O Surpreendente Argumento de C.S. Lewis que serve como Defesa do Papado

Joe Heschmeyer

Joe Heschmeyer

Um dos poucos teólogos modernos reverenciados por católicos, protestantes e mórmons é CS Lewis (1898-1963). Embora o público secular o conheça melhor por sua  série  Chronicles of Narnia, talvez sua maior obra seja Mere Christianity [Br: Cristianismo Puro e Simples], na qual ele se esforçou para reintroduzir uma Grã-Bretanha em rápida secularização ao Senhor Jesus Cristo. Há uma seção fascinante (e controversa) no livro em que ele defende a permanência do casamento… e depois a liderança masculina. Ele introduz o tópico desta forma:

 

Até aqui, tratamos da doutrina cristã sobre a permanência do casamento. Mas ainda precisamos tratar de outro assunto , este ainda menos popular. As wsposas cristãs prometem obedecer a seus maridos, e, no casamento cristão, diz-se que o homem deve ser o “cabeça”. Duas questões obviamente emergem daqui: (1) Por que há a necessidade de haver um cabeça — por que não a igualdade? (2) Por que essa função familiar deve ser do homem?

 

É a primeira dessas questões que nos interessa aqui, porque ele mostra a necessidade de uma única cabeça da seguinte maneira:

 

A necessidade de um cabeça decorre da ideia de que o casamento é permanente. É claro que, enquanto o marido e a esposa estiverem de acordo, nenhuma questão com respeito a um cabeça precisa surgir; e podemos esperar que seja esse o estado normal das coisas em um casamento cristão. Mas o que fazer quando há um desacordo real? É evidente que se deve conversar sobre isso; mas estou assumindo que eles fizeram isso e ainda assim, falharam em chegar a um acordo. O que eles fazem em seguida? Eles não podem decidir por voto majoritário, pois em um conselho de dois, não pode haver maioria. Certamente, apenas uma ou outra de duas coisas pode acontecer: ou eles devem se separar e seguir seus próprios caminhos ou então um deles deve ter o voto de desempate. Se o casamento for permanente, uma ou outra parte deve, em última instância, ter o poder de decidir a política familiar. Você não pode ter uma associação permanente sem uma constituição.

p. 155

 

Lewis, como anglicano, certamente nunca pretendeu fazer disso uma defesa ao papado, mas veja como o argumento funciona perfeitamente dessa maneira. A analogia entre casamento e Igreja não é um exagero. Grande parte da doutrina cristã do casamento deriva de Efésios 5, em que São Paulo compara o casamento à união entre Cristo e a Igreja. E, como o casamento, a Igreja deve ser uma união para a vida inteira. Cristo promete que “as portas do inferno” nunca destruirão a Igreja (Mateus 16:17-19), e ora por Seus futuros seguidores (isto é, você e eu) para que estejamos totalmente unidos (João 17:20-23):

 

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que crêem em mim por meio da sua palavra, para que todos sejam um; assim como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. A glória que me deste, eu dei a eles, para que sejam um, assim como nós somos um, eu neles e tu em mim, com o fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste assim como me amaste.

 

Jesus Cristo, o Noivo Divino, é o cabeça da Igreja, Sua Noiva. Este é o modelo para toda a cristandade, e até mesmo para cada família individual, a chamada “Igreja doméstica”. A liderança do marido sobre a Igreja doméstica é modelada a partir da liderança de Cristo sobre a Igreja cósmica (Efésios 5:25-27): “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, tendo-a purificado por meio da lavagem de água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Mas, da mesma forma, a liderança do bispo sobre a Igreja local, e a liderança do papa sobre a Igreja global são igualmente modeladas a partir da liderança de Cristo. E assim, Santo Inácio de Antioquia, um discípulo do apóstolo João, escreve aos trallianos por volta do ano 107 d.C. para elogiá-los por respeitarem a liderança singular do bispo:

 

Pois, uma vez que vocês estão sujeito ao bispo tal como a Jesus Cristo, vocês vivem não segundo a maneira dos homens, mas de acordo com Jesus Cristo, que morreu por nós, para que, crendo em Sua morte, vocês possam escapar da morte. É, portanto, necessário que, como vocês observam, sem o bispo não façais coisa alguma, mas também estejam sujeitox ao presbitério, como ao apóstolo de Jesus Cristo, que é nossa esperança, no qual, se vivermos, seremos [finalmente] encontrados. É apropriado também que os diáconos, como sendo [os ministros] dos mistérios de Jesus Cristo, sejam em todos os aspectos agradáveis ​​a todos.

 

Santo Optato de Milevis ressalta (escrevendo em meados dos anos 300) que essa necessidade de liderança se estende não apenas à família ou à Igreja local, mas também à Igreja global, e que foi por essa razão que o Senhor estabeleceu o papado:

 

Então, provamos que a Igreja Católica é a Igreja que está espalhada por todo o mundo. […] Você não pode negar que sabe que a Pedro, o primeiro, na Cidade de Roma, foi concedida a Cátedra Episcopal, na qual se sentou Pedro, o Cabeça de todos os Apóstolos (por essa razão ele foi chamado Cefas), que, nesta Cátedra, a unidade deve ser preservada por todos, para que os outros Apóstolos não reivindicassem — cada um por si — Cátedras separadas, de modo que aquele que estabelecesse uma segunda Cátedra contra essa Cátedra única já seria um cismático e um pecador. Bem, então, na Cátedra única, que é a primeira das Dotações, Pedro foi o primeiro a se sentar.

 

O ponto de Optatus é praticamentte idêntico ao de Lewis. A liderança masculina não é baseada na ideia de que as mulheres são de alguma forma inferiores aos homens, mas na ideia de que há a necessidade de alguém ter a autoridade final na tomada de decisão. Se o casal deve ser Um para a vida toda, há a necessidade de um único indivíduo ter a autoridade final. Isso não é menos verdadeiro para a Igreja. Caso contrário, você acaba com disputas intermináveis, seja com o divórcio (no caso de casamentos) ou com cismas (no caso da Igreja). Este, é claro, tem sido precisamente o caso do protestantismo: uma necessidade sentida de abraçar continuamente a heresia ou o cisma. E o remédio aqui é exatamente o que Lewis estabelece: um retorno a uma compreensão bíblica do que constitui de fato a liderança.

 

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Joe Heschmeyer

Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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Nativo de Kansas City, Joe Heschmeyer é um apologista da equipe do Catholic Answers. Sendo autor, palestrante, blogueiro e podcaster popular, ele ingressou no apostolado em março de 2021, após três anos como instrutor na Holy Family School of Faith em Overland Park, Kan. Atuou como advogado em Washington, D.C., recebeu seu título de Juris Doctor pela Georgetown University em 2010, depois de se formar em história pela Topeka's Washburn University. Mantém parceria agora como colaborador regular do site Catholic Answers, mas também teve uma atuação ampla na apologética antes disso, com um blog em seu próprio site chamado “Shameless Popery”. Até o momento, ele é autor de quatro livros, incluindo Pope Peter e The Early Church Was the Catholic Church.

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