Muitos enfatizam uma aparente e suposta oposição entre s. Paulo e s. Tiago com relação a fé e obras. As pessoas frequentemente se esforçam para embasar suas posições de forma bem convincente, alegando textos-prova e sugerindo caminhos e explicações. Esta é uma daquelas complexas estruturas textuais de que nos falou s. Pedro [2 Pedro 3, 16], e que constituem dificuldade interpretação da Bíblia. Mas vamos aos textos, pois esta não é uma temática fácil. E um ponto interessante é que ambos os santos traçam seus argumentos em torno principalmente de um acontecimento envolvendo o pai Abraão.
SÃO PAULO
2.Porque, se Abraão foi justificado em virtude de sua observância, tem de que se gloriar; mas não diante de Deus.
3.Ora, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado em conta de justiça (Gn 15,6).
4.Ora, o salário não é gratificação, mas uma dívida ao trabalhador.
5.Mas aquele que sem obra alguma crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada em conta de justiça.
6.É assim que Davi proclama bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente das obra
S. Paulo diz: Ele foi justificado pela fé independentemente das obras; enquanto S. Tiago declara: Ele foi justificado pelas obras e não somente pela fé. Parece contraditório, mas não é.
SÃO TIAGO
20.Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?
21.Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar?
22.Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas.
23.Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus (Gn 15,6).
24.Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?
É monergismo num sentido em que a iniciativa da salvação e todos os meios fornecidos para ela se concretizar vêm de Deus. Todavia, é sinergista na medida em que o homem é chamado a permanecer dócil ao Espírito e aberto a cooperar com a graça divina, uma vez que Deus o capacita a recebê-la e por meio dela trabalhar. O homem não permanece morto para sempre em sua relação com Deus [estado bastante enfatizado por alguns grupos em razão da passagem de Efésios 2,1: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados”]. Esse estado inerte é apenas inicial. Após ser introduzido na vida do Espírito, o homem recebe poder para trabalhar sua salvação [Filipenses 2,12], permanecendo ou não na Videira. É sobre isso que s. Paulo fala, quando aconselha seus ouvintes a operar/trabalhar sua salvação com espírito de temor e tremor nessa passagem, isto é, cooperando e se deixando guiar pelo Espírito de Deus e não entristecê-lo [Efésios 4,30], extinguindo a obra dEle [1Tessalonicenses 5,19], o que torna a graça inútil/vã [1Coríntios 15:10]. Leia mais sobre isso aqui.
Os que são carnais não podem fazer as coisas que são espirituais , nem os que são espirituais as coisas que são carnais; assim como a fé não pode fazer as obras da incredulidade, nem a incredulidade as obras da fé .
O Sacrifício de Isaque,Rembrandt (1606–1669)
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