado dissidente na fé por parte do grupo oficial [dependendo da interpretação adotada por seus líderes fundadores]. Todavia, há no movimento atual de hostilidade contra o Catolicismo uma novidade: por abraçar uma ideia específica acerca da história da Cristandade, esses percursos destoantes causaram diferenças ainda mais acentuadas, e isso é uma particularidade moderna. A ideia de Adulteração Romana não é nova, mas a sua sistematização por parte de certos grupos é. Segundo sua principal argumentação, a apostasia aconteceu na Igreja de Jesus no espaço de tempo entre o século III e IV, período crucial para se compreender o que fez com que a instituição que hoje detém o título de “católica” perdesse sua identidade e pureza cristã. Essa ideia foi afirmada por inúmeros grupos, sobretudo no período da Reforma Protestante. Conforme ela, a adulteração foi causada pelo contato do Cristianismo com a cultura pagã de Roma. Como os dissidentes da antiguidade estavam mais próximos da origem cristã do que os atuais, eles nunca poderiam sustentar essa tese em defesa de suas heresias, então ela ficou restrita à Modernidade. Isso pelo fato de que, como os acusadores atuais possuem registros mais abundantes dos séculos IV em diante, eles assumem que essas práticas que condenam não ocorriam antes, algo que não poderia ser alegado pelos antigos. Alguns ligam a suposta adulteração ao imperador romano Constantino I (272 – 337), outros a algum outro fator, mas todos mencionam a “paganização romana” como fundamento, e a ambientam entre o século III e IV. O problema é que à medida que nos aprofundamos nas práticas e doutrinas defendidas pelas primeiras comunidades cristãs antes de 313, período em que Constantino realizou o maior ato de defesa dos cristãos da antiguidade, demonstrando seu favorecimento ao proibir as perseguições de cristãos, percebemos que, ainda que elas fossem mais sutis ou menos desenvolvidas, elas já estavam lá, o que mostra como essa tese é frágil. Se você deseja saber mais sobre isso, sugiro o texto: “Católico, mas não romano”: Argumentos contra a Teoria da Adulteração Romana.
___________________________________________________________________________________
Foi junto de tal ideia que um princípio muito caro aos mais assíduos acusadores da Igreja Católica se desenvolveu, como um tipo de escudo, mecanismo de defesa e antídoto contra possíveis adulterações: O Sola Scriptura. Muitos que abraçaram a ideia moderna da adulteração, consequentemente, passaram a desprezar a tradição e o Magistério como fonte de autoridade junto da bíblica por ver neles a razão das corrupções: O jargão de “A Bíblia somente” passou a ser adotado. E isso gerou mudanças mais significativas nos movimentos resultantes do que já se viu na história do Cristianismo.
A IGREJA PRÉ-CONSTANTINO E AS “ADULTERAÇÕES ROMANISTAS”
Se qualquer pessoa ler documentos escritos pelos cristãos no período anterior a 313, logo se chocará com várias condutas que hoje grupos hostis à Igreja Católica chamam pelo título de “romanistas” ou “romanas” praticadas por cristãos devotos e fiéis da Igreja Primitiva. Veja bem: antes de 313 d. C.! E mais: eles não as tratavam como uma adulteração do Império Romano, que os perseguia na época, muito menos como paganismo inventado por Constantino, mas como legítimas doutrinas cristãs. Essa tese de adulteração é mais uma das razões pelas quais a Igreja Católica tem sido alvo de preconceitos e por isso achei importante citá-la aqui. Se você deseja saber um pouco mais sobre a fé dos antigos cristãos antes de 313, sugiro que você leia outro texto: Antes de 313: Como era a Igreja antes de Constantino? Por causa dessa ideia, muitas pessoas odeiam a Igreja Católica e inclusive há quem demonstre desprezo até mesmo pelo título de católico, demonizando-o, coisa que não ocorria no passado, conforme podemos ver em Agostinho, anteriormente citado.
‘CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA’
São Paulo descreveu o Evangelho de Cristo como “o poder de Deus para salvar todo aquele que crê” (Romanos 1: 16), e esse tipo de expressão para aludir a uma mensagem soa tão forte, que não podemos pensar que ele acreditava que ela seria vencida tão facilmente quanto muitos afirmam. É bem verdade que os gálatas são acusados de trocar o evangelho por um novo (Gálatas 1: 6-9), mas isso nem de longe constituía a queda da Igreja como instituição. No máximo, houve membros daquela região específica que ensinaram uma heresia, a qual foi condenada pelo corpo de autoridades cristãs da época. Ou seja, embora alguns possam ter se desviado seguindo algum herege, a Igreja permaneceu. O mesmo esquema mencionado: sendo a comunidade corrigida, logo identificava-se os hereges e a fé era preservada. É assim que a Igreja perdura até hoje. Inclusive podemos dizer que esse incidente não era um fenômeno isolado: A Igreja contou com muitos eventos semelhantes durante toda a sua trajetória, mas sempre triunfou e saiu da controvérsia mais fortalecida do que antes. Esses grupos que historicamente combateram a Igreja jamais saíram vitoriosos sobre ela, porque além de os apóstolos terem em alta estima a instituição que estavam fundando, como vimos nas palavras de São Paulo, podemos citar também como exemplo o próprio Cristo, que ao ver os setenta retornarem de sua missão evangelística, declarou: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu” (Lucas 10:18). Ora, o Senhor disse isso com respeito à vitória da Igreja sobre o poderio do diabo, através da pregação do evangelho que se estenderia até os confins do mundo. É exatamente para essa confiança que o Credo aponta, quando os cristãos dizem juntos na missa: “Creio na Santa Igreja Católica”. Eles afirmam que acreditam firmemente que Deus manteve e manterá sua obra até o fim. Ela não cairá diante do ardil de Satanás. Além do mais, há muitos testemunhos históricos da Patrística que depõem em contrário a essa aversão atual a Roma nos primórdios da Cristandade, bem como o próprio testemunho das Escrituras. Caso queira saber quais, sugiro a você outro texto: Roma paganizou a Igreja? Qual a relação entre Roma e a Igreja Católica?
CONCLUSÃO
Espero que eu realmente tenha ajudado você a compreender melhor essa instituição bastante controversa na mente de alguns, mas que sem dúvida tem uma origem gloriosa, a qual ninguém pode negar (nem mesmo os seus inimigos mais ferozes). A Igreja Católica é com certeza a instituição mais sólida que temos, a instituição-matriarcal e basilar da nossa cultura e sociedade, sendo a que mais contribuiu para moldar a visão ocidental de mundo, servindo como um fundamento para nossas sociedades e para as relações que nela existem durante o decorrer de dois mil anos. Contudo, é muito importante ressaltar, ela não é somente isso, e espero mesmo que você seja uma das pessoas a perceber essa verdade, se tornando parte dessa Igreja, a qual foi fundada pelo Senhor no começo. Deus abençoe.
[1] Fonte: José Eustáquio Alves.




