A ICONOGRAFIA CRISTÃ E AS ESCRITURAS

Tacisio Coelho

Tacisio Coelho

INTRODUÇÃO

 

O uso de imagens no meio cristão, em pinturas, altares, bíblias e paramentos litúrgicos é um fato histórico que se relaciona a todos os grupos cristãos que remontam ao tempo dos apóstolos. Durante alguns episódios, especialmente no século VII e no século XVI, essa prática foi contestada, sendo classificada como idolatria. Tentarei expor os questionamentos dos iconoclastas contra a iconografia cristã e a respectiva posição escriturística em defesa da mesma.

 

O assunto será abordado em três partes:

      • As imagens na cultura judaica e na Bíblia;
      • A produção de imagens de Cristo, de anjos e santos;
      • Os atos externos de veneração.

 

VERSOS UTILIZADOS PARA EMBASAR ARGUMENTOS CONTRÁRIOS:

 

“O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 4,6)

“Temerás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás e não terás outros deuses” (Dt 6,13-14)

“Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, na terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento” (Ex 20,4-5)

“Sejam confundidos todos os que adoram estátuas” (Sl 96,7)

“Os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão” (Jr 10,11)

“Adorarás o Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto; não farás para ti coisa alguma esculpida do que está em cima nos céus ou em baixo na terra” (Dt 10,20; Ex 20,4)

“Do meio do fogo, o Senhor vos falou. Ouvistes o som de suas palavras, mas não vistes, no entanto, nenhuma voz” (Dt 4,12) 

“Mas foi o fogo, ou o vento, ou o ar sutil, ou a abóbada estrelada, ou a água impetuosa, ou os luzeiros do céu que eles consideram como deuses, regentes do mundo! Idólatras!” (Sb 13,2)

“Tende cuidado com a vossa alma. No dia em que vosso Senhor, vosso Deus, vos falou por meio do fogo no Horeb, não vistes figura alguma. Guardai-vos, pois, de fabricar alguma imagem esculpida representando o que quer que seja, figura de homem ou mulher, representação de algum animal que vive na terra ou de um pássaro que vive no céus” (Dt 4,15-17)

“Para que não aconteça talvez de levantares os olhos aos céus e, vendo o sol, a lua e todas as estrelas do firmamento vós os sirvais e os adoreis, sendo enganados pelo erro” (Dt 4,19)

 

Com base nesses e noutros versículos similares, os iconoclastas defendem, mesmo contra os mártires cristãos que pintavam Cristo, Sua Mãe e os profetas nas paredes das catacumbas e das casas, que a produção e a veneração de uma imagem, qualquer que seja, é algo condenável, propriamente idólatra. Alguns vão num ponto mais extremo e chegam a defender o mesmo que a Confissão de Fé de Westminster (1643), afirmando que até mesmo conceber mentalmente uma imagem de Deus ou de Cristo-Homem já configura idolatria.

 

A PRODUÇÃO DE ÍDOLOS É ALGO CONDENÁVEL, ASSIM COMO A EXPRESSÃO DA DIVINDADE

 

Certamente, a produção de ídolos é condenável, tais versículos deixam isso bem claro: ser judeu ou cristão e produzir imagens de deuses estranhos é regredir à ignorância e à soberba mais extrema, tal como querer fazer uma imagem que retrate a divindade em si. O Apóstolo dos Gentios nos alerta: “Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra lavrada por arte e imaginação dos homens” (At 17,29). São João Damasceno, o primeiro a lutar contra os iconoclastas, declara:

 

Quem pode fazer uma imitação do Deus sem forma, incircunscrito, incorpóreo e invisível? Dar alguma forma à Divindade é o cúmulo da loucura e impiedade. Deus proíbe a feitura de imagem por causa da idolatria, e que é impossível fazer uma imagem de Deus, que é Espírito, invisível, e incircunscrito. Se alguém se atreve a fazer uma imagem do Deus Todo-Poderoso, que é Espírito puro, invisível, incircunscrito, nós a rejeitamos como uma falsidade.

