Respondendo a 9 Argumentos Protestantes sobre a Bíblia

Joe Heschmeyer

Joe Heschmeyer

Após a postagem de ontem, Brent Stubbs apontou que um protestante atencioso chamado Shawn Madden levantou uma série de argumentos contra a Bíblia Católica, e a favor da Bíblia Protestante, nos comentários do site Called to Communion (Chamados à Comunhão). Seu argumento completo está aqui, mas ele essencialmente apresenta nove pontos:

 

  1. Muitas versões da Tanak (Bíblia) usadas pelos judeus de língua grega diferiam do Antigo Testamento católico.

  2. As versões da Tanak que refletem o Antigo Testamento católico são de origem cristã, e não judaica.

  3. Podemos saber qual cânone Jesus sustenta por causa de Suas palavras em Mateus 23.35.

  4. Josefo, Filo, filho de Sirach, e Jesus têm o mesmo cânone e ordem em mente.

  5. O cânon na época de Sirach, Filo, Jesus e Josefo era conhecido, reconhecido e aceito por todo o Judaísmo sem a necessidade de se referir a um pronunciamento oficial.

  6. Foi pela “Concordância generalizada e difundida” que a Igreja derivou o seu cânon.

  7. Os católicos pensam que a Igreja deve confirmar o cânon com autoridade para que exista um cânon.

  8. Os concílios regionais de Cartago e Laodicéia discordam.

  9. Toda a igreja reconheceu quais livros eram Escrituras do NT (Jesus já lhes havia dito qual era a extensão da Tanak) desde o início e não precisou nem contou com um conselho autorizado.

 

Veja como respondi aos seus nove pontos:

1. Muitas versões da TNK usadas pelos judeus de língua grega diferiam do Antigo Testamento católico.

Verdadeiro. Houve muita variação no cânone judaico. Esta é uma das razões pelas quais o seu número 5 é falso.

 

2. As versões da TNK que refletem o Antigo Testamento católico são de origem cristã, e não judaica.

Verdadeiro. Isto aponta para o fato de que os primeiros cristãos eram na verdade muito mais claros sobre o cânon adequado das Escrituras do que os judeus helenistas.

 

3. Podemos saber qual cânon Jesus sustenta por causa de Suas palavras em Mateus 23.35.

Falso. Em Mateus 23:35, Jesus está condenando os fariseus. Ao fazer isso, Ele está usando o Cânone Farasíaco. Mas no capítulo anterior, quando Ele condena os saduceus em Mateus 22:23-33, Ele usa o cânon dos saduceus. Especificamente, Ele usa apenas a Torá para provar a Ressurreição (embora a Ressurreição seja muito mais facilmente comprovada em passagens como Daniel 12:1-3, 1 Samuel 28 e Salmo 16:9-10). Isso porque esse era o cânone usado pelos saduceus. Falo sobre isso no meu próprio blog aqui. Se você está procurando a confirmação de um cânon específico, consulte Atos 17:11, onde São Paulo elogia os bereanos helenísticos por lerem suas Escrituras.

 

4. Josefo, Filo, filho de Sirach, e Jesus têm o mesmo cânone e ordem em mente.

Falso. A única coisa que as passagens que você cita têm em comum é que todas elas falam sobre a ordem tríplice da TNK: Torá, Nevi’im e Ketuvim. Mas cada livro do Antigo Testamento católico é Lei (Torá), Profetas (Nevi’im) ou Escritos (Ketuvim). Tanto os católicos como os protestantes poderiam empregar esta ordem tripla se quisessem; ou não. Portanto, mostrar que os judeus classicamente colocavam as suas Escrituras nestes três grupos não nos diz quais livros estavam nesses grupos. É verdade que para alguns judeus (como Josefo e possivelmente Filo), a TNK incluía apenas a Bíblia protestante moderna. Mas este não foi o único cânone da TNK.

 

5. O cânon na época de Sirach, Filo, Jesus e Josefo era conhecido, reconhecido e aceito por todo o Judaísmo sem a necessidade de se referir a um pronunciamento oficial.

