Se você não está acompanhando os debates sobre todas as questões científicas e religiosas, é fácil sair com a vaga impressão de que a ciência “provou” que (a) a ‘mente’ é realmente apenas o cérebro, ou que (b) não existe vida após a morte, ou que (c) não existe uma alma imaterial.
Mas o que é notável sobre cada uma dessas três coisas é o quanto o sentido vago do que a ciência diz provavelmente difere daquilo que a verdadeira ciência de fato diz. Lembrei-me disso recentemente por causa de uma revisão incrível que a Academia de Ciências de Nova York fez com Sam Parnia MD, PhD, que realizou algumas pesquisas incríveis sobre as chamadas “experiências de quase morte”. Um dos pontos que Parnia observa é que, a partir da perpectiva médica, estas não são “quase-morte”. Elas são pós-morte. Ou seja, o corpo está em um estado no qual as funções corporais normais cessaram. Os médicos farão o que puderem para tentar restaurar essas funções (nesse caso, eles vão declarar que foi apenas “parada cardíaca” ou algo assim), mas se eles falharem, a hora da morte voltará na contagem do tempo para antes de começarem, quando as funções corporais cessaram. O argumento de Parnia é fascinante, porque significa que pelo menos uma das duas coisas deve ser verdade: ou (1) somos ruins para determinar a hora da morte ou (2) a ciência agora provou que é possível que certas pessoas voltem da morte.
Na verdade, Parnia escreveu um livro sobre isso, entrevistando pessoas que tiveram essas experiências de “quase morte” (ou pós-morte), e algumas delas têm memórias da época. É difícil saber o que fazer com essas memórias, mas novamente parece sugerir que (1) somos ruins para definir a hora da morte [nesse caso, coisas como parada cardíaca precisam ser revisadas] e/ou (2) Agora há evidências médicas da continuação da consciência após a morte.
Mas o verdadeiro chute está no final da entrevista, onde Parnia quase de forma casual aponta para o fato de que toda a defesa materialista contra a alma é baseada em evidências que na verdade não existem:
Tradicionalmente, os pesquisadores propuseram que a mente ou a consciência – o nosso eu – é produzida a partir da atividade cerebral organizada. No entanto, ninguém jamais conseguiu mostrar como as células cerebrais, que produzem proteínas, podem gerar algo tão diferente, ou seja, pensamentos ou consciência. Curiosamente, nunca houve um mecanismo biológico plausível proposto com o intuito de explicar isso.
Recentemente, alguns pesquisadores começaram a levantar a questão de que talvez sua mente, consciência, psiquê, a coisa que formula a pessoa que você é, pode não ser produzida pelo cérebro. É possível que o cérebro esteja atuando mais como um intermediário. Não se trata de uma ideia nova. Eles argumentaram que não temos evidências para mostrar como as células cerebrais ou as conexões celulares cerebrais podem produzir seus pensamentos, mente ou consciência.
O fato de aparentemente as pessoas terem plena consciência, com processos de pensamento lúcidos e bem estruturados e com a formação da lembrança de um momento em que seus cérebros se encontram altamente disfuncionais ou mesmo não funcionais é desconcertante e paradoxal.
Concordo que isso levanta a possibilidade de que a entidade que chamamos de mente ou de consciência pode não ser produzida pelo cérebro. Certamente é possível que haja outra camada de realidade que ainda não descobrimos, que está essencialmente além daquilo que sabemos sobre o cérebro e que determina nossa realidade.
Portanto, acredito que seja possível que a consciência seja uma entidade científica ainda não descoberta que pode não ser necessariamente produzida pela atividade sináptica no cérebro.
Até agora, a resposta que vi dos céticos é que Parnia pode estar errado e que a ciência pode um dia provar que a mente é realmente apenas o cérebro e que os humanos são apenas matéria. Mas o que é tão fascinante para mim é que essa fé cega de que o ateísmo um dia será cientificamente comprovado é tão imune ao fracasso absoluto do sistema em provar qualquer coisa desse tipo.
Foto de Jakub Schikaneder (winkmedia commons)
Tradução de Kertelen Ribeiro do Texto What Science REALLY Says About the Soul (& Life After Death)
REFERÊNCIAS