Livro I, Apologia contra os Iconoclastas

No entanto, a mesma bíblia dá mostras claras de que a produção de imagens para fins religiosos não é condenável por si mesma, pois o mesmo Santo Deus ordenou:

 

Farás dois querubins de ouro polido nas duas extremidades do propiciatório: um de cada lado, de modo que os querubins estejam nos dois extremos do propiciatório”.

(Ex 25, 18-19; 37, 7)

“E o Tabernáculo farás de dez cortinas de linho fino torcido, azul, púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada.”

(Êxodo 26, 10)

 “Faze uma serpente venenosa e coloca-a sobre uma haste. Aquele que for mordido, mas olhar para ela ficará com vida’. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a sobre um poste”.

(Nm 21, 8-9).

“O altar do incenso devia conter certo peso de ouro refinado. O projeto também descrevia o carro dos querubins de ouro, que com as asas estendidas cobrem a arca da aliança do Senhor. Davi declarou: ‘tudo isso me chegou num escrito da mão do Senhor'”

(1 Cr 28, 18-19).

“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.”

(2 Crônicas 3,10)

“Revestiu de ouro fino o interior do edifício e fechou com cadeias de ouro a frente do santuário, que era também revestido de ouro. A casa ficou assim inteiramente coberta de ouro, como também toda a superfície do altar que estava diante do santuário. Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura. Cada uma das asas dos querubins tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à extremidade da outra. O segundo querubim tinha também dez côvados; os dois tinham a mesma forma e as mesmas dimensões. Um e outro tinham dez côvados de altura. Salomão os colocou no fundo do templo, no santuário. Tinham as asas estendidas, de sorte que uma asa do primeiro tocava uma das paredes e uma asa do segundo tocava a outra parede, en­quanto as outras duas asas se encontravam no meio do santuário. Revestiu também de ouro os querubins. Mandou esculpir em relevo em todas as paredes da casa, ao redor, no santuário como no templo, querubins, palmas e flores abertas. Cobriu de ouro o pavimento do edifício, tanto o do santuário como o do templo. Pôs à porta do santuário vigas de pau de oliveira; o seu enquadramento com as ombreiras ocupava a quinta parte da parede. Nos dois batentes de pau de oliveira mandou esculpir querubins, palmas e flores desabrochadas e cobriu-as de ouro; cobriu de ouro tanto os querubins como as palmas. Para a porta do templo fez vigas de pau de oliveira que ocupavam a quarta parte da parede, bem como dois batentes de madeira de cipreste, sendo cada batente formado de duas folhas móveis. Mandou esculpir nelas querubins, palmas e flores desabrochadas e cobriu tudo de ouro, ajustado às esculturas

(1 Rs 6, 23-38).

“Por cima das colunas pôs um trabalho em forma de lírio. E assim foi acabada a obra das colunas. Hiram fez também o mar de bronze, que tinha dez côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo e com altura de cinco côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados. Por baixo de sua borda havia colocíntidas em número de dez por côvado; elas rodeavam o mar, dispostas em duas ordens, formando com o mar uma só peça. Este apoiava-se sobre doze bois, dos quais três olhavam para o norte, três para o ocidente, três para o sul e três para o oriente. O mar repousava sobre eles e suas ancas estavam para o lado de dentro. A espessura do mar era de um palmo e a borda assemelhava-se à de um copo em forma de lírio; sua capacidade era de dois mil batos. E sobre as cintas que estavam entre as molduras havia leões, bois, e querubins, e sobre as molduras uma base por cima; e debaixo dos leões e dos bois junturas de obra estendida.”

(1 Reis 7, 23-26.29).

