O presente artigo visa a fazer ponderações a algumas aulas do curso ” Refutando o catolicismo Romano”; tal curso foi ministrado pelo apologista protestante e anticatólico Juan Oliveira. Desejo ardentemente que todos aqueles que tiverem acesso a esse artigo, sejam iluminados pelo Espírito Santo – que conduz à toda verdade. Meus objetivos:
1) Expor a Doutrina – Como fiel católico, desejo expor a verdade sobre a fé que professo; infelizmente, constatei que o Juan Oliveira proferiu alguns equívocos graves sobre a fé católica.
2) Desfazer certas confusões sobre o Catolicismo – Venho aqui, pois, corrigir os erros publicamente.
3) Demonstrar cordialidade e caridade no trato com as pessoas que pensam diferente de mim ao tratar de tais temas – Não pretendo ser ácido na apologética, mas, pelo contrário, apesar das minha limitações, quero seguir o conselho Bíblico: “[…] Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.” ( 1 Pedro 3,15).
Bíblia Católica ou Protestante?
Na primeira aula do curso “Refutando o catolicismo Romano “, o Juan Oliveira expõe uma má apologética católica: justificar o cânon bíblico da Igreja Católica por meio da Septuaginta. O motivo dessa apologética de muitos católicos bem intencionados ser falha, é que algumas versões da Septuaginta (tradução para o grego da Escritura feita por cerca de 70 sábios judeus no século II a.C) possuem uma lista diferente da bíblia católica. Então vamos lá: aceitamos a lista bíblica do cânon católico *não* por uma suposta autoridade da Septuaginta; mas pela autoridade de Jesus Cristo confiada à Igreja (Mateus 16,18-19. 18,17; 1 Timóteo 3,15 etc.).
Consequentemente, pouco nos importa o consenso dos judeus sobre o cânon do Antigo Testamento. O Juan diz que Flávio Josefo testifica que quatro séculos antes de Cristo, os judeus já tinham um cânon fechado. Vamos ao período do ministério de Cristo: os saduceus só tinham a Torá. Aqui já fica evidenciado que não existia um consenso universal dos judeus sobre a lista dos livros bíblicos. A própria Septuaginta é prova disso, já que possuía listas diferentes ( como o próprio Juan admite em sua argumentação). Trago a enciclopédia judaica que colabora com a minha exposição:
“Por outro lado, existem fartas evidências que mostram que a coleção do Ketuvim como um todo, bem como alguns livros individuais dentro dele, não foram aceitos como sendo finalmente fechados até meados do século II d.C.”
(Fonte: Enciclopédia Judaica, Vol. 3, página 578)
E para finalizar Albert C. Sundberg, Jr, *estudioso protestante*,dá mais provas de que os judeus não estavam resolvidos a respeito do cânon, e que consideravam Eclesiástico, por exemplo, como Escritura:
“Há evidências de um uso continuo dessa literatura apócrifa na literatura rabínica de épocas posteriores. Siraque [Livro de Eclesiástico] é citado três vezes no Talmude como Escritura.”
(Fonte:The Old Testament of the Early Church)
Aqui tenho por encerrado essa fantasia do consenso judaico antes de Cristo, que supostamente atestaria a lista do Antigo Testamento das bíblias protestantes atuais. Mais adiante o Juan diz que somente na contrarreforma (concílio de Trento. 1545-1563) é que os livros deuterocanônicos foram inclusos de forma universal na bíblia católica. Tal afirmação é historicamente falsa. Não é estritamente necessário um concílio ecumênico ou a proclamação de um dogma para definir algo na fé católica. Existe o consenso dos pais da Igreja, consenso dos teólogos e do povo de Deus no geral. Mas vamos satisfazer a aparente exigência: um concílio ecumênico antes da Reforma Protestante que traz os livros do cânon católico. Florença (1440 d.C), documento: “Decretum pro laçobitis (ex Bulla << Cantate Dominó >> , 4 Fev. 1441) apresenta exatamente a mesma lista da Bíblia Católica de hoje. Outros concílios ecumênicos anteriores mencionam ao menos um dos livros Deuterocanônicos como Escritura Sagradas: Laterano IV (1215 d.C) seção 70; Constatinopla IV (869 d.C) Cânon X; Nicéia II (783 d.C) cânon: XVI e cânone I confirmou o Concílio de Cartago (regional) no seu primeiro cânone. Poderia ainda citar Trullo (692 d.C) regional, Éfeso (431 d.C) Ecumênico etc. Que colaboram com a lista católica da Bíblia.
