Somente Deus é Santo?

Victor Rodrigues

Victor Rodrigues

Sem dúvida alguma, Deus é a fonte de toda santidade. Porém, isso não pode nos impedir de afirmar que ele confere santidade aos seus filhos. Ora! É o próprio Deus quem nos chama à santidade!

 

“Pois eu sou o Senhor, vosso Deus. Vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo. Não vos contaminareis com esses animais que se arrastam sobre a terra, porque eu sou o Senhor que vos tirou da terra do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque eu sou santo.”

Levítico 11. 44-45

 

Por que deveríamos pensar, então, que Deus nos pediria para fazermos algo que não conseguiríamos fazer? É evidente que nossa natureza humana foi corrompida pelo pecado, nos distanciamos de Deus. Mas Cristo nos reconciliou com o Pai e nos deu paz com Ele. (Cf. Romanos 5. 1) É o próprio Jesus Cristo que relembra o texto de Levítico e o chamado à santidade que Deus faz aos homens, nos dizendo “sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” em São Mateus 5. 48. Mais tarde, é São Pedro que em sua primeira carta citará diretamente as palavras ditas no livro de Levítico:

 

“A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.”

I São Pedro 1. 15-16

 

Nas cartas de São Paulo o chamado à santidade é notório, está por todos os lado!

 

“a todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos: a vós, a graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!”

Romanos 1. 7

“à igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Jesus Cristo, chamados à santidade, juntamente com todos os que, em qualquer lugar que estejam, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.”

1 Coríntios 1. 2

“e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos.”

Efésios 1. 4

“com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo.”

Filipenses 1. 10

“Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo.”

Filipenses 2. 14-15

 

Alguns dirão que Paulo chamava de santos todos os membros da Igreja. Sim, é verdade, a Igreja é santa, pois é o Corpo de Cristo, logo, chamar os membros desse Corpo de santos é natural. Mas isso não é o chamado à santidade, é simplesmente a constatação de que a pessoa é cristã e faz parte do Corpo! Se a santidade dependesse apenas da adesão e união ao Corpo Visível, por quais razões Cristo e os Apóstolos falariam constantemente sobre a santidade como algo a ser buscado também pelos já convertidos [isto é, por aqueles que já estavam na Igreja]? Pra quê? Apenas para sermos bonzinhos? Santidade não é ser bonzinho! Deus não quer pessoas boazinhas, pois qualquer um pode ser bonzinho, até os que não são cristãos. Deus quer santos! Por essa razão que, apesar de os membros da Igreja serem chamados de santos nas Escrituras, também há um chamado específico a uma santidade real. Nisso, existe também uma diferenciação de algumas pessoas que se destacaram, como os profetas, por exemplo, que são chamados de santos em São Lucas 1. 70 e Atos 3. 21.

 

“(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas)”

São Lucas 1. 70

“É necessário, porém, que o céu o receba até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus outrora pela boca dos seus santos profetas.”

Atos dos Apóstolos 3. 21

 

A santidade é fruto da ação da Graça de Deus no cristão. Ela nos leva a sermos como Cristo foi, e com isso auxiliamos os outros na caminhada. É Paulo quem diz “sede meus imitadores assim como eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11. 1). Ora! Paulo não diz “sejam imitadores só de Cristo”, ele diz “sejam meus imitadores”. Isso prova que podemos, e devemos, nos inspirar nos santos, pois estes caminharam mais intimamente com Cristo. Seguindo o exemplo deles, estamos seguindo a Cristo e nos aproximando mais dEle. Não estou dizendo que santidade é algo simples. De forma alguma! Todavia, não é algo impossível! Trata-se do plano da Trindade: que a vida divina atue e transforme o ser humano. São Pedro nos declara que Deus torna os homens mortais participantes da natureza divina [2 Pe 1,4]. É a vida divina que modifica o fiel até a glória. Se cremos que Deus pode todas as coisas, por que não deveríamos crer que Ele concede santidade aos que a buscam? Se você quer saber mais sobre esse efeito sobrenatural da graça quando Deus habita no homem transformando-o, leia aqui.

 

Foto de Grant Whitty na Unsplash

 

 

 

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Victor Rodrigues

Antônio Victor Matos Rodrigues, formado em Administração de Empresas e escritor independente, convertido ao catolicismo após viver como protestante desde a infância até os 27 anos.

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Antônio Victor Matos Rodrigues, formado em Administração de Empresas e escritor independente, convertido ao catolicismo após viver como protestante desde a infância até os 27 anos.

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