Dentro e fora do Templo, em volta de todas as paredes internas e externas, tudo estava coberto de figuras, querubins e palmeiras. Os querubins tinham duas faces: uma figura humana de um lado, voltada para uma das palmeiras, e uma face de leão voltada para outra palmeira, do outro lado, esculpidas em relevo em toda a volta do templo. Desde o piso até acima da porta, havia representações de querubins e palmeiras, assim como na parede do templo.

(Ez 41, 17-20).

“Estavam aí o altar de ouro para o incenso e a arca da aliança, toda recoberta de ouro, na qual se encontrava uma urna de ouro que continha o maná, o bastão de Aarão que tinha florescido, e as tábuas da aliança. Sobre a arca estavam os querubins da Glória, que com sua sombra cobriam a bandeja para o sangue da expiação”.

(Hb 9, 4-5).

 

 

DEUS ORDENA A FABRICAÇÃO DE IMAGENS AOS ISRAELITAS

 

A partir desses versos, fica evidente que o Senhor não só permitiu, como ordenou a criação de imagens para fins religiosos, mostrando que as imagens podem sim servir para o povo em nível espiritual. Não eram imagens que tiravam a glória de Deus, mas, antes, era do meio dessas imagens que Deus falava a Moisés (Ex 25,22), ou seja, elas serviam para Sua glória e louvor, e por isso Deus as aprovou (1 Rs 8,6-11). Não eram imagens de deuses, mas certamente muitas eram imagens de seres celestes (querubins), assim como havia também imagens de seres terrestres, que eram os animais que remetiam à Antiga Aliança (os bois, os quais eram sacrificados a Deus, e leões também, que demonstram força), juntamente com uma imagem de um grande mar de bronze de dez côvados esculpido e imagens de plantas (palmeiras, etc.). A ordenança: “Não farás para ti imagem esculpida”, apresenta uma palavra utilizada para “imagem” que geralmente não poderia se aplicar a qualquer tipo de representação com a qual estamos habituados. Trata-se do termo temunah (תְּמוּנָה), empregado geralmente para falar dos ídolos que se opunham a Jeová no coração dos israelitas advindos das nações circunvizinhas, ou seja, se refere aos deuses pagãos. Veja que isso corresponde exatamente ao que tinha sido dito anteriormente no mandamento: “Não terás outros deuses além de mim” (Ex. 20, 3).  A Septuaginta, por exemplo, traduz do hebraico para a língua grega tal expressão como eidolon (εἴδωλον), ídolo, que possui significado muito diferente de eikon (εἰκών), ícone. Isso é claramente percebido pelo fato de os israelitas lerem esses versos e não julgar tratar-se de nenhum ato ilícito fabricar tais imagens.

 

A NATUREZA DO ÍCONE

 

Os ícones, ao contrário dos ídolos, apontavam para Deus, ao invés de tirar o foco dEle. As imagens serviam para lembrar as realidades celestes, o culto divino e o próprio Deus. O Senhor mandou Moisés fazer e levantar num poste de madeira uma serpente de bronze e disse que quem a olhasse ficaria curado das mordeduras das serpentes. E Jesus se referiu a esse fato como sendo uma “imagem” da sua crucificação (Jo 3,14-15), ou seja, mesmo as imagens do AT já apontavam para Cristo. É óbvio que a imagem por si mesma nada poderia realizar, era Deus que realizava por meio dela, para lembrar da redenção que Ele próprio operaria no mundo, ao nos livrar do “veneno” do pecado. Deus ordenou a confecção de imagens para o Templo porque elas contribuem para dar ao local de culto um aspecto sagrado e convidam ao recolhimento e à oração, uma vez que lembram ao fiel constantemente a grandeza de Deus (Rm 1,20). De fato, contemplando a beleza e a harmonia da criação pode-se ter uma noção da Beleza e Harmonia em plenitude, que é o próprio Criador. Por isso, os querubins da Arca da Aliança não eram simples adornos: eles lembravam ainda a mediação secundária dos Anjos (Hb 1,14) e integravam os objetos do culto. Deus é perfeito, não se contradiz. Portanto, as proibições veterotestamentárias sobre imagens devem ser entendidas como a proibição de não reverenciar as criaturas mais que o Criador, de não dar às criaturas o culto de latria (adoração), que só deve ser dado a Deus. E além disso, esta proibição também deve ser entendida como uma repreensão à pretensão humana de dar forma ao que não tem forma (a divindade) e limitar com traços Aquele que é ilimitado.

