O Papa Francisco respondeu às dúvidas levantadas pelos cardeais. DUBIUM V – ARRENDIMENTO E RESOLUÇÃO DE NÃO PECAR MAIS SÃO AINDA CONDIÇÕES PARA ABSOLVIÇÃO?

joanadarc

joanadarc

O Papa Francisco respondeu às cinco dubia que lhe foram enviadas em julho de 2023 pelos cardeais Walter Brandmüller e Raymond Leo Burke com o apoio de outros três cardeais, Juan Sandoval Íñiguez, Robert Sarah e Joseph Zen Ze-kiun. As perguntas dos cardeais e as respostas do Papa foram publicadas em 2 de outubro, no site do Dicastério para a Doutrina da Fé. O ponto de maior polêmica, e com certeza aquele mais discutido diz respeito à união entre pessoas do mesmo sexo, tendo sido tratado com mais detalhes na Dubium 2 e na Nota- Resposta (Responsum ad dubium) 

 

As palavras iniciais do Papa, antes de começar a responder as perguntas foram estas:

 

“Queridos irmãos, embora nem sempre pareça prudente responder às perguntas que me são dirigidas diretamente, e seria impossível responder a todas, neste caso pareceu apropriado fazê-lo devido à proximidade do Sínodo”.

 

Dubium 1

Dubium 2

Dubium 3

Dubium 4

 

Dubium 5

 

 

5) Dúvida acerca da afirmação de que “o perdão é um direito humano” e a insistência do Santo Padre sobre o dever de absolver todos e sempre, para o qual o arrependimento não seria condição necessária para a absolvição sacramental.

 

Questiona-se também se ainda está em vigor o ensinamento do Concílio de Trento, segundo o qual, para a validade da confissão sacramental, é necessária a contrição do penitente, que consiste em detestar o pecado cometido com o propósito de não pecar mais (Parágrafo XIV, Capítulo IV: DH 1676), de modo que o sacerdote deve adiar a absolvição quando estiver claro que esta condição não foi realizada.

 

Resposta do Papa Francisco:

 

a) O arrependimento é necessário para a validade da absolvição sacramental  e implica a intenção de não pecar. Mas aqui não há matemática e devo recordar mais uma vez que o confessionário não é uma alfândega. Não somos os donos, mas sim os humildes administradores dos Sacramentos que nutrem os fiéis, posto que tais dons do Senhor, mais do que relíquias a conservar, são um auxílio do Espírito Santo para a vida das pessoas.

b) Existem muitas maneiras de expressar arrependimento. Muitas vezes, nas pessoas que estão com a autoestima muito ferida, declarar culpa é uma tortura cruel, todavia, o simples ato de se aproximarem da confissão é uma expressão simbólica de arrependimento e de busca por ajuda divina.

c) Quero também recordar que “às vezes é muito difícil para nós dar lugar na pastoral ao amor incondicional de Deus” (Amoris laetitia 311), contudo, devemos aprender a fazer isso. Seguindo são João Paulo II, defendo que não devemos pedir aos fiéis propósitos de correção demasiado detalhados e certos, que no final  acabam por ser abstratos ou mesmo egoístas, mas que mesmo a previsibilidade de uma nova queda “não prejudica a autenticidade do propósito”* (são João Paulo II, Carta ao Cardeal William W. Baum e aos participantes do curso anual da Penitenciária Apostólica, 22 de março de 1996, 5).

d) Por fim, deve ficar claro que todas as condições que normalmente se colocam na confissão geralmente não são aplicáveis quando a pessoa se encontra numa situação de agonia ou com as suas capacidades mentais e psíquicas muito limitadas.

