A Eclesiologia Católica e as Críticas de Juan Oliveira

Elton Jonatas

Elton Jonatas

O presente artigo visa a fazer ponderações a algumas aulas do curso ” Refutando o catolicismo Romano”; tal curso foi ministrado pelo apologista protestante e anticatólico Juan Oliveira. Desejo ardentemente que todos aqueles que tiverem acesso a esse artigo, sejam iluminados pelo Espírito Santo – que conduz à toda verdade. Meus objetivos:

 

1) Expor a Doutrina –  Como fiel católico, desejo expor a verdade sobre a fé que professo; infelizmente, constatei que o Juan Oliveira proferiu alguns equívocos graves sobre a fé católica.

2) Desfazer certas confusões sobre o Catolicismo – Venho aqui, pois, corrigir os erros publicamente.

3) Demonstrar cordialidade e caridade no trato com as pessoas que pensam diferente de mim ao tratar de tais temas – Não pretendo ser ácido na apologética, mas, pelo contrário, apesar das minha limitações, quero seguir o conselho Bíblico: “[…] Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.” ( 1 Pedro 3,15).

 

A Eclesiologia Católica

 

O Juan Oliveira argumenta, partindo do texto de 1 Coríntios 3,16, que nosso corpo é templo do Espírito Santo e consequentemente igreja.

Respondendo: em 1 Coríntos capítulo 3 são Paulo expõe a verdadeira função dos pregadores e que a obra de cada um de nós será provada pelo fogo; segue-se o versículo mencionado pelo

Juan Oliveira: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” Templo de Deus é sinônimo para Igreja? Na mesma carta do Apóstolo são Paulo, é dito novamente que somos “templo do Espírito Santo”. Vamos ao texto: “Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habi-ta em vós, o qual recebes-tes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (1 Coríntos 6, 18-20). Percebemos que “templo do Espírito Santo ” aplicado aos fiéis batizados, não é um termo de eclesiologia, mas sim da dignidade do cristão, que nesse contexto, não deve usar o corpo para o pecado. Não podemos concluir que “Templo do Espírito Santo” se refere estritamente a Igreja; mas sim a dignidade moral e que somos chamados a praticar boas obras ( como “pedras vivas ” que somos. Cf 1 Pedro 2,5).

 Enquanto batizados, fazemos parte da Igreja, evidentemente! Todavia, é substancial a comunhão entre os batizados para falarmos de Igreja; essa comunhão é espiritual e visível. O Novo Testamento colabora para o que estou argumentando: “Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos[…]” (1 Coríntos 12,27-28) em Colossenses 1,18 é dito que Jesus Cristo é o cabeça da Igreja, ficando nítido que a Igreja não é uma instituição meramente humana. 1 Coríntos 3,16 deve ser compreendido a luz dos textos bíblicos aqui mencionados. Concluímos que jamais são Paulo ensinou que os cristãos individualmente são Igreja sem a necessidade da comunhão com uma estrutura física e espiritual.

Antes de retornar a análise de outros textos bíblicos que o Juan menciona em sua

argumentação, cabe citar essa estranha hipótese: “Após Teodósio quem iria confrontar a Igreja Romana? (Faz um gesto de corte no pescoço)”

O imperador Teodósio I de fato foi o responsável por oficializar a fé católica como religião  do

Estado. Teodósio I foi imperador de 379 até 395. Seguindo a linha de raciocínio do Juan Oliveira, os cristãos começaram a ter medo do Estado a ponto de negar a sua fé só a partir daí, sendo esse um fato determinante para a hegemonia católica. Então por que os arianismo não prevaleceram? Vale lembrar que a crise ariana foi uma das maiores ( senão a maior) crise da história da Igreja. Uma série de conciliábulos, perseguições, pressão de líderes cívicos etc para alterar a fé católica de que Jesus Cristo é Deus consubstancial ao Pai. Santo Atanásio de Alexandria é o exemplo mais claro da dura perseguição do Estado contra a fé proclamada em Nicéia I e depois em Constatinopla I (ambos concílios ecumênicos). Podemos dizer que por longas décadas, a heresia ariana foi a “religião oficial” do Estado. Logo, é incoerente citar uma decisão do Estado cívico como algo determinante para fazer prevalecer a heresia sobre a ortodoxia.

O Juan Oliveira citou o texto de Mateus 18,20: “Pois onde  dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.”

Vamos ao cometário de são Cipriano (258 d.C) “Eles pensam que o Cristo estará com eles quando estiverem reunidos, como pode haver reunião fora da Igreja de Cristo?… Não há mártir que não esteja na Igreja… Eles não podem permanecer com Deus se não tiverem uma só mente na Igreja de Deus. Ele não está falando de pessoas não batizadas. Ele se refere aos cismáticos batizados que ‘saíram de nós, quando heresias e cismas nasceram mais trade’. Ele sabe que tais pessoas têm seus próprios conventículos separados e apelam para as palavras de nosso Senhor: ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome’; mas, diz ele, ‘o Senhor fala de sua Igreja e para aqueles que estão em sua Igreja. É por isso que suas palavras não se aplicam aos cismáticos que romperam a comunhão com a única sociedade.”