 

A ENCARNAÇÃO MUDA TUDO

 

É indiscutível o fato de que não havia ali a noção de uma proibição às imagens de qualquer ser, mas sim à representação de deuses falsos e da própria Divindade, que não possuía forma. E sobre este último, devemos atentar para o seguinte: O Pacto que Deus fez com os israelitas não demonstrava a plenitude de conhecimento e relacionamento que Jeová desejava ter com o homem. Por isso, o apóstolo São Paulo declara que havia rudimentos e sombras ali que serviam para apontar para uma mensagem maior, mas que ainda não tinha chegado a eles. É por isso que ele chama “sombra”: porque não constituíam ainda a coisa em si, mas um indício dela. Dessa forma, São João Damasceno declarou:

 

Já passamos a fase da infância espiritual e atingimos a perfeição da maturidade. Tendo recebido de Deus a habilidade de discernir, sabemos o que pode ser representado em imagem e o que não pode. Que sabedoria a do legislador! Como descrever o invisível? Como retratar o inconcebível? Como dar expressão ao ilimitado, o imensurável, o invisível? Como dar forma à imensidão? Como pintar a imortalidade? Como localizar o mistério?

Livro I, Apologia contra os Iconoclastas

 

Mas também acrescenta:

 

É claro que quando você contempla a Deus, que é puro espírito, tornando-se homem por nossa causa, você será capaz de vesti-lo com a forma humana. Quando o Invisível se torna visível para a carne, então é possível retratar a imagem de sua forma. Quando Ele, que é puro espírito, sem forma ou limite, imensurável na imensidão de sua própria natureza, existindo como Deus, toma sobre Si a forma de servo em substância e em estatura, e um corpo de carne, então você pode desenhar Seu semblante, e mostrá-lo para qualquer pessoa disposta a contemplá-lo. Retratem Sua condescendência inefável, Seu nascimento virginal, Seu batismo no Jordão, Sua transfiguração no Tabor, Seus terríveis sofrimentos, Sua morte e os milagres, as provas de Sua divindade, as obras que Ele realizou na carne através do Seu poder divino, Sua Cruz salvífica, Seu Sepulcro, ressurreição e ascensão ao céu. Dê a isso toda a resistência da gravura e da cor.

Livro I, Apologia contra os Iconoclastas

 

Na Nova Aliança, Jesus, Deus Encarnado, “é a imagem visível de Deus invisível” (Cl 1,15). No corpo de Cristo repousa toda a plenitude da divindade (2,9), mas mesmo assim é homem visível. Ele é, assim, a imagem viva de Deus, pois quem o contempla, contempla o Pai (Jo 12,45). Sendo assim, uma vez que Deus se Encarnou, tomando forma e se apresentado a nós, podemos representá-lo na pessoa de Cristo, pois “A Palavra se fez carne e veio morar entre nós” e “Nós vimos a sua glória, glória que recebeu do Pai como filho Unigênito, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).

 

SE PROSTRAR É UM GESTO DE ADORAÇÃO SEMPRE?

 

Alguns agora provavelmente responderão: “Certamente não dizemos que as imagens e gravuras presentes no templo judaico eram objetos de idolatria, a própria bíblia o demonstra que não, mas não pode haver prostração diante delas, porque isso configura idolatria”.