 

______________________________________________________________________

 

* Sobre a Autenticidade do Propósito Cofessional diante da Previsibilidade ou Possibilidade de Nova Queda em razão de Fraqueza da qual o Fiel é consciente 

 

A citação do Papa Francisco deve ser acompanhada do contexto no qual São João Paulo II destacou essa possibilidade na Carta ao Cardeal William W. Baum e aos participantes do curso anual da Penitenciária Apostólica.  O documento é citado mencionando o cânone 8, e revela as vicissitudes dos sentimentos humanos diante da resolução requerida na confissão de não voltar a pecar. É evidente que cada fiel deve ser plenamente confiante no poder de Deus para tal, mas São Papa João Paulo ressalta que sucessivas quedas podem minar a confiança dos crentes, o que demonstra como, em alguns momentos, admitir que não mais pecará envolve uma atitude muito difícil de ser tomada por parte de alguns, que se encontram assaltados por uma fragilidade em sua vontade. A decisão no ato penitencial deve, portanto, basear-se num amor sincero e humilde a Deus, que espera na graça divina a força necessária para vencer um pecado persistente. Há necessidade de fortificar a fé, tanto no poder de Deus de realizar a obra de mudança, quanto na misericórdia:

 

É além disso evidente em si mesmo que a acusação dos pecados deve incluir o sério propósito de não os voltar a cometer no futuro. Se esta disposição da alma faltasse, na realidade não haveria arrependimento: este, de fato, tem por objeto o mal moral como tal, e portanto, não tomar posição contrária a respeito de um mal moral possível seria não detestar o mal nem ter arrependimento. Mas como este deve derivar, antes de tudo, da dor por ter ofendido a Deus, assim o propósito de não pecar deve fundar-se sobre a graça divina, que o Senhor jamais deixa faltar a quem faz o que lhe é possível para agir de modo honesto. Se quiséssemos apoiar só na nossa força, ou principalmente na nossa força, a decisão de não voltar a pecar, com uma pretendida auto-suficiência, quase estoicismo cristão ou reverdecido pelagianismo, cometeríamos uma injustiça àquela verdade sobre o homem pela qual começamos, como se declarássemos ao Senhor, mais ou menos conscientemente, que não temos necessidade d’Ele. Convém também recordar que uma coisa é a existência do propósito sincero, e outra o juízo da inteligência acerca do futuro: com efeito, é possível que, embora na lealdade do propósito de não voltar a pecar, a experiência do passado e a consciência da atual debilidade causem o temor de novas quedas; mas isto não prejudica a autenticidade do propósito, quando a esse temor está unida a vontade, sufragada pela oração, de fazer aquilo que é possível para evitar a culpa. E aqui retorna a consideração da confiança, que deve acompanhar a detestação do pecado, a humilde acusação dele, a firme vontade de não voltar a pecar. Confiança é exercício, possível e necessário, da Esperança sobrenatural pela qual esperamos da Bondade divina, por causa das suas promessas e dos méritos de Jesus Cristo Salvador, a vida eterna e as graças necessárias para consegui-la. É ato também daquela estima que devemos a nós mesmos, enquanto criaturas de Deus, que nos tornou já por natureza nobres acima de toda a criação material, elevou-nos à Graça, redimiu-nos de modo misericordioso; é estímulo a empenharmo-nos com todas as nossas forças, lá onde a desconfiança é ceticismo e gelo paralisante.

Cânone 8

 

Foto de Simon Hurry na Unsplash

Picture of joanadarc

joanadarc

Sta Joana d’Arc nasceu através de um compromisso e do desejo de publicar obras notáveis de autores nacionais e estrangeiros, tanto de cunho filosófico e teológico, quanto de matéria infantil, fantástica e ficcional. Além de fazer renascer o espírito de tradições e valores antigos à sociedade como um todo, a publicação de obras que revelem a riqueza de nossa história é a melhor maneira de servir a humanidade.

Picture of joanadarc

joanadarc

Sta Joana d’Arc nasceu através de um compromisso e do desejo de publicar obras notáveis de autores nacionais e estrangeiros, tanto de cunho filosófico e teológico, quanto de matéria infantil, fantástica e ficcional. Além de fazer renascer o espírito de tradições e valores antigos à sociedade como um todo, a publicação de obras que revelem a riqueza de nossa história é a melhor maneira de servir a humanidade.

Compartilhe:

Mais postagens deste autor