Não raras vezes, percebem-se alegações sobre o Papa que, assumidas como verdade, certamente preocupariam qualquer fiel verdadeiramente católico. Afinal, quem poderia admitir que a Igreja de Cristo prescindisse da sua missão ad gentes, recebida do Senhor mesmo (Mt 28, 19)? Um olhar mais atento às palavras do Santo Padre, porém, revela o equívoco desses dizeres, e é isso que pretendo mostrar a seguir através de alguns fatos do pontificado de Francisco até então. Minha inspiração para escrever este texto surgiu de um trecho, sem especificação alguma do autor, que foi compartilhado em um grupo do qual faço parte. Feita uma breve pesquisa, percebi que se tratavam das palavras do Papa, verificadas a seguir:
“Eu tive uma experiência ruim com isso em um encontro de jovens alguns anos atrás. Saía da sacristia e havia uma senhora, muito elegante, muito, (…), com um menino e uma menina. E esta senhora, que falava espanhol, disse-me: ‘Padre, estou feliz porque converti estes dois: este vem de tal e esta vem de tal’. Eu fiquei chateado, sabe?, e disse: ‘Não converteste nada, faltaste com o respeito com essa gente: não os acompanhou, fez proselitismo e isso não é evangelizar’. Ela estava orgulhosa por ter convertido! Tenham o cuidado de distinguir bem a ação apostólica do proselitismo: nós não fazemos proselitismo. O Senhor nunca fez proselitismo”
Aos Clérigos Regulares de São Paulo, 29 de maio de 2023
Note-se de imediato que a ação apostólica e a evangelização são colocadas como opostas ao que ele se refere negativamente como “proselitismo”. Mas qual seria o real sentido dessa expressão em seus pronunciamentos? Para precisá-lo, é suficiente considerar o tema ao qual o Papa se referia nesta ocasião. Com efeito, no mesmo texto, é dito: “O nosso anúncio missionário não é proselitismo – ressalto muito – mas a partilha de um encontro pessoal que mudou as nossas vidas! Sem isso, não temos nada a anunciar, nem um destino para caminharmos juntos”. Sim, o Papa tratava precisamente do anúncio missionário. No ano inicial de seu pontificado, ele disse:
“Além disso, em áreas sempre mais amplas das regiões tradicionalmente cristãs, cresce o número daqueles que vivem alheios à fé, indiferentes à dimensão religiosa ou animados por outras crenças. Não raro, alguns baptizados fazem opções de vida que os afastam da fé, tornando-os assim carecidos de uma «nova evangelização». A tudo isso se junta o facto de que larga parte da humanidade ainda não foi atingida pela Boa Nova de Jesus Cristo”
Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2013, 20 de outubro de 2013
Convém destacar, ainda, as seguintes palavras de Francisco: “Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tacteando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 266). Por sinal, a apologética, no contexto adequado, não se opõe ao zelo apostólico. Isso é destacado no mesmo documento: “O anúncio às culturas implica também um anúncio às culturas profissionais, científicas e académicas. É o encontro entre a fé, a razão e as ciências, que visa desenvolver um novo discurso sobre a credibilidade, uma apologética original que ajude a criar as predisposições para que o Evangelho seja escutado por todos” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 132). Por fim, eu gostaria de convidar os leitores deste texto a acompanhar os pronunciamentos do Papa Francisco, se possível diariamente. De fato, desde a Audiência Geral de 11 de janeiro de 2023 até então, ele tem feito catequeses sobre o zelo apostólico do crente. Convém que consideremos as fontes primárias, e nisso o site do Vaticano certamente tem a primazia.
Que os santos apóstolos Pedro e Paulo nos alcancem de Cristo um profundo zelo pela salvação das almas!
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