Falso. Se os saduceus usassem o cânon dos fariseus, Jesus não teria lidado com eles como fez. Como você disse no item 1, havia vários cânones mesmo entre os helenistas. Não houve nada que chegasse perto da unanimidade canônica durante o Judaísmo do Templo.

 

6. Foi a partir da “Concordância generalizada e difundida” que a Igreja derivou o seu cânon.

Parcialmente verdade. O sensus fidelium é certamente a forma mais antiga de conhecermos o cânone. Mas como você mesmo observou no item 8, os cristãos não concordavam completamente. Dito isto, é incrivelmente significativo o fato de que nenhum único cristão primitivo pareça ter aceitado o Antigo Testamento protestante. Eu examino uma lista bastante completa de candidatos aqui.

 

7. Os católicos pensam que a Igreja deve confirmar o cânon com autoridade para que exista um cânon.

Falso. A Igreja não cria a Verdade, ela a reconhece. Assim, a Igreja simplesmente afirmou o cânon das Escrituras que a maioria das pessoas sabia ser verdadeiro assim que uma minoria vocal começou a questioná-lo. Da mesma forma, Ela fez a mesma coisa com a Trindade, uma vez que as heresias não-trinitárias se tornaram uma ameaça. Em ambos os casos, a crença subjacente (tanto no do cânon das Escrituras como no da Trindade) era amplamente crido antes da definição formal. E o que é significativo, esse cânon das Escrituras era o católico.

 

8. Os concílios regionais de Cartago e Laodicéia discordam.

É verdade.* Os concílios regionais não são infalíveis, e o concílio de Laodicéia estava errado. Todavia, o de Cartago estava certo, e foi significativamente aceito pelo Papa Dâmaso I, que encarregou Jerônimo de tornar as versões desse cânone acessíveis à população de língua latina.

[*Laodicéia não afirma ser aquela uma lista de todos os livros inspirados, então tecnicamente não há um desacordo.]

 

9. Toda a igreja reconheceu quais livros eram as Escrituras do NT (Jesus já lhes havia dito qual era a extensão da TNK) desde o início e não era necessário nem dependia de um conselho autorizado.

Mais ou menos verdade. Laodicéia tem o cânon errado do Novo Testamento, omitindo o Apocalipse. Portanto, havia realmente uma necessidade de intervenção papal, que obtivemos (ver nº 8, acima).

 

Conclusão

 

A Igreja não decidiu os cânones do Antigo e do Novo Testamento separadamente, algo que é significativo. Ambos foram tratados como uma unidade – por exemplo, no Cânon 24 do Concílio de Cartago. Portanto, penso que seria um erro dizer que podemos retirar o nosso Antigo Testamento de um lugar (isto é, do consenso judaico, rejeitado pelos cristãos) e o nosso Novo Testamento de outro lugar (istpo é, do consenso cristão). Se o consenso cristão é o nosso guia, o Antigo Testamento católico é o mais preciso. Se vamos ignorar o consenso cristão quando não gostamos da resposta, então sejamos pelo menos honestos. À parte, este apelo ao consenso cristão, ou seja, ao sensus fidelium, é um apelo a uma Tradição Sagrada extra-bíblica, quer você a reconheça ou não. É uma admissão de que, pelo menos pra uma doutrina crítica (“quais livros estão na Bíblia?”), a sua resposta vem de fora da própria Bíblia, dos primeiros cristãos.

Resumindo: os judeus da época de Cristo não tinham um acordo sobre o cânone; quando houve um consenso geral judaico sobre o cânon, esse consenso foi rejeitado pelos primeiros cristãos; os cristãos tinham um consenso geral sobre o cânon das Escrituras, e era a Bíblia católica; o Concílio de Cartago, o Papa Dâmaso I, e a criação de uma Bíblia Vulgata para toda a Igreja apoiaram esta conclusão. Ninguém antes dos reformadores parece ter usado a Bíblia de 66 livros tão amada pelos protestantes.

 

Foto de Kiwihug via Unsplash

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Joe Heschmeyer

Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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