Quais são os Temperamentos?

Joe Heschmeyer

Joe Heschmeyer

Obs.: algumas informações pessoais dos apresentadores foram citadas ao longo do podcast. Para evitar que isso interfira com a percepção do leitor sobre si mesmo, nós optamos por omiti-las neste texto.

 

[Chloe] Antes de fazermos o teste, nós podemos falar brevemente sobre os quatro tipos em si e o que os nomes deles significam?

[Joe] Sim. O Pe. Conrad Rock resume muito bem os quatro tipos a: como você responde a estímulos externos e quanto tempo essa resposta dura. Por exemplo, algumas pessoas se excitam imediatamente quando veem alguma coisa – seja essa excitação boa ou ruim, pode ser alegria, raiva… mas eles são muito excitáveis; e essa excitação é muito curta, eles já prestam atenção em outra coisa. Já outras pessoas se excitam muito rápido, só que isso tende a durar. Esses dois tipos tendem a ser mais extrovertidos: a relação deles com o mundo é uma reação mais rápida e mais externa.

Quanto aos dois tipos mais introvertidos, um leva mais tempo para ter alguma emoção, e isso pode significar duas coisas: que são necessários vários estímulos repetidos para provocar uma reação, ou que leva algum tempo para que o estímulo “faça efeito” – por exemplo, você passa por alguma experiência alegre, mas o seu coração não sai pulando de alegria de imediato, ele fica ali imerso por um minuto, ou talvez mais; e aí, a sensação de alegria vem, mas com o tempo. Já algumas pessoas são assim, só que essa reação não dura muito: eles passam uma impressão de serem meio letárgicos ou apáticos, porque leva um certo tempo para que eles tenham alguma emoção forte, e não leva muito tempo para que essa emoção desvaneça.

[Chloe] E isso é um processo interno, então quem vê de fora quase não percebe isso.

[Joe] Exatamente! Pessoas assim não parecem estar muito conectadas ao mundo exterior.

É melhor eu dar os nomes, para que você saiba do que eu estou falando. As pessoas que reagem rapidamente, e que essa reação não dura muito, são chamados sanguíneos. São Pedro queria ir com o Senhor até a morte, mas logo depois, ele O negou, e ele volta atrás logo depois. Perceba quão rápido ele reage: ele não precisou pensar muito antes de fazer alguma coisa. Por outro lado, São Paulo também parece ter essa rapidez para reagir, mas ele não muda muito o seu proceder. Ele é o que nós chamamos de colérico: essa é a reação rápida e duradoura.

Falando dos riscos espirituais, os sanguíneos tendem à superficialidade – por exemplo, começar a ler vinte livros e não terminar nenhum; a falta de seriedade – se você tem crise de riso em velório, isso pode ser um sinal que você é sanguíneo. Pessoas assim tendem a sentir alegria de uma maneira muito forte, o que é belíssimo, mas eles se distraem com uma mosca que passou na frente deles. Distrações na vida espiritual, seja na oração ou na perseverança em fazer a vontade de Deus, pode ser um problema sério. Isso além dos prazeres sensuais: comida, bebida, sexo, etc. Eles podem se afundar nisso e perder a noção de coisas a longo prazo, como a virtude, ou até mesmo, Deus.

Por outro lado, os coléricos também têm uma propensão a serem mundanos, mas como eles têm reações mais duradouras, eles tendem a ser mais sérios – sérios até demais, enquanto os sanguíneos são muito efêmeros. Sendo assim, a emoção mais associada aos coléricos é a ira, pois eles tendem a se irar mais intensamente e a manifestar isso. Se você conhece os tipos de personalidade A e B, coléricos são essencialmente do tipo A. Eles não costumam ser neuróticos – eles não vão dizer “eu tenho que ir ao médico para saber porque eu estou tão deprimido o tempo todo”. Eles são o tipo de gente que vão lá e fazem, e eles são muito bons nisso, mas têm que ter cuidado para não acabar usando as pessoas, e também devem lutar constantemente contra o pecado da soberba. Pessoalmente, eu [Joe] sou sanguíneo-colérico, só para dizer. É uma vida fascinante!