SANTO ATANÁSIO
O Juan Oliveira menciona santo Atanásio e são Jerônimo como pais da Igreja que não aceitavam os livros Deuterocanônicos como sendo Sagrada Escritura. Será que isso é verdade? Vale destacar que quando não há uma definição na Igreja Católica, os teólogos possuem certa liberdade de especulação. Logo, alguns santos padres não tinham acesso à lista universal e oficial da bíblia, pois ela ainda não existia. Todavia, podemos provar que santo Atanásio considerava o livro de Sabedoria como de autoria de um profeta ( fonte: Salmo 118- carta 19,8 e Trat. no Salmo 118,8). O livro de Baruc também é considerado Sagrada Escritura por santo Atanásio (39 Epístola Gestão de 367. Antanásio, 367).
SÃO JERÔNIMO
De fato, são Jerônimo teve um período de resistência aos Deuterocanônicos; porém, esse período não resume a sua vida e foi posteriormente superado pelo santo doutor. Segundo J.N.D Kelly:
“Em outros lugares, embora admitindo que a Igreja lê livros como Sabedoria e Eclesiástico que são estritamente não canônicos, ele insiste na sua utilização somente ‘para edificar o povo, não para a comprovação das doutrinas da Igreja ‘. *Esta foi a atitude que, com concessões temporárias por razões táticas ou outras, ele manteve para o resto da sua vida – na teoria pelo menos, pois na prática ele continuou a citá-los como se fossem Escritura.”
(Kelly, 2000)
Vamos às fontes primárias:
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na Carta 65, 1 – A Principia. São Jerônimo admite a inspiração do livro de Judite;
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na Carta 148,18, admite Eclesiástico como Escritura; em “comentários sobre Jeremias”,
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Livro IV – 18,18, cita Sabedoria como “a Escritura diz:” etc.
A AUTORIDADE DOS JUDEUS
Juan traz à tona o texto de Romanos 9,4-5. 3, 1-2 para argumentar que os cristãos estão obrigados a aceitar a autoridade dos judeus nessa questão: “Em que, então, se avantaja o judeu? Ou qual é a utilidade da circuncisão? Muita, em todos os aspectos. Principalmente porque lhes foram confiados os oráculos de Deus.”
Mas quais judeus? Os saduceus tinham um cânon, os fariseus tinham outro e os judeus de língua grega, outro. O texto de Romanos 9,4-5 assim como 3,1-2 não se refere à autoridade para determinar a lista bíblica; mas ao fato de que foram confiados aos judeus os profetas que traziam os oráculos do Senhor. Mas tudo isso durou somente até a vinda de Cristo:
“Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas.” (Hebreus 1,1-2)
E esse Cristo nos fala não mais pelo povo judeu como era na Antiga Aliança; mas sim por aquele que é filho de Abraão em seu coração, isto é, a sua Igreja, na qual não há mais essa divisão entre judeu e grego (Gálatas 3,28). Talvez o Juan não saiba, mas das 227 edições da Bíblia entre 1632 e 1826, cerca de 40% das bíblias protestantes continham os Deuterocanônicos. A controvérsia dos deuterocanônicos se deu com maior impacto somente no início dos anos de 1800 com a sociedade bíblica inglesa. (Michuta, 2007).
AS SUPOSTAS “HERESIAS”
DEUTEROCANÔNICAS
Uma segunda aula, Juan Oliveira dedica para citar as “heresias” contidas nos livros deuterocanônicos.
