Devemos ler a Bíblia de maneira literal?

Joe Heschmeyer

Joe Heschmeyer

Como devemos interpretar a Sagrada Escritura? Muitos evangélicos afirmam que a Bíblia deve ser entendida literalmente, no sentido não metafórico. As pessoas que afirmam tal coisa não acreditam nisso de verdade – simplesmente abram João 6 e vejam com que rapidez elas descartam as palavras de Jesus sobre a Eucaristia tratando-a como um mero “símbolo” – contudo, é uma afirmação comum o suficiente que  muitos assumem que a Bíblia deve ensiná-la em algum lugar. Há um sentido no qual a Bíblia deve ser lida “literalmente” (usando o sentido antigo da palavra literal), mas não é este. Para dar um exemplo de uma maneira particularmente pobre de entender as Escrituras, ofereço o site protestante GotQuestions, que afirma:

 

Não só podemos interpretar a Bíblia literalmente, mas devemos fazê-lo. Uma abordagem literal de interpretação é a única maneira de determinar o que Deus está tentando comunicar a nós […] Uma razão pela qual devemos interpretar a Bíblia literalmente é porque o Senhor Jesus Cristo a interpretou literalmente. Quando o Senhor Jesus citou o Antigo Testamento, sempre foi claro que Ele acreditava em sua interpretação literal. Por exemplo, quando Jesus foi tentado por Satanás em Lucas 4, Ele respondeu citando o Antigo Testamento. Se os mandamentos de Deus em Deuteronômio 8:3, 6:13 e 6:16 não fossem literais, Jesus não os teria usado e eles teriam sido impotentes para deter a boca de Satanás – mas foi exatamente isso o que fizeram.

 

Afirmar que a literalidade “é a única maneira de determinar aquilo que Deus realmente está tentando nos comunicar” significa que Deus só pode se comunicar conosco literalmente. O autor não dá absolutamente nenhum suporte bíblico para essa afirmação – é apenas uma imposição que ele coloca sobre Deus. Não está claro para mim como o autor passa de “Jesus cita as Escrituras em resposta a Satanás” para a seguinte conclusão “portanto, toda a Bíblia é literal”. Afinal, foi Satanás quem adotou uma interpretação ridícula e excessivamente literal do Salmo 91:12 (veja Lucas 4:11), e Jesus não aceitou nada disso. E mesmo que algumas partes da Bíblia sejam literais (o que todos admitem), como isso demonstra que todas as partes da Bíblia são literais? Estranhamente, depois de afirmar que tudo deve ser entendido literalmente, ele passa a dizer que algumas partes não devem ser:

 

Há óbvias figuras de linguagem que não devem ser interpretadas literalmente, como Salmo 17:8, por exemplo.

Finalmente, quando fazemos de nós mesmos os árbitros finais de quais partes da Bíblia são literais e quais não são, nós nos elevamos acima de Deus. Ele nos deu a Sua Palavra para se comunicar conosco. As confusões e distorções que inevitavelmente resultariam de uma interpretação não-literal essencialmente acabariam anulando as Escrituras. A Bíblia é a Palavra de Deus para nós, e Ele quis que acreditássemos nela literalmente e completamente.

 

Em um artigo bastante curto, o autor afirma que (1) a Bíblia só pode ser compreendida se tomada literalmente; (2) que algumas partes não devem ser interpretadas literalmente; (3) que é fácil dizer quais partes são literais e quais são figuras de linguagem; e (4) que qualquer um que alegue saber quais partes são literais e quais são figuras de linguagem está se colocando acima da Bíblia.

Que confusão de contradições! Se Deus só pode se comunicar conosco literalmente, por que existem figuras de linguagem na Bíblia? E se “nos elevamos acima de Deus” quando dizemos quais partes são e quais não são literais, como podemos saber quais partes são figuras de linguagem e quais não são? Então, como devemos entender as Escrituras e em que sentido podemos falar da necessidade de interpretar as Escrituras “literalmente”? Para isso, você terá que ler meu artigo para o Catholic Answers: “How to Literally Read Scripture Literally”.

 

Tradução de Kertelen Ribeiro do Texto Should We Take the Bible Literally?

 

Foto de Grant Whitty via Unsplah

 

 

REFERÊNCIAS

 

SHAMELESS POPERY

 

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Joe Heschmeyer

Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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