Uma das doutrinas mais incompreendidas é a Imaculada Conceição. Como observou C. S. Lewis, “Imaculada Conceição”, “na boca de um orador inculto sempre significa nascimento virginal”. Essa confusão popular continua até hoje, com o deputado Matt Gaetz (R-FL) sendo o mais recente a confundir publicamente os dois. Então para esclarecer…
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1. Não, a Imaculada Conceição não é sobre a concepção e o nascimento de Cristo.
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Em vez disso, a Imaculada Conceição é a doutrina de “que Maria, ‘cheia de graça’ por meio de Deus, foi redimida desde o momento de sua concepção. É o que confessa o dogma da Imaculada Conceição”. O Papa Pio IX proclamou a doutrina desta forma, em 1854:
“Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina segundo a qual a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio concedido por Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservado livre de toda mancha do pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e, portanto, deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis”.
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2. Mas sim, a Imaculada Conceição também é sobre a concepção e o nascimento de Cristo.
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Na encíclica que define a doutrina, o Papa Pio IX traçou sua história de maneira geral, a partir das declarações dos Padres da Igreja. A certa altura, ele explicou:
Da mesma forma, eles [os Padres da Igreja] usaram as palavras dos profetas para descrever essa maravilhosa abundância de dons divinos e a inocência original da Virgem da qual Jesus nasceu. Eles celebraram a augusta Virgem como a pomba imaculada, como a santa Jerusalém, como o exaltado trono de Deus, como a Arca e a Casa da Santidade que a Sabedoria Eterna construiu, e como aquela Rainha que, cheia de delícias e apoiada em seu Amado, veio à frente, saindo da boca do Altíssimo, inteiramente perfeita, bela, muito querida por Deus e nunca marcada com a menor das manchas.
Portanto, observe a razão para isso – Maria é preservada do pecado original e atual por causa do papel que Deus separou para ela desempenhar, desde toda a eternidade. Em outras palavras, a Imaculada Conceição de Maria é inseparável do fato que a ela diz respeito, de ter sido pré-anunciada (de Gênesis 3:15 em diante!) de modo a ser aquela que geraria o Redentor. Como explicou Pio:
Pois certamente não era apropriado que este vaso escolhido fosse ferido pelas chagas comuns, uma vez que ela, diferindo tanto dos demais, possuía apenas em comum com eles a natureza, mas não o pecado. De fato, era muito apropriado que, assim como o Unigênito tem um Pai no céu, a quem os Serafins exaltam como três vezes santo, Ele deveria ter uma Mãe na terra que nunca ficaria sem o esplendor da santidade.
E, portanto, é conveniente que a Leitura do Evangelho de hoje seja (mesmo com um tom confuso para os desinformados) tirada da Anunciação. É em um único evento que temos a revelação de Maria como “cheia de graça” e a promessa de Maria como a Virgem Mãe.
No Antigo Testamento, a Arca da Aliança, o Templo e toda a cidade de Jerusalém eram gloriosos não para desviar a atenção da glória de Deus, mas para apontar para ela, uma expressão finita a sugerir a glória infinita de Deus. Considere o Templo original de Jerusalém; a ideia surgiu quando o rei Davi disse ao profeta Natã: “Eis que eu moro em casa de cedro, mas a Arca de Deus mora em tendas” (2 Sam. 7:2). Originalmente, Natã afirmou tal plano, dizendo-lhe: “Vá, faça tudo o que estiver em seu coração; pois o Senhor é contigo”, mas Deus vetou esse plano, dizendo: “Você derramou muito sangue e travou grandes guerras; portanto, não edificarás casa ao meu nome, porque muito sangue derramaste diante de mim sobre a terra” (1 Crônicas 22:8). Agora, o anjo Gabriel vem até a Virgem Maria e (ecoando as palavras de Natã) declara: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!” (Lucas 1:28).
Agora, o anjo Gabriel vem até a Virgem Maria e (ecoando as palavras de Natã) diz: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!” (Lucas 1:28).
Ou seja, nós celebramos hoje o fato de Deus ter separado Maria, tornando-a imaculada e pura, semelhante a um glorioso Templo e uma semelhante a uma Arca para Ele. E por quê? Porque toda a sua vida é um referencial, a apontar para a Encarnação de Jesus Cristo. Por isso acho melhor dizer que o dia da Anunciação não é… e ao mesmo tempo é… sobre a Concepção da Virgem e o Nascimento de Cristo.
Tradução de Kertelen Ribeiro do texto The Immaculate Conception Isn’t (And Is) About the Birth of Christ




