Porque Cristo disse que era, e foi assim que recebemos da Igreja, tal como de uma Mãe que fornece a instrução ao filho. Além disso, não encontramos qualquer indício em sua fala de que Ele tratasse ali de uma figura, tampouco os apóstolos que o ouviram falar “isto é meu corpo” entenderam aquela frase como figurativa, e nem os cristãos que os sucederam na Igreja Primitiva. Alguns podem julgar que são mais capazes de entender o sentido real das palavras de Jesus do que essas pessoas, mas nós acrediatamos que o Espírito Santo inspirou a compreensão correta aos receptores das Palavras ditas, da mesma forma que Ele mesmo inspirou sua pronunciação. Eis abaixo alguns santos homen defesores da ortodoxia cristã e testemunhas da Fé expondo sua doutrina acerca da Eucaristia:
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
Pois embora eu esteja vivo enquanto escrevo para vocês, estou ansioso para morrer. Meu amor foi crucificado e não há fogo em mim que deseje ser alimentado; mas há dentro de mim uma água que vive e fala, dizendo-me interiormente: Vem para o Pai. Não tenho prazer em alimentos corruptíveis, nem nos prazeres desta vida. O que desejo é o pão de Deus, o pão celestial, o pão da vida, que é a carne de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que depois se tornou da semente de Davi e de Abraão; e o que desejo é a bebida de Deus, ou seja, o Seu sangue, que é amor incorruptível e vida eterna.
Inácio de Antioquia, Carta aos romanos 7, ano 110 d. C.
Observe os que têm opiniões heterodoxas sobre a graça de Jesus Cristo, que vieram até nós, e veja como suas opiões são contrárias à mente de Deus… Eles [os gnósticos] se abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não confessam que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu pelos nossos pecados e que o Pai, pela sua bondade, ressuscitou. Aqueles, portanto, que falam contra este dom de Deus, incorrem na morte em meio às suas disputas. Mas seria melhor para eles tratá-lo com respeito, para que também possam ressuscitar. Convém, portanto, que vocês se mantenham afastados de tais pessoas, e não falem delas em particular ou em público, mas deem ouvidos aos profetas e, acima de tudo, ao Evangelho, no qual a paixão [de Cristo] foi revelada a nós, e a ressurreição foi totalmente provada. Mas evite todas as divisões, como o início dos males.
Inácio de Antioquia, Carta aos Esmirnenses 6-7, ano 110 d. C.
SANTO IRINEU DE LYON
Mas vaidosos em todos os aspectos são aqueles que desprezam toda a dispensação de Deus, e desautorizam a salvação da carne, e tratam com desprezo a sua regeneração, sustentando que ela não é capaz de incorrupção. Mas se ela de fato não alcançasse a salvação, então nem o Senhor nos redimiu com o Seu sangue, nem o cálice da Eucaristia é a comunhão do Seu sangue, nem o pão que partimos é a comunhão do Seu corpo. (1 Coríntios 10:16) […] E uma vez que somos Seus membros, também somos nutridos através da criação (e Ele mesmo nos fornece a criação, pois faz nascer o Seu sol e manda chuva quando quer, Mateus 5:45). Ele, pois, reconheceu o cálice (que faz parte da criação) como Seu próprio sangue, do qual Ele faz fluir o nosso sangue; e o pão (também uma parte da criação) Ele estabeleceu como Seu próprio corpo, a partir do qual Ele dá crescimento aos nossos corpos. Quando, portanto, o cálice misturado – vinho e água – e o pão assado recebem a Palavra de Deus, e é feita a Eucaristia do sangue e do corpo de Cristo, de cuja substância a nossa carne é nutrida e sustentada, como podem eles afirmar que a carne é incapaz de receber o dom de Deus, que é a vida eterna, [carne] esta que se nutre do corpo e do sangue do Senhor e é membro Dele?
Irineu de Lyon, Contra as Heresias 5:2:2-3, ano 189 d. C.
SÃO JUSTINO MÁRTIR
Chamamos este alimento de Εὐχαριστία [Eucaristia], e a ninguém mais é permitido comê-lo, senão àquele que crê que nossa doutrina é verdadeira e que foi lavado na lavagem para remissão dos pecados e para regeneração [isto é, quem recebeu o batismo], e, portanto, está vivendo como Cristo ordenou. Pois não a recebemos como pão comum e bebida comum; mas, da mesma forma como nosso Slvador Jesus Cristo, pela Palavra de Deus, se encarnou e teve carne e sangue para nossa salvação, da mesma forma fomos nós ensinados que o alimento que é abençoado pela oração proferida por Ele, e do qual nosso sangue e carne são nutridos pela transmutação, é verdadeiramente a carne e o sangue daquele Jesus encarnado.
Justino Romano, Primeira Apologia 66 ano 151 d. C.
De fato, numerosos são os registros do testemunho dos nossos pais acerca desses mistérios, o que prova que a Igreja não inventou a ideia de que Jesus se faz presente verdadeiramente no Banquete Eucarístico, mas isso sempre foi entendido pelos antigos cristãos como uma doutrina que guarda ligação com a realidade da encarnação do Verbo. São Cirilo de Jersusalém, em suas Cartas Catequéticas 19: 7 chega a declarar que é a Palavra do Sacerdote, tal como Justino mencionou acima acerca da Palavra de Cristo, que desencadeia o milagre da mudança, a qual os cristãos aceitam pela fé:
SÃO CIRILO DE JERUSALÉM
“O Pão e o Vinho da Eucaristia, antes da invocação da Trindade, que é santa e digna de adoração, eram simples pão e vinho; mas após a invocação, o pão torna-se o Corpo de Cristo, e o vinho o Sangue de Cristo” (CIRILO, ano 350 d. C.).
Todas essas pessoas tratam a Eucaristia com o máximo respeito, por crerem ser ela a carne de Cristo. Alguns dirão que eles falavam metaforicamente, todavia, isso não é lógico, tampouco fiel às palavras. Não faz sentido porque não haveria nada de especial na Eucaristia se apenas a presença espiritual de Cristo estivesse lá. Vou explicar melhor: eu posso ter a presença espiritual de Cristo em qualquer lugar, basta que eu faça uma oração. Posso tê-la no meu quarto, invocando seu nome; ou mesmo quando ouço um louvor e clamo por Ele. Vê como não faria sentido o apóstolo Paulo ter dito em sua carta a Corinto que quem come o pão consagrado poderia morrer se o fizesse em pecado grave, se apenas a presença espiritual de Cristo estivesse lá, a mesma presença que acompanha cada crente individualmente desde o seu batismo?
Três Perguntas Pertinentes:
1. Por que o cristão seria culpado especificamente do Corpo e do Sangue de Cristo por comer do pão e beber do cálice de forma imprópria após consagrados na Assembleia?: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor” (1 Co 11, 27).
2. Por que o apóstolo diz que quem faz isso (isto é, come e bebe indignamente), o faz por não discernir ou não distinguir que ali é o Corpo de Cristo?: “Aquele que o come e o bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação” (v. 29).
3. E por último, o que tais palavras poderiam significar? Quais sentidos teriam elas, senão exatamente aquilo que os cristãos acima ensinaram e repassaram à Igreja, que mantém fielmente essa doutrina pelos séculos dos séculos?
Foto de Mateus Campos Felipe na Unsplash