Feitiços
Ele menciona Tobias 6,5-9 como contendo feitiçaria. Usar sinais externos para curas ou exorcismos, não constitui feitiçaria! Vale lembrar que o batismo contém um rito que envolve palavras e o uso de água (que é matéria). Jesus Cristo estaria ensinando “feitiçaria”? Em Atos 19,11-12, menciona-se que os lenços e aventais de São Paulo expulsava espíritos malignos; em 1 Samuel 16,23, o toque da harpa de santo Rei Davi liberava Saul de um espírito mau. O próprio Senhor Jesus realizou uma cura de um cego usando lodo feito a partir de sua saliva (João 9, 6-7). Concluímos que a orientação do anjo para usar um pedaço do coração de um peixe sobre brasas, não constitui “feitiçaria”. Trata-se apenas do uso de sinais sensíveis a nossa humanidade, isto é, matéria como meio de graça, para ir ao encontro da nossa natureza.
Esmolas
O Juan também cita Tobias 12,8-9: “Boa coisa é a oração acompanhada de jejum e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna;”
Segundo o apologista protestante, aqui o livro ensina que a esmola apaga pecado. Porém, o livro de Daniel ensina exatamente a mesma coisa que está em Tobias:
“Eis por que, ó rei, aceita meu conselho: repara teus pecados pelas obras de justiça e tuas iniquidades pela prática da misericórdia para com os pobres, a fim de que se prolongue a tua segurança. O sonho torna-se realidade.”
(Daniel 4,24)
O Senhor Jesus também defendeu a mesma doutrina quando disse:
“Porquanto qualquer um que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.”
(Marcos 9,41)
Dai, antes, esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo.
(Lucas 11,41)
Cremos no perdão e na salvação por Graça! Todavia, a graça incita a vontade do homem para as boas obras. Em Tiago 2,26, é dito que a fé sem obras é morta; em Apocalipse 20,12-13 diz que cada um será julgado segundo as suas obras. Concluímos que Tobias 12,8-9 está em concordância com as demais Escrituras.
Lendas
Minha última análise a um texto dos deuterocanônicos citados pelo Juan: Judite 8,5-6 – o Juan Oliveira argumenta que esse texto é lendário, pois diz que uma mulher jejuava todos os dias. Vamos ao texto:
“[…] e jejuava todos os dias, exceto nos sábados,
nas luas novas e nas festas do povo israelita.
(Citação de Judite 8,5-6).
Repare que a mulher não jejuava todos os dias da sua vida, como o Juan Oliveira deixa entender no seu curso. Outro destaque: o jejum israelita não constituía necessariamente não comer absolutamente nada; mas sim, por exemplo, se abster da comida comum diária. Lucas 2,36-37 diz que Ana era uma viúva que não se afastava do templo, “servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia.” Aqui fica demonstrado sem sobra de dúvidas, que Judite 8,5-6 não é fantasioso; só pode concluir isso quem não leu o texto e não compreende o jejum israelita.
Existem referências dentro do Novo Testamento aos livros deuterocanônicos. Alguns exemplos na bíblia protestante KJV versão de 1611:
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Hebreus 11,35 – 2 Macabeus 7,7;
Mateus 27,43 – Sabedoria 2,15-16;
Lucas 14,13 – Tobias 4,7;
Mateus 6,7 – Eclesiástico 7,14;
Lucas 6,31 – Tobias 4,15 etc.
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Para um maior aprofundamento, recomendo a leitura do livro: “Manual de defesa dos livros Deuterocanônicos” (Autor: Rafael Rodrigues). No Livro da Sabedoria, encontramos uma profecia incrivelmente detalhada sobre Jesus Cristo:
“Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai. Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência.Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir”.
(Sabedoria 2, 12-13.16-20)
Os livros deuterocanônicos são parte da Sagrada Escritura cristã autêntica! Quanta informação e edificação se perde por desprezar tais livros tão cheios de instrução cristã genuína.
CFoto de Aaron Burden na Unsplash