Para defender essa tese, os seguintes versículos são apresentados:

 

“Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu para recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. Pedro, porém, o ergueu dizendo: Levanta-te! Também sou um homem!” (At 10,25-26)

“Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo, mas ele me diz: Não faças isso! Eu sou um servo, como tu e teus irmãos, possuidores do testemunho de Jesus” (Ap 19,10)

 

A prostração diante de pessoas e de qualquer outra coisa criada é algo indevido, segundo os iconoclastas, pois é um gesto próprio da adoração (culto de latria). Primeiramente, devemos dizer que a adoração é um gesto interior, não exterior. Agora vamos analisar esses mesmos versículos: “Cornélio saiu para recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo.” (At 10,25) E o outro: “Prostrei-me aos seus pés para adorá-lo”. (Ap 19,10) É perceptível que o problema aqui não é a prostração em si, mas a intenção do ato. Lembremo-nos de que Pedro estava diante de um pagão, que embora fosse piedoso, facilmente poderia pensar, de forma errada, que o fato de o anjo ter lhe ordenado a se encontrar com o apóstolo, a razão disso é estava ali diante de si um homem divino. Quanto a João, não nos esqueçamos que a maravilha de suas visões incluíam diversos seres resplandecentes, simbologias e manifestações transmórficas, então não teria sido uma precaução excessiva que o anjo o advertisse de sua identidade: “Eu sou um servo”. O fato de o anjo ter de lhe declarar que ele não era Deus, e que, portanto, não deveria ser adorado, é perfeitamente condizente com o restante da visão: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. [v.11] Um anjo é um ser cheio de glória. Para nós, humanos, não seria difícil confundir uma aparição de uma entidade iluminada com a própria pessoa de Deus. Logo, não constitui grande surpresa a atitude do anjo, se considerarmos o conteúdo do livro. O próprio Cristo chegou a se identificar para o apóstolo:

 

¹² E virei-me para ver a voz que falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro;
¹³ E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro.
¹⁴ E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo;
¹⁵ E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas.
¹⁶ E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma espada aguda de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece.
¹⁷ E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último;
¹⁸ E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre.

Apocalipse 1:12-18

 

Henry John Stock (Domínio Público)

 

 E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do grande Deus;

Apocalipse 19:17

 

⁸ E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.
⁹ E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;

Apocalipse 5:8,9

¹ E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
² E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz.

³ E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.
⁴ E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.
⁵ E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.

Apocalipse 12:3-5

 

Podemos dizer seguramente com São João de Damasco:

 

“Não tenham medo ou ansiedade, pois existem diversas formas de demonstrar respeito, admiração e veneração. Abraão prostrou-se por terra diante dos filhos de Het (Gn 23, 7; Atos 7, 16), homens ímpios na ignorância de Deus, quando ele comprou uma gruta para lhe servir de túmulo. Jacó prostrou-se sete vezes diante de seu irmão Esaú (Gn 33,3) e reverenciou o Faraó do Egito (Gn 47,7). De fato, prestou reverência também à ponta do cajado de José (Gn 47, 31; Hb 11,21). Ele se prostrou e venerou, não os adorou.”

Livro I, Apologia contra os Iconoclastas

 

A BÍBLIA TRAZ EXEMPLOS DE PROSTRAÇÃO DIANTE DE PESSOAS E DE OBJETOS SEM QUE ISSO SEJA CONSIDERADO IDOLATRIA

 

