É bem comum ouvirmos, por parte dos grupos que insistem em guardar o sábado tal como na Antiga Aliança, a ideia de que “nos primeiros séculos os cristãos guardavam o sábado, mas no ano 313 Constantino mudou a Lei de Deus, e só então a Igreja Católica adotou o domingo como dia de guarda, mas antes não era assim…”. O maior problema dessa afirmação é que ela não se sustenta diante da história. Ora! A questão é até de simples resolução. Se o dia de guarda só passou a ser o domingo a partir de Constantino, então, deve-se ter em mente, que não devemos encontrar relatos históricos que mostrem que os cristãos já guardavam o domingo antes de Constantino, não é mesmo? Porém, não encontramos um, dois ou três, mas facilmente encontramos vários textos bem anteriores a Constantino que já mostram que as celebrações dos cristãos era dominicais. Começando pelo Novo Testamento, vemos que os mais importantes eventos do início da Igreja aconteceram no domingo:
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Jesus ressuscitou no domingo: (São Mateus 28. 1-6; São Marcos 16. 1-6; São Lucas 24. 1-7; São João 20)
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Jesus apareceu aos onze discípulos no domingo e instituiu o sacramento da Confissão: (São João 20. 19 – 23)
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Jesus apareceu a Tomé no domingo: (São João 20. 26)
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Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos que estavam reunidos no dia de Pentecostes (Atos 2. 12), segundo Levítico 23. 15-16 era o dia imediato ao sábado, ou seja, o domingo.
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No mesmo domingo da descida do Espírito Santo, vemos em Atos o relato do primeiro sermão sobre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, sermão este pregado por São Pedro, que resultou em mais ou menos 3 mil convertidos. (Atos 2. 14, 41)
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Em Trôade, os cristãos se reuniram no domingo. Note que eles se reuniram para a fração do pão, ou seja, para a Eucaristia. (Atos 20. 7)
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São Paulo instruiu os cristãos a trazerem as suas contribuições no domingo. (1 Coríntios 16. 2)
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Jesus apareceu a São João na Ilha de Patmos no domingo. Algo a se notar é o fato de que o domingo era chamado de “dia do Senhor”, pois foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Além disso, a palavra domingo significa literalmente dia do Senhor (dies dominicus). (Apocalipse 1. 10-11)
Continuando, no início do século II, o dia de guarda dos cristãos já estava muito bem estabelecido como sendo o domingo. É Santo Inácio de Antioquia (Ano 30 – 107) quem nos trará um testemunho explícito disso, e é ele quem dirá as palavras mais duras contra os judaizantes, pois, em sua época, os cristãos não eram perseguidos apenas pelos romanos, mas também pelos judeus, justamente porque os cristãos rejeitavam muitas das práticas do Judaísmo. É bom lembrarmos que Inácio era discípulo do Apóstolo São João, e que viveu a maior parte da sua vida no primeiro século, tendo escrito suas cartas por volta do ano 107, antes do martírio.
“Não vos deixeis enganar por doutrinas heterodoxas nem por velhas fábulas que são inúteis. Com efeito, se ainda vivemos segundo a lei, admitimos que ainda não recebemos a graça.”
(Inácio aos Magnésios 8, 1)
“Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte.”
(Inácio aos Magnésios 9, 1)
“É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda a língua que acredita em Deus.”
(Inácio aos Magnésios 10, 3)
“Se alguém vos interpreta o judaísmo, não o escuteis, porque é melhor ouvir o cristianismo de homem circuncidado do que o judaísmo de incircunciso.”
(Inácio aos filadelfienses 6, 1)
A Didaqué, escrita entre os anos 80 e 90, e conhecida como o primeiro catecismo da Igreja, também demonstra que os cristãos se reuniam no domingo.
“Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro.”
(Didaqué 14. 1)
A Epístola de Barnabé, escrita por volta do ano 130, também é uma prova histórica da guarda do domingo.
“Eis porque celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus.”
(Barnabé 15. 9)
São Justino de Roma (ano 100 – 165) também deixa claro que as celebrações eram realizadas no domingo. Justino escreveu ao imperador Adriano em defesa dos cristãos, pois estavam sendo acusados de vários absurdos. Note que ele usa a designação pagã “dia do sol” (dies solis) para se referir ao domingo, pois assim era conhecido esse dia entre os romanos, e, obviamente, também pelo imperador romano. Sim, os pagãos chamavam esse dia de dia do sol em homenagem ao deus pagão Sol Invictus. Agora, no domingo, adoramos o verdadeiro sol da justiça, Jesus Cristo. Caiu o paganismo e se ergueu a verdadeira fé.
“No dia que se chama sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se leem, enquanto o tempo permite, as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. […] Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno, e no dia seguinte ao Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu aos seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.”
(São Justino de Roma. I Apologia 67. 3-4,7)
São Justino também escreveu um livro chamado Diálogo com Trifão, em que narra um longo diálogo com um judeu. E, em várias ocasiões, ele trata a respeito do sábado, e diz explicitamente que os cristãos não o guardavam como os judeus faziam.
“Quando eles terminaram, voltei a falar-lhes: — Há mais alguma coisa que reprovais em nós, amigos? Ou apenas o fato de não vivermos conforme a vossa Lei, nem circuncidarmos o nosso corpo como vossos antepassados, nem guardarmos os sábados como vós fazeis? Ou nossa vida e moral também é objeto de calúnia entre vós? Quero dizer, por acaso também acreditais que devoramos os homens e que, depois do banquete, apagadas as luzes, nos entregamos a uniões ilícitas? Ou, finalmente, condenais em nós apenas o fato de darmos adesão a doutrinas como as que professamos e que não cremos, conforme pensais, numa opinião verdadeira?”
(São Justino de Roma. Diálogo com Trifão, 10. 1)
Outro importante nome da antiguidade cristã é Orígenes de Alexandria (ano 185 – 253). Ele, de forma bem clara, também nos diz que os cristãos celebravam no domingo.
“Alguém objetará lembrando nossas celebrações dos domingos, da Preparação, da Páscoa, de Pentecostes? Devemos responder: quem é cristão perfeito e não deixa de dar atenção devida às palavras, às ações, aos pensamentos do Logos de Deus que por natureza é o Senhor, esse vive continuamente nos dias do Senhor, celebra-se constantemente aos domingos.”
(Orígenes de Alexandria. Contra Celso, Livro VIII, 22)
Todos os textos aqui citados são de autores que viveram muito antes do Imperador Constantino, que viveu entre 272 e 337. Portanto, a ideia de que os cristãos guardavam o sábado e Constantino mudou isso é absurda, não pode ser provada historicamente e nem biblicamente, lembre que vários textos bíblicos também foram citados. No mais, o que podemos dizer é que os sabatistas são judaizantes, que ignoram a Tradição, e também ignoram o fato de que já estamos na Nova Aliança. Tudo se fez novo em Cristo que elevou tudo à plenitude.
Foto de Diana Polekhina na Unsplash




