O Núncio Apostólico Esclarece fala do Papa sobre Uniões Civis Homossexuais

Pe Matthew P. Schneider

Pe Matthew P. Schneider

Há cerca de duas semanas o documentário Francesco foi lançado. Este documentário interpretou mal a posição do Papa sobre as uniões civis. O Vaticano demorou a responder, mas agora temos uma versão oficial do esclarecimento que eles ofereceram. Pule para a segunda seção se você já conhece o contexto.

 

RECAPITULANDO

 

Em primeiro lugar, um pouco do histórico pode ser encontrado em meus dois artigos anteriores. Este documentário tinha um monte de clipes de falas do Papa retirados do contexto e reagrupados para soar como algo completamente diferente do que ele disse. O Papa Francisco falou sobre como os pais não devem expulsar os filhos de casa pelo fato de eles terem uma “orientação homossexual”. Isso está de acordo com a caridade cristã e com o amor paterno. Ao fazer essa descrição, Francisco disse que eles “têm o direito de fazer parte de uma família”. O contexto torna flagrantemente óbvio que aquela fala se tratava de pais e irmãos, não de uma simulação de casamento. A segunda coisa que o Papa Francisco disse é que as uniões civis forneceriam a proteção que as pessoas buscam por meio de “casamentos gays”, mantendo o casamento apenas para ser celebrado entre um homem e uma mulher. Francisco disse: “É uma inconsistência falar de casamento homossexual”. Logo em seguida apontou uma alternativa preferível: “Mas o que devemos  ter é uma lei de união civil, para que [essas pessoas] tenham o direito de estar legalmente amparadas”. No entanto, o documentário cortou apenas a última parte para dar uma falsa impressão. As uniões civis são propostas somente como uma alternativa preferível ao “casamento gay”. Os católicos têm a possibilidade de discordar prudentemente dessa estratégia.

Em meu primeiro artigo sobre tal declaração, demonstrei que essas são posições que Francisco assumiu ou sugeriu anteriormente.

 

NÚNCIO (VATICANO) FAZ NOVA DECLARAÇÃO

 

O Núncio Arcebispo Christophe Pierre escreveu uma breve introdução seguida de uma declaração oficial do Vaticano [O comentário da Declaração do Núncio em Português você encontra clicando aqui]. Vou citar algumas linhas e oferecer algumas notas.

 


Arcebispo Christophe Pierre
Foto com Licença Livre

 

Há mais de um ano, durante uma entrevista, o Papa Francisco respondeu a duas perguntas distintas em momentos diferentes que, no referido documentário, foram editadas e publicadas como uma única resposta sem o contexto necessário, o que tem resultado em confusão.

 

Observei que isso se deu em uma entrevista de TV transmitida no México nos dois artigos anteriores e resumi acima. Em seguida, a declaração assume as duas perguntas da entrevista.

 

AQUELAS PESSOAS QUE MANTÊM RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS NÃO DEVEM SER REJEITADAS

 

Para a primeira pergunta, cita Amoris Laetitia 250:

 

Durante o Sínodo, discutimos a situação das famílias cujos membros incluem pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo, uma situação nada fácil nem para os pais nem para os filhos. Gostaríamos, antes de tudo, de reafirmar que toda pessoa, independentemente de sua orientação sexual, deve ser respeitada em sua dignidade e tratada com consideração, evitando cuidadosamente ‘todo sinal de discriminação injusta’, especialmente qualquer forma de agressão e violência.

 

Isso parece concordar com o Catecismo sobre NÃO discriminar alguém por causa de sua orientação sexual.

 

AS UNIÕES CIVIS SÃO PREFERÍVEIS AO “CASAMENTO GAY”

 

A segunda pergunta merece uma pequena investigação.

 

Uma pergunta posterior dessa entrevista referia-se antes a uma lei local de dez anos atrás na Argentina, relativa aos casamentos de casais do mesmo sexo que se encontravam em situação irregular e à oposição do então arcebispo de Buenos Aires a ela. A esse respeito, o Papa Francisco afirmou que “é incoerente falar de casamento homossexual”, acrescentando que, em um contexto tão preciso, havia falado do direito dessas pessoas à cobertura legal: “Devemos criar uma lei com respeito a uniões civis: essas pessoas têm o direito de ser protegidas legalmente. Eu tenho defendido isso.”