Ainda está escrito: “O profeta Natã (…) veio perante o rei e se prostrou diante dele” (1 Reis 1,22-23). Os reis sempre foram considerados, em termos bíblicos, como governantes por direito divino, isto é, pessoas estabelecidas em seus lugares de autoridade porque Deus cedeu a eles parte de sua própria autoridade divina, conforme seus propósito eternos: “É Deus quem julga: a um rebaixa, a outro eleva”. (Sl 75, 7) e “Ele muda as épocas e as estações; destrona reis e os estabelece” (Dn 2, 21). E as pessoas se curvam diante dos reis desse mundo e dos príncipes ungidos pelo Senhor. No Israel antigo, os sacerdotes também recebiam honra por sua posição, assim como os profetas. 2 Reis 2,14-15 atesta: “Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera defronte deles, disseram: ‘O espírito de Elias repousa em Eliseu’. Foram-lhe ao encontro, prostraram-se por terra diante dele.” Veja que há inúmeros exemplos nas Escrituras mostrando que se curvar diante de alguém ou coisa não significa necessariamente adoração. O sentido é honrar aquilo que o próprio Deus honrou, geralmente pessoas e objetos destinados a fins espirituais, sendo por isso sagrados, mas acontece também com lugares: “Prostrai-vos perante o seu Monte Santo” (Salmo 99,9). Isso se aplica ao templo e a tudo em seu interior também. Está escrito: “Guardareis os meus sábados, e o meu santuário reverenciareis. Eu sou o Senhor” (Levítico 19:30). Também lemos na mesma Bíblia: “Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde, diante da Arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças.” (Josué 7,6) Veja que temos aqui versos que mostram homens piedosos se curvando diante de um objeto separado para a glória do Criador, ou seja, usado para honrar a Deus e Seus atributos, o Templo e aquilo que estava dentro do Templo [a Arca, os utensílios e as imagens também]:

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Inclinar-me-ei para o teu santo Templo” (Salmo 138, 2).

 

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Conforme tudo que foi dito, o que seria feito a qualquer um que profanasse o Templo? Ou seus utensílios santos? Vocês lembram como Deus agia toda vez que algum exército inimigo adentrava nos átrios do santuário e profanava os objetos sagrados? Leia sobre o banquete de Baltazar, rei da BAbilônia e descubra (Dn 5, 3-28). Quem pratica uma obra de profanação pode, inclusive, receber como castigo a danação eterna, tamanha a afronta realizada com tal feito. Vocês entendem agora por que a Igreja reprovou tão veementemente a heresia da Iconoclastia? Porque ela pode condenar a alma das pessoas ao inferno, reduzindo o homem a um profano e irreverente diante das coisas separadas para Deus.

 

CONCLUSÃO

 

O templo que Salomão construiu foi consagrado pelo sangue dos animais, e decorado com imagens de leões, bois, palmas e romãs. Agora, a Igreja é consagrada pelo sangue de Cristo e de seus santos, e é adornada com a imagem deles. Não é muito mais digno decorá-la com imagens de Cristo e dos santos do que com feras e plantas? Ora, se fizermos uma imagem de Cristo e dos santos, o fato de estarem cheios do Espírito Santo não aumenta a piedade da nossa homenagem? Sim, com certeza! E honramos a Deus. Porque assim como o povo e o templo eram purificados pelo sangue de animais e pelos holocaustos (Hb 9,13), a Igreja é edificada sobre o sangue dos santos, com o Sangue de Cristo dando testemunho sob Pôncio Pilatos (1 Tm 6,13). São as primícias dos mártires. Os sinais e formas de animais sem vida prefiguravam o tabernáculo humano, os próprios mártires que estavam sendo preparados para a morada de Deus, pois como está escrito, os homens justos são chamados a participar da natureza divina (2 Pd 2,4). Espero que meu texto tenha sido esclarecedor, sobretudo por tratar de um tema tão polêmico em nossos dias e muitas vezes cheio de incompreensões.

 

Foto de Daniel Gregoire na Unsplash

REFERÊNCIAS

 

CONTRA AQUELES QUE CONDENAM AS IMAGENS SAGRADAS

SITE CANÇÃO NOVA

SITE VERITATIS SPLENDOR

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Tacisio Coelho

Tacisio Coelho é um leigo católico que ama a arte sacra. Atualmente estuda Estatística na Universidade Federal do Piauí. Sua maior aspiração é amar a Deus com todo o seu ser e contribuir para que os outros possam amá-lo também.

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Tacisio Coelho é um leigo católico que ama a arte sacra. Atualmente estuda Estatística na Universidade Federal do Piauí. Sua maior aspiração é amar a Deus com todo o seu ser e contribuir para que os outros possam amá-lo também.

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