Claro que não! Somos salvos por Cristo e libertos da condenação eterna, que é o Inferno. É Jesus quem nos livra do pecado, a pena eterna já não nos afeta. Todavia, todo pecado tem consequência, ou seja, há sempre uma pena temporal a ser paga por nossos pecados. A pena eterna já não existe, mas resta a pena temporal, pena esta que pode ser removida com penitências, obras de caridade, orações, etc. A questão é que muito dificilmente alguém consegue se livrar de todas essas penas temporais ainda em vida, logo, ainda restam penas a serem pagas após a morte, ou seja, no Purgatório, antes da entrada no Céu. Essas penas temporais são uma maneira de Deus nos santificar e de nos reordenar ao nosso estado anterior, antes do pecado cometido. Elas começam em vida e decorrem do fato de que Cristo prometeu nos purificar (1João 1:9) de toda injustiça para nos apresentar a Seu Pai sem mácula. (Efésios 5, 26-27) Veja mais sobre o tema aqui.
O purgatório não é uma segunda chance de salvação
Isso nos leva a outra questão! As Sagradas Escrituras nos dizem de forma clara que após a morte segue-se o juízo (Hebreus 9, 27). O purgatório não é segunda chance, a salvação deve ser buscada em vida. O que chamamos de Purgatório é uma purificação final daqueles que já estão salvos, mas, que não estão de todo limpos das mazelas do pecado em razão de apegos às coisas criadas. O Catecismo da Igreja Católica nos diz isso de forma objetiva:
“Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu.”
(CIC, 1030)
Fica evidente que aqueles que estão no purgatório já estão salvos. O próprio Santo Agostinho tratou de esclarecer esse ponto, ao dizer que apenas alguns mortos se beneficiariam das esmolas, sufrágios, missas e orações feitas pelos vivos em seu favor, isto é, apenas aqueles que puderam alcançar essa situação em vida:
“Mas pelas orações da santa Igreja, pelo sacrifício salvífico [a Missa], e pelas esmolas que são dadas em favor de seus espíritos, não há dúvida de que os mortos são ajudados, para que o Senhor possa lidar com eles com mais misericórdia do que merecem os seus pecados. Toda a Igreja observa esta prática que foi transmitida pelos Padres: de rezar por aqueles que morreram na comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo, quando são comemorados em seu próprio lugar no sacrifício [missa]; e o sacrifício é oferecido também em memória deles, em seu nome. Se, portanto, as obras de misericórdia são celebradas por aqueles que estão sendo lembrados, quem hesitaria em recomendá-las, em nome de quem as orações a Deus não são feitas em vão? Não há dúvida de que tais orações são benéficas aos mortos; todavia, àqueles que viveram antes da morte de tal maneira que tornaram possível que essas coisas lhes fossem úteis após a morte”.
Santo Agostinho, Sermões 172:2, ano 411 d.C.
O Purgatório, portanto, não tem a ver com condenação ou salvação, mas sim com um aperfeiçoamento da pessoa antes de entrar na glória eterna, pois no Céu não entra pecado (Apocalipse 21, 27). Por essa razão, os que afirmam que o Purgatório se trata de uma segunda chance ou que anula o sacrifício de Cristo estão apenas atacando um espantalho que eles próprios criaram.