(Fonte:Cypr., De cath. eccl. unitate, 13-14 (C.S.E.L. III, 222), Ibid., 12, p. 220 e Ibid., pp. 220-21).

O catecismo da Igreja Católica também explica esse texto bíblico de Mateus 18,20:

“«Para realizar tão grande obra» – como é a dispensação ou comunicação da sua obra de salvação – «Cristo está sempre presente na sua igreja, sobretudo nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – “o que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu outrora na Cruz” – quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com a sua virtude nos sacramentos, de modo que, quando alguém baptiza, é o próprio Cristo que baptiza. Está presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta os salmos, Ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou Eu, no meio deles” (Mt 18, 20)» (6).”

(CIC § 1088)

Ou seja: a promessa de nosso Senhor se refere a sua Igreja! Não aos grupos que romperam com a sociedade visível deixada pelo Senhor. Não tem cabimento mencionar Mateus 18,20 para legitimar o desmembramento em vários grupos (“igrejas”), daqueles que se dizem cristãos. Outra  recomendação de leitura que faço, para melhor compreender a realidade da Igreja, que é corpo místico de Cristo, é o documento “Mystici Corporis” do Papa Pio XII (disponível gratuitamente no site do Vaticano).

A Igreja fundada por Jesus possuí quatro marcas:Una, Santa, Católica e Apostólica. Todas as comunidades citadas no Novo Testamento, tinham essas quatro marcas. Os atributos da autoridade e infalibilidade, são decisivos para a eclesiologia: “De igual modo, o católico segue tanto a razão como a fé quando aceita a doutrina da infalibilidade. Este atributo significa simplesmente que a Igreja (seja na pessoa do Papa ou de todos os bispos juntos sob o Papa) não pode errar quando proclama solenemente que certa matéria de fé ou de conduta foi revelada por Deus e deve ser aceita e seguida por todos. A promessa de Cristo: Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo (Mt 28,20), não teria sentido se a sua Igreja não fosse infalível. Cristo certamente não estaria com sua Igreja se lhe permitisse cair em erro em matérias essenciais à salvação.” (A fé explicada. Pg, 167. Leo J. Trese)

Agora vamos tratar sobre a sede da Igreja, que é  Roma. É de Roma  que os sucessores de São Pedro (por ser o local do seu martírio) governam toda a Igreja. O Juan por algumas vezes menciona que tanto o nome: “Igreja Católica Apóstolica Romana” é uma invasão tardia e que “Papa” era um título comum a todos patriarcas até por volta do século VI. Ambas afirmações são verdadeiras! O que não implica que a realidade existia antes da nomenclatura. Por exemplo: até hoje dois dos três patriarcas do Egito são chamados de “Papa”; até hoje rezamos no credo niceno-constantinopolitano: creio na una, santa, católica e apostólica […]. Se o Juan conhece esses fatos, evitaria muito da sua argumentação. O Juan Oliveira diz que são Leão Magno foi o primeiro Papa aos moldes atuais da Igreja Católica. Vamos a alguns Papas anteriores a são Leão Magno, que comprovam que o pastoreio universal do bispo de Roma vem do próprio Senhor:

Século IV: sínodo de Sérdica, pelo ano de 343, diz que o bispo de Roma é o tribunal final de apelação – inclusive para outros bispos -. (DS. 133-135)

Século III: papa Estevão I, em 256 o Papa manda uma carta aos bispos da Ásia menor. Nessa carta o Papa tinha ameaçado os bispos da Cilícia, da Capadocia, da Galácia e das províncias circunjacentes de romper comunhão com eles porque rebatizavam os hereges. (DS. 111)

Século II: papa são Vitor I (189-199) segundo Eusébio, ele entendia que a excomunhão de si mesmo significava a excomunhão de toda a Igreja. (Eus. HE V, 24,9.)

Século I. Papa São Clemente Romano I(92-101): “Nós vos escrevemos tudo isso para vos advertir” (Cap.7, n.1); “Mas se alguns não obedecerem àquilo que por ele [Cristo] é dito através de nós, saibam que serão implicados numa culpa e num perigo não pequeno; nós, porém, seremos inocentes desse pecado.” (Cap. 59, n. 1-2)

Ambas citações são da carta aos coríntios.

Da mesma forma que os atuais patriarcados, arquidioceses, dioceses, ordens religiosas etc, não são contrários a uma única Igreja Católica, o mesmo se dá com as comunidades descritas no Novo Testamento.

 

Foto de Fr. Barry Braum na Unsplash

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Elton Jonatas

Eu venho de família não católica; fui batizado em 2016 com 21 anos de idade, depois de ter passado pelo agnosticismo, ateísmo militante e pelo IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Sou casado desde outubro de 2020 e até o momento, fui agraciado com dois filhos.

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Eu venho de família não católica; fui batizado em 2016 com 21 anos de idade, depois de ter passado pelo agnosticismo, ateísmo militante e pelo IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Sou casado desde outubro de 2020 e até o momento, fui agraciado com dois filhos.

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