Eu conheço um padre que usa países para ilustrar os temperamentos. Alguns estereótipos relacionados a alguns países refletem alguns temperamentos. A Itália é um exemplo maravilhoso do temperamento sanguíneo: comida, bebida, vinho, mulher e tudo o mais, mas não é um povo muito sério. A Alemanha é um ótimo exemplo do temperamento colérico: os estereótipos sobre alemães são os mesmos estereótipos sobre os coléricos. São os países classicamente extrovertidos – mas claro que há exceções.

Quanto aos tipos introvertidos, talvez os melancólicos sejam os mais conhecidos: eles tendem a sentir tristeza mais intensamente.

[Chloe] Então, eles são mais empáticos.

[Joe] Sim, eles recebem estímulos externos apenas de uma forma gradual: não tem uma reação instantânea. Porém, as reações deles tendem a ser bem mais duradouras. O Pe. Hock compara eles a um poste de cerca: você precisa martelar várias vezes para fincá-lo no chão, mas depois que ele se firma, não dá para removê-lo. Então, pode levar tempo para quebrar um laço de afeto com um melancólico; mas depois de quebrá-lo, é extremamente difícil de reatar esse laço.

Um ponto forte dos melancólicos é que eles não têm o problema dos sanguíneos, isto é, o sanguíneo pode se perder facilmente nos prazeres do mundo, mas geralmente isso não é problema para os melancólicos. Muitas vezes, eles são bem idealistas diante de algo que está para acontecer, mas de qualquer modo, eles sempre se decepcionam. Nada bate com as expectativas deles: comidas, bebidas, programas, encontros, alegrias terrenas – nada disso é tão bom quanto o coração de um melancólico deseja. Na verdade, isso é uma marca muito forte do Jardim do Éden, do Céu e de Deus. Então, isso é um desejo por Deus. O Pe. Conrad Hock diz que os melancólicos sabem melhor do que qualquer pessoa o que significa a frase “nossos corações estão inquietos até descansarem em Deus” (Santo Agostinho). Eles não conseguem se alegrar, por exemplo, com as mesmas distrações que tomam a maior parte dos sanguíneos.

Portanto, a grande vantagem disso é que eles desejam a santidade. A desvantagem é que a tentação ao desespero é constante. Toda a vida deles é uma decepção constante: nenhum relacionamento humano vai dar ao melancólico o que ele deseja, e ele sabe disso (ao contrário de muitas pessoas). Na verdade, isso vale para todos nós; a questão é que a maioria de nós está vendo o copo na metade como meio cheio, e nós esquecemos que o copo deveria estar cheio. O Cura D’Ars – São João Maria Vianney, é um grande exemplo de santo melancólico.

Por último, temos os fleumáticos. Recapitulando: os sanguíneos são muito alegres; os coléricos são muito raivosos; os melancólicos são muito tristes, e os fleumáticos não tem nenhuma emoção responsiva muito forte – e muitas vezes isso é ofensivo. Como assim, nós não temos sentimentos? – mas é melhor descrever eles como calmos, eles têm uma estabilidade emocional muito grande.

Obviamente, isso é uma vantagem: eles podem ser justos e pacíficos, isto é, serem pacificadores; e eles podem ser muito agradáveis também, mas não de uma forma invasiva. A desvantagem é que a apatia pode ser uma dificuldade séria, assim como a preguiça – isto é, não fazer o que Deus está te chamando a fazer.

Essa é a visão geral do todo. A maioria das pessoas [que estão lendo isso] vão se identificar; se tiverem um bom autoconhecimento, já podem saber onde elas se encaixam. Fazer o teste ajuda, mas não precisa se assustar caso você receba um resultado muito diferente do que você espera – isso é um alerta.

Eu quero adicionar mais uma coisa: os temperamentos se manifestam desde muito cedo. Se você tem familiaridade com crianças de 0 a 3 anos, você sabe que elas têm personalidades diferentes. Eu tive essa experiência de um jeito engraçado, com os meus sobrinhos – hoje em dia eles devem ter 11 ou 12 anos, já perdi as contas (eu espero que meus irmãos não saibam disso)… Eu devia ter levantado isso antes.

