Pelo que me parece, os críticos da alegada infalibilidade e indefectibilidade da Igreja católica têm de pelejar por uma destas duas coisas:
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Deus é incapaz de preservar a doutrina cristã do erro ao longo da história humana, por meio e através de homens (destituídos de Seu auxílio) caídos , imperfeitos, falíveis e de uma Igreja imperfeita dirigida por homens pecadores.
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Deus obviamente era capaz de fazer isso se quisesse, mas Ele escolheu (mesmo sendo onipotente) não fazê-lo.
Caso você escolha a opção 1, por que você acredita nisso? É porque você nega a onipotência de Deus? Se a sua escolha for a 2, então por que você acha que Deus não preservaria a verdadeira teologia da corrupção, sobretudo à luz do ensino bíblico de que o Espírito Santo nos guiará à plenitude da Verdade? (Jo 16,13)
Tal preservação da Sua Igreja é função da onipotência divina, como é indicado nas Escrituras, estando tal doutrina em harmonia com aquilo que vemos Deus realizar, e envolve algo da mais alta importância para o bem das almas. O meu argumento aqui é basicamente uma sutil variação do reductio ad absurdum: um exercício de consistência lógica combinado às informações de que dispomos a partir da revelação que tanto católicos como protestantes têm em comum. E, como sempre, estou analisando as premissas, pois penso que elas não foram analisadas suficientemente neste caso. De qualquer forma, se admitirmos que Deus permite o erro, quanto do erro Ele permite? Por acaso Deus se afasta certa distância de nós e então nos deixa por conta própria? Não foi essa a opinião do Concílio de Jerusalém (tampouco a de São Paulo). Não havia nenhuma incerteza, e “pareceu bom ao Espírito Santo e a nós” (Atos 15,28). Todavia, isso foi antes da época em que as divisões e as denominações tinham de ser racionalizadas, como algo vagamente embasado nas Sagradas Escrituras.
Costumo comparar uma Igreja infalível com a Bíblia inspirada e infalível, porque a maioria dos cristãos ortodoxos, ao longo da história, sempre mantveram uma visão muito elevada das Escrituras. E Deus fez a Bíblia através das mãos de homens pecadores, então surge a pergunta: “Por que com a doutrina e com os credos isso seria diferente?” É uma pergunta muito séria (e acredito que também importante). Não a vejo como mera epistemologia; mas, antes, como uma questão de confiança em Deus e de aceitação daquilo que parece bastante óbvio (pelo menos para mim) nas Escrituras; ou melhor, trata-se de uma questão de revelação, a qual existe à parte de uma necessária lógica epistemológica. Nós aceitamos o que é dito pela fé. Pode-se dizer que se trata também de hermenêutica, posto que aquilo que eu vejo na Bíblia é perfeitamente harmonioso com a noção de uma Igreja investida de autoridade e preservada do erro.
Tradução de Kertelen Ribeiro
Texto Original: Does God Protect His Church from Doctrinal Error?
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