 

Isso é o que foi dito acima, que o Papa Francisco não apoiava as uniões civis, mas as considerava um compromisso com o qual ele poderia conviver na qualidade de arcebispo, o que seria mais preferível do que ver seu país aprovar o “casamento gay”. O Núncio continua:

 

Durante uma entrevista de 2014, o Santo Padre se expressou da seguinte forma: “O casamento é entre um homem e uma mulher. Os Estados laicos querem justificar as uniões civis para regularizar as diversas situações de coabitação, movidos pela necessidade de regulamentar as questões econômicas entre as pessoas, como a garantia de cuidados de saúde, por exemplo. São várias as formas de acordo de coabitação, de maneira que não poderiam ser enumeradas. As diferentes situações devem ser examinadas e avaliadas, de acordo com suas circunstâncias”.

Portanto, é claro que o Papa Francisco se referia a disposições particulares do Estado, e não certamente à doutrina da Igreja, que foi reiterada por ele em inúmeras ocasiões ao longo dos anos.

 

Isso parece concordar com o que eu estava dizendo desde o início, mas que infelizmente a mídia deixou passar. O Papa Francisco aprova as uniões civis no lugar do casamento gay de maneira não absoluta. Além do mais, isso é simplesmente uma questão de lei estadual, enquanto as regras da Igreja, que são baseadas na lei natural, permanecem.

 

CONCLUSÃO

 

Ao chegarmos ao final desta saga, espero que algumas lições possam ser aprendidas.

 

  1. Em primeiro lugar, por parte dos meios de comunicação e dos teólogos católicos: temos a responsabilidade de buscar o contexto e esclarecer as situações de modo que outros possam entendê-las. Esta não é a primeira vez que a mídia católica é cúmplice da deturpação intencional do Papa Francisco.

  2. Em segundo lugar, por parte do Vaticano: por favor, fiquem mais atentos e façam uma declaração o mais rápido possível quando algo dessa natureza for divulgado. O Pe. James Martin, da Companhia de Jesus, disse na CNN que tinha visto o vídeo de antemão e sabia que esta frase merecia uma nota explicativa. Eu suponho que essa lição é para você também. Você poderia ter pedido uma alteração no vídeo para fornecer um contexto melhor. Ou ter preparado o contexto e tal explicação de modo a sair mais rapidamente. Gerard O’Connell, um dos principais repórteres de Roma, só recebeu a mensagem no sábado, quando a notícia foi divulgada na quarta-feira, e essa notificação foi divulgada cerca de duas semanas após já ter passado a sequência de notícias sobre o tema.

  3. Por fim, eu sugeriria à mídia secular que buscasse pessoas de dentro da organização noticiada para que essas explicassem os comentários de alguém da organização. Não recebi nenhuma ligação da mídia, apesar de minha postagem inicial sobre o tema ter se tornado viral. Não somente eu, mas posso pensar em cerca de uma dúzia de católicos públicos que possuem relevância, os quais provavelmente teriam ajudado se apenas os procurassem em lugares óbvios como na mídia social católica. Levei um dia para escrever porque escrevi um artigo mais longo e queria que um amigo o revisasse antes de publicar. Todos nós podemos fazer melhor.

 

Tradução de Kertelen Ribeiro

Texto Original: Nuncio Further Clarifies Pope on Civil Unions

Todos os direitos reservados a  PE. MATTHEW P. SCHNEIDER

 

Foto de Ashwin Vaswani na Unsplash

 

 

Picture of Pe Matthew P. Schneider

Pe Matthew P. Schneider

Pe Matthew P. Schneider é o autor de "Through Catholic Lenses" onde busca decifrar as notícias através das doutrinas da fé católica. É um sacerdote membro dos Legionários de Cristo e atualmente vem se aprofundando mais e mais no estudo da teologia, bem como fazendo alguns trabalhos de modo a servir a sua comunidade.

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Pe Matthew P. Schneider

Pe Matthew P. Schneider é o autor de "Through Catholic Lenses" onde busca decifrar as notícias através das doutrinas da fé católica. É um sacerdote membro dos Legionários de Cristo e atualmente vem se aprofundando mais e mais no estudo da teologia, bem como fazendo alguns trabalhos de modo a servir a sua comunidade.

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