O sacramento da Penitência, comumente chamado de Confissão, se refere à prática em que o fiel acusa seus pecados perante um sacerdote visando à absolvição. Só podemos entender este sacramento se concebermos o fato de que a Igreja instituída por Cristo possui verdadeira autoridade para perdoar pecados. Com efeito, a Penitência só pode ser perfeitamente compreendida no contexto católico. Apesar de termos sido regenerados no Batismo, ainda estamos neste mundo decaído “sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado”[i]. Precisamos viver uma vida de santidade, porém a nossa natureza humana vive em luta constante contra o pecado. Não podemos esquecer que o pecado nos separa de Deus (Cf. Isaías 59. 2) e nos distancia da comunhão com a Igreja. O Sacramento da Penitência visa a reabilitar o crente ao estado de graça que foi perdido.
ORÍGENES
Embora, reconhecidamente, seja difícil e penosa [a Penitência], quando o pecador lava seu leito em lágrimas, e elas se tornam seu pão dia e noite, quando ele não tem vergonha de fazer conhecido o seu pecado AO SACERDOTE DO SENHOR e busca a cura segundo quem diz: “Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade de meu pecado” (Sl 32: 5). Aquilo que o apóstolo Tiago disse se cumpre com isso: “Há alguém entre vós doente? CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. E SE HOUVER COMETIDO PECADOS, ESTES LHE SERÃO PERDOADOS (Tg 5: 13-15)”.
– Orígenes, Homilias sobre Levítico, 2: 5, ano 248 d. C.
O pecado é, antes de tudo, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz, simultaneamente, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da Reconciliação[ii]. Muitas objeções são feitas pelos protestantes, mas em sua maioria não são objeções muito sérias. Alguns dizem que este sacramento tem como objetivo o controle do fiel, para que ele, de alguma forma, se sinta intimidado pela autoridade dos sacerdotes. Em que se baseia essa acusação? Apenas na ignorância. Outros dizem abertamente que a Igreja inventou este sacramento. E, ainda outros, como é de costume, dizem que o sacramento da Confissão não se encontra na Bíblia. Todavia, uma dessas objeções dos protestantes contra este sacramento gira em torno do fato de que somente Deus pode perdoar pecados, e essa objeção é um pouco mais digna de resposta. Podemos dizer que ao afirmar isso os protestantes estão certíssimos, pois, de fato, somente Deus pode perdoar os pecados, e ninguém nega isso. Contudo, falta aos irmãos protestantes a compreensão de que essa é a mesma argumentação que os fariseus faziam ao ver Jesus perdoando pecados, com isso diziam eles que Nosso Senhor cometia blasfêmia:
Aí lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. Jesus, vendo tão grande fé, disse ao paralítico: “Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados.” Ao ver isso alguns dos escribas diziam consigo: “Está blasfemando”.
Mateus 9.2-3
Sabemos, porém, que Jesus é Deus, e por essa razão verdadeiramente possui autoridade para perdoar pecados, como Ele mesmo declarou ao perdoar os pecados do paralítico, logo em sequencia à acusação dos fariseus: “Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem poder na terra de perdoar pecados…” disse então ao paralítico: “Levanta-te, toma tua cama e vai para casa”. (São Mateus 9.6) Todavia, o que não é observado pelos protestantes é que Jesus não reteve somente para si esse poder, mas o comunicou aos Apóstolos de forma absolutamente clara que a partir de então eles também passariam a ter autoridade para perdoar pecados:
Ele lhes disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos”.
João 20.21-23
Ora! Os Apóstolos não viveriam para sempre nesta terra, então, deixaram sucessores encarregados de preservar a doutrina de Cristo. Esses sucessores são os bispos, os quais receberam autoridade para perdoar os pecados em seu nome. Como os protestantes alteraram completamente os conceitos a respeito do sacerdócio durante a Reforma Protestante, de fato não há sentido em existir confissão de pecados em denominações protestantes, pois não creem que seus pastores sejam sacerdotes, muito menos que estes possam perdoar pecados por uma delegação/procuração divina conferida por Cristo aos seus. É preciso deixar claro que os sacerdotes católicos não podem perdoar pecados por sua própria autoridade, somente unidos à Igreja é que eles possuem tal poder, pois estão ligados ao Corpo de Cristo. Assim, é Deus quem perdoa os pecados por meio do sacerdote. Como Cristo confiou a seus Apóstolos o ministério da Reconciliação, os Bispos, seus sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse mistério. De fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”[iii]. Todavia, vale ressaltar que o ato de confessar os pecados é algo já presente na Antiga Aliança. Os judeus já possuíam essa prática de uma forma primitiva, e inclusive eram prescritas penitências. Podemos ver isso claramente em Números 5. 5-7:
Iahweh falou a Moisés e disse: “Fala aos filhos de Israel: Se um homem ou mulher cometer algum dos pecados pelos quais se ofende a Iahweh, essa pessoa é culpada. Confessará o pecado cometido e restituirá o valor de que é devedor, acrescido de um quinto. Restituirá àquele a quem prejudicou.
Fica exposta aqui, de forma muito clara a prática da confissão de pecados já na Antiga Aliança, porém, é evidente que não se tratava ainda de um sacramento, pois não havia no rito o perdão dos pecados por meio do sacerdote. Na Nova Aliança, portanto, Jesus elevou à plenitude essa prática e o tornou um verdadeiro sacramento, posto que através da confissão feita ao sacerdote podemos alcançar o perdão de Deus e nos religarmos à Santa Igreja, podendo assim receber o Corpo e o Sangue de Cristo na Eucaristia. Isso ocorre porque temos a promessa de que verdadeiramente retornamos ao estado de Graça o qual devemos sempre lutar para manter.
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NOTAS
[i] Catecismo da Igreja Católica, p. 1420.
[ii] Ibidem, p. 1440.
[iii] Ibidem, p. 1461.