[Foi com] os meus primeiros sobrinhos, que são primos. O mais velho, Jude, ele é essencialmente fleumático. Ele é organizado, calmo, ele gosta de ficar no canto dele nas festas de família; e se você falar com ele, ele vai ficar feliz de falar com você, mas ele não fica nervoso sem saber o que falar, ele simplesmente absorve o que você falar. Ele sempre foi assim, desde bem pequenininho.

[Chloe] Isso é fascinante!

Se você perguntasse a ele, na primeira série ou na pré-escola, como foi o dia dele, ele só falava: “foi bom” – e só, simples assim. Se você insistisse: “você fez o quê tanto?”, ele ia responder: “me diga você o que você fez tanto hoje” – e ele não estava sendo malcriado, ele só queria conversar sem ter que fazer o trabalho todo.

Já a prima dele é completamente o contrário, ela é bem sanguínea desde bem pequena: muito extrovertida, sempre querendo ser o centro das atenções, interessada em qualquer objeto que estivesse ao redor; se você perguntasse a ela como foi o dia na escola, “nossa, eu fiz umas vinte e quatro coisas hoje!” – não iam ser exatamente 24 coisas, o que ela quer dizer é: “você vai ter que me aguentar até eu conseguir 24 coisas que eu fiz hoje”, o que seria eventualmente um misto de coisas reais e fictícias.

[Chloe] Digamos que sejam 24… haha!

[Joe] É muito interessante como os dois eram diferentes. Acho que no segundo ou terceiro aniversário dela, cantaram parabéns para ela com cupcakes, e ela ficou batendo palma e jogando cupcake para todo lado! Enquanto isso, o Jude, que tinha 3 anos, estava bem na sua comendo um cupcake de garfo e faca – eu estou falando sério; e quando ele viu a priminha fazendo isso, ele arregalou os olhos…

[Chloe] “O que raios você está fazendo!?” (risos)

[Joe] E isso não é coisa de pai e mãe, porque os irmãos mais novos dele não têm nada a ver com ele! Eles têm os próprios tipos de personalidade. O irmão mais novo dele, que é meu afilhado – Dominic, é a criança mais colérica que eu já conheci! Quando ele tinha 4 anos, o pai dele – meu cunhado, contou uma história para a minha irmã sobre um certo jogador de beisebol, e ela disse: “uau, eu estou quase chorando” – o Dominic disse: “não faça a mamãe chorar!” – e isso ele falou ameaçando o pai, que é muito maior do que ele! Mas isso é uma típica reação colérica.

Eu espero que isso dê para ilustrar o panorama. Quanto aos melancólicos, eu acho que nós não temos um melancólico na família que eu me lembre, mas isso já foi o suficiente: é uma coisa que se manifesta muito cedo.

Como eu falei, isso é uma disposição: a ideia é que você saiba quais são suas disposições naturais. Isso pode ser um pouco complicado, dependendo das circunstâncias da vida. Às vezes, é bom pensar em como você era quando era criança, mas isso só funciona se você teve uma infância livre para ser quem você naturalmente é. Se você tinha pais que exigiam muito de você – que sempre te diziam “sorria”, “se acalme”, etc. – talvez você tenha aprendido desde muito cedo a agir de um modo diferente do seu temperamento natural. Porém, já de saber como essa programação natural é, você responde menos a comandos desse tipo. Então, depois de tudo isso, você acha que já entendeu o suficiente? Já está imaginando algum resultado para o seu teste?

 

Continua…

 

Foto de Priscilla du Preez via Unsplash

 

Este texto faz parte da série Os Quatro Temperamentos e a Vida Espiritual”.

Título original: The Four Temperaments and the Spiritual Life
Autor: The Catholic Podcast (Joe Heschmeyer)
Tradução: Symon Bezerra – Methodios Project
Todos os direitos reservados.

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Joe Heschmeyer